Rivalidade com Rosberg e mudança de patamar na história da F1: o bi e o tri de Hamilton
O tiro no escuro de ir para a Mercedes começou a se pagar de forma impressionante em 2014 para Lewis Hamilton. Só que, junto com o bi e o tricampeonato, nascia ali uma das rivalidades mais quentes e inesperadas da história da Fórmula 1, com Nico Rosberg. É o segundo texto da série do GRANDE PRÊMIO sobre o casamento Hamilton-Mercedes
A escolha de trocar a McLaren pela Mercedes foi valer a pena mesmo para Lewis Hamