Retrospectiva F1 2018: ‘Nova’ F1 esbarra em ano de altos e baixos, mas dá sorte com penta de Hamilton

Em uma temporada que pôs à prova o comando do Liberty Media, a F1 atravessou um 2018 de inovações, mas também de erros. Apesar da enorme distância entre as equipes do top-3 e o pelotão intermediário, a impecável forma de Lewis Hamilton emprestou brilho ao Mundial. E a grande perda foi a despedida de Fernando Alonso

2018 foi uma temporada em que a F1 viveu de fato sob um novo comando. Agora totalmente livre das amarras e exigências de Bernie Ecclestone, o Liberty Media trabalhou para dar uma identidade à sua administração e apresentar ao mundo uma categoria moderna e antenada, que busca a interação e os fãs mais jovens. Foi ainda no fim do campeonato passado que os norte-americanos – que concluíram a compra do Mundial em 2017 – decidiram mudar o logo da F1. As mídias sociais passaram a ter enorme peso na cobertura das corridas e, no início deste ano, durante os testes da pré-temporada, surgiu o F1 TV, o serviço de streaming da própria categoria, algo impensável nos tempos de Ecclestone, que sempre prezou pela tradição. A verdade é que o Liberty Media optou por uma abordagem agressiva, depois de um ano inteiro estudando o campeonato e conduzindo testes. 
 
Quem acompanhou pela TV, notou as alterações de imediato, seja pelo novo grafismo ou pela épica trilha sonora, como as melhores batalhas de ‘Os Vingadores’ e que embalou cada abertura de transmissão. Quem preferiu o F1 TV – ainda sem previsão de disponibilidade no Brasil – enfrentou problemas iniciais, mas que logo foram solucionados. O serviço, de fato, impressionou pela quantidade de informação levada ao espectador, em sua língua e com os mais diferentes ângulos de pista e carros. Só que a audiência geral no mundo caiu, muito em função dos canais pagos, mas o problema ainda é que o lado esportivo deixa a desejar, e este talvez seja o maior desafio dos americanos para os próximos anos. E uma prova disso se deu nos muitos reveses sofridos pelo Liberty nesta temporada, na tentativa de aprovar um regulamento diferente para 2021. Ainda não há um consenso, e o grupo norte-americano segue tendo dificuldades em se impor perante às equipes. 
A F1 TV (Foto: F1)

Ao fim e ao cabo, as novidades dividiram opiniões e estão longe de ser unanimidades. É certo dizer que ainda há um longo caminho a se percorrer na relação F1-público. E que 2018 foi só a ponta do iceberg.  
 

Isso porque a temporada, uma vez mais, viu uma gritante disparidade técnica entre as equipes e que ajudou a puxar para baixo uma eventual nota para esse campeonato. Mercedes e Ferrari se isolaram na disputa pelo título – depois de um determinado ponto, a esquadra alemã nadou de braçada e tornou tudo ainda mais previsível. A escuderia italiana teve um ano para esquecer, marcado por erros de estratégia, seja na pista, seja na operação, e por trapalhadas inacreditáveis de seu principal piloto, Sebastian Vettel. Portanto, o campeonato que se desenhava acirradíssimo depois das primeiras corridas acabou desaparecendo, para a decepção geral. A Red Bull, renegada ao posto de terceira força, nunca esteve forte o suficiente para lutar com as duas ponteiras, mas viveu um ano digno, ao menos. 
 
O problema é que a diferença do top-3 para os líderes do pelotão intermediário ainda se configura em um abismo. A Renault terminou o campeonato a incríveis 297 pontos da Red Bull – se for falar da campeã Mercedes, a desvantagem sobe para 533 tentos. Ao longo da temporada, o grupo do meio do grid só obteve um pódio – aconteceu com Sergio Pérez, na confusa corrida em Baku, no Azerbaijão. 
 
