Rivalidade histórica entre Senna e Prost começou com manobra semelhante à de Vettel na Malásia

O brasileiro também desrespeitou um acordo para não ultrapassar o companheiro de equipe e deu início à maior rivalidade da história da F1. Em meio a polêmicas, ambos ainda conquistaram mais dois títulos mundiais

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O que Sebastian Vettel e Ayrton Senna têm em comum? Ambos são pilotos extremamente vitoriosos na F1, se destacaram – principalmente na chuva – em equipes menores antes de avançarem a times maiores e venceram três títulos mundiais. E, desde o último domingo (24), desrespeitaram também acordos com os companheiros de equipe para vencer uma corrida a qualquer preço.

Vettel, na Malásia, ultrapassou Mark Webber nas voltas finais da corrida, desobedecendo a uma ordem de equipe da Red Bull, que determinava a manutenção da posição dos pilotos no fim da corrida de Sepang. Mais rápido que o australiano, o germânico mandou o acordo às favas e fez a ultrapassagem.

Insatisfeito, Webber ‘comemorou’ o segundo lugar longe da equipe, quase tocou no companheiro, além de ter expressado toda a irritação ao mostrar o dedo do meio, após a ultrapassagem, e apontar para as partes íntimas, no pódio. Depois, o piloto já afirmou que o incidente na Malásia foi o suficiente para que ele comece a repensar a permanência na Red Bull.

Ayrton Senna protagonizou a maior rivalidade da F1(Foto: Getty Images)

Essa é uma situação que Ayrton Senna conheceu bem. Quando o lendário piloto brasileiro se juntou à McLaren, para a temporada de 1988, a equipe inglesa se tornou o time a ser batido. No primeiro ano juntos, a escuderia venceu 15 das 16 corridas disputadas, com Senna superando Prost para conquistar a taça no final.

No ano seguinte, a McLaren já não tinha mais o carro dominante, tanto que Nigel Mansell, da Ferrari, venceu o GP do Brasil, na abertura do campeonato. Ainda assim, a equipe britânica continuava imbatível nos treinos classificatórios. Por isso, Senna propôs um acordo com Prost para aquele ano de 1989: o piloto que estivesse na frente após a largada não seria ameaçado pelo companheiro de equipe até que os carros da McLaren se distanciassem do pelotão.

Só que o pacto não durou muito. Na verdade, ele foi quebrado logo no segundo GP do ano, em Imola. Naquela corrida, o brasileiro mais uma vez fez uso do bom motor Honda e conquistou a pole-position, com o companheiro de equipe completando a primeira fila. Mansell, líder do campeonato, marcou o terceiro tempo, mas 1s6 longe do brasileiro.

Na largada, Senna manteve a ponta, enquanto Prost era pressionado pelo britânico da Ferrari. As posições não se alteraram até a quinta volta, quando Gerhard Berger se espatifou no muro da Tamburello, com o carro da Ferrari pegando fogo. Resultado: o austríaco deixou a pista com algumas costelas quebradas e com queimaduras de segundo grau, enquanto a corrida foi paralisada com a bandeira vermelha.

Mais de 30 minutos depois, os carros alinharam no grid para uma segunda largada. Dessa vez, Senna tracionou mal, sendo ultrapassado por Prost. Ainda na primeira volta, o brasileiro conseguiu recuperar a posição e seguiu sem adversários rumo à primeira vitória em 1989.

Webber duelou com Vettel, mas foi ultrapassado contra a vontade da Red Bull (Foto: Getty Images)

Mas aí a crise já estava instalada. Após a prova, Prost criticou o companheiro por ter desrespeitado o acordo na segunda relargada. O brasileiro, por sua vez, se defendeu ao dizer que o pacto valia apenas para a primeira partida. Como cinco voltas já haviam se passado, eles estavam livres para disputarem posição.

Naturalmente, o clima na McLaren apodreceu no restante do ano. A equipe sofreu um racha interno, com os dois pilotos sem se falar. Para piorar, a escuderia não tentou contornar a situação, assumindo o lado de Senna, que além de contar com a simpatia dos dirigentes, ainda era apoiado pela Honda, a fornecedora de motores. Por isso, Prost se dirigiu ao chefe do time, Ron Dennis, e afirmou que iria procurar outra equipe para o campeonato de 1990.

Só que a história não terminou. Prost ainda deixou a McLaren aprontando uma das suas. Na penúltima corrida de 1989, no Japão, Senna precisava da vitória para impedir que o companheiro ficasse pelo título. O brasileiro mais uma vez largou na pole-position, mas acabou perdendo a posição no começo da prova.

Em um primeiro momento, Prost começou a se distanciar, mas pouco a pouco Senna conseguiu recuperar o tempo perdido. Na volta 46, o brasileiro tentou a ultrapassagem na chicane, mas o adversário não aliviou. Os dois se tocaram, com Prost abandonando a prova. Ayrton ainda fez uma épica corrida de recuperação, saindo de sexto após a batida para terminar com a vitória. No entanto, ele acabou desclassificado por uma polêmica manobra do presidente da FISA – Jean-Marie Balestre –, ao alegar que o brasileiro não poderia ter voltado à pista pelo caminho de apoio.

Os problemas da McLaren começaram em San Marino (Foto: Reprodução)

No ano seguinte, Prost foi correr na Ferrari, mas a animosidade entre os dois pilotos continuou. No GP do Japão de 1990 era Senna quem seria campeão caso os dois abandonassem. O brasileiro de novo conquistou a pole, com o maior rival completando a primeira fila.

Embora estivesse largando da posição de honra, Senna não estava contente em partir da parte suja da pista, o que beneficiaria Prost, o segundo colocado. Ele tentou mudar a posição do pole, mas sem obter resultado. Possesso, o piloto da McLaren afirmou que faria de tudo para evitar a ser ultrapassado no começo.

E ele fez. Obviamente, Prost tracionou melhor, mas mal teve tempo para assumir a primeira colocação. Ele e Senna se tocaram antes mesmo da primeira curva, com os dois abandonando a prova. O brasileiro, enfim, era bicampeão do mundo.

Para 1991, Prost continuou na Ferrari, mas dessa vez não conseguiu brigar pelo título. No fim do ano, o francês anunciou a aposentadoria. Senna, por sua vez, obteve o tri. Em 1992, a situação mudou. A McLaren deixou o posto de equipe dominante, com a Williams se tornando o time a ser batido graças à suspensão ativa.

Naquele ano, Nigel Mansell enfim foi campeão do mundo, antes de decidir deixar a categoria para correr na Indy. Sabendo que o time de Grove tinha o melhor carro, Senna fez de tudo para conseguir um acordo, mas o time fechou com Alain Prost para substituir o ‘Leão’. Apesar disso, ainda havia uma segunda vaga em aberto, já que Riccardo Patrese havia se transferido para a Benetton.

Mesmo na McLaren, Senna ainda peitava Prost, na Williams (Foto: Reprodução)

Senna continuou a negociar com a Williams, mas não havia jeito. Para voltar a correr, Prost só aceitou a proposta da equipe inglesa caso uma cláusula fosse colocada no contrato. A única exigência do francês era que em hipótese alguma o segundo piloto do time teria o nome de Ayrton Senna da Silva. A Williams manteve a palavra e trouxe Damon Hill.

Prost terminou o ano de 1993 como campeão, enquanto Senna ainda conquistou heroicas cinco vitórias com uma fraca McLaren. Com a quarta taça, o gaulês finalmente se aposentou, abrindo caminho para que o brasileiro pudesse acertar com a escuderia.

Apesar de toda a rivalidade, em 1994 Senna e Prost começaram a deixar as diferenças para trás. Cada vez mais sozinhos em uma F1 com um grid renovado, os dois se aproximaram e voltaram a viver respeitosamente. A boa relação, porém, durou apenas até o fatídico dia 1º de maio de 1994, em San Marino.

Mesmo com as semelhanças entre a crise na McLaren do fim da década de 1990 e a Red Bull atual, há algumas diferenças. A primeira é óbvia. Naquele momento, Prost já era bicampeão do mundo. Webber, por outro lado, ficou mais conhecido por jogar o título de 2010 fora ao sofrer um acidente andando de bicicleta às vésperas das corridas decisivas.

Entre Senna e Prost, jamais houve uma definição de primeiro e segundo piloto. Até por isso o acordo foi proposto. Quanto aos pilotos da Red Bull, por mais que a equipe austríaca negue, Vettel sempre foi privilegiado. E Webber já deixou isso bem claro. Primeiro, no GP da Inglaterra de 2010, quando disse pelo rádio “nada mal para o segundo piloto”, ao conquistar a vitória mesmo com um carro defasado com relação ao companheiro. A segunda vez foi neste fim de semana. No pódio, comentando sobre a polêmica, o aussie disse que “como de costume, Vettel será protegido”.

 
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