Atrás da equipe francesa, apareceu a ótima Haas, que só não fez mais muito em função de sua errática dupla de pilotos. A Force India, agora Racing Point, até conseguiu se recuperar tecnicamente durante a temporada, mas a venda e a reestruturação sofrida a partir do segundo semestre a impediram de avançar. Quer dizer, mesmo compacto, o bloco do meio perdeu força neste ano, ainda que a Sauber tenha protagonizado um salto de qualidade de respeito, pautado pelas excelentes atuações do novato Charles Leclerc, alinhada ao comando firme do chefe Frédéric Vasseur. 
Daniel Ricciardo é uma das transferências mais surpreendentes (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
Já a Toro Rosso ficou na metade do caminho, trabalhando apenas como uma cobaia da Honda. O destaque negativo mesmo vai para as duas equipes inglesas mais tradicionais do automobilismo mundial: McLaren e Williams. Na esquadra de Woking, nem o genial Fernando Alonso conseguiu dar jeito. O cenário ficou tão absurdo que o espanhol acabou perdendo a motivação de seguir na F1 – certamente, a maior perda do ano no Mundial. Já o time de Grove foi um vexame. Optando por uma dupla inexperiente e pagante, a escuderia de Frank sofreu e voltou a viver seus piores anos. Fechou a temporada com míseros sete pontos, muito pouco para alguém que chegou a brilhar no top-3 em campeonatos recentes. 
 
Mas houve acertos. E um deles foi o halo. O arco introduzido sob o cockpit com a meta de melhorar a segurança do piloto causou estranheza quando surgiu na pré-temporada. Era reclamação de todo o jeito, desde a dificuldade de sair do carro a pouco estética conferido aos bólidos. Só que o recurso acabou se justificando, especialmente no acidente mais emblemático do ano, quando a McLaren de Alonso voou por cima da Sauber de Leclerc na largada do GP da Bélgica. A proteção também evitou danos maiores a Marcus Ericsson em um impressionante acidente durante o fim de semana da etapa italiana, em Monza. 
 
O ano também foi marcado por uma frenética dança das cadeiras no grid. O mercado de pilotos foi um dos mais agitados dos últimos tempos e registrou mudanças importantes. Para se ter uma ideia, apenas Mercedes e Haas vão seguir com suas duplas inalteradas. E talvez a maior novidade seja a difícil decisão de Daniel Ricciardo, que aceitou o desafio de competir na Renault. Outro movimento que causou espantou foi a contratação do jovem Leclerc pela Ferrari, para ocupar o posto do veterano Kimi Räikkönen, que vai voltar às origens. Sem deixar nenhuma pista, o finlandês vai defender a Sauber no ano que vem. 
Fernando Alonso voa por cima da Sauber (Foto: AFP)
Além disso, o campeonato que vem ainda tem o retorno de Robert Kubica após oito anos longe, por conta do acidente que quase lhe tirou a vida. Há novatos também – e de qualidade, o que é sempre um alento. Campeão da F2, George Russell será o companheiro de Kubica na Williams. O novato Lando Norris vai substituir Alonso na McLaren, enquanto Alex Albon ganhou uma chance na Toro Rosso.
 
Só que todas essas mudanças expuseram um velho drama do grid: o piloto pagante. Por conta da compra da Force India por seu pai, Lance Stroll vai trocar a equipe de Frank pela ex-escuderia indiana. A manobra acabou deixando o talentoso Esteban Ocon de fora do campeonato, o que, certamente, é uma grande perda. 
 
Por fim, há de se reconhecer: Lewis Hamilton salvou a F1. A impecável forma do inglês da Mercedes teve enorme peso para o campeonato, para as ambições de se resgatar o público apaixonado pelo esporte e para atrair os jovens. O britânico é parte de um outro mundo, consegue ter um trânsito fácil com fãs de qualquer idade e, ao mesmo tempo, cultiva as tradições e os grandes ídolos, tem carisma e entende o jogo, tanto o esportivo quanto o político, para a sorte do Mundial. Lewis fez história em 2018 – de longe sua melhor temporada no Mundial. E emprestou um pouco do seu brilho à uma F1 que ainda procura sua nova cara.

As 21 imagens que traduzem bem a temporada 2018 da F1
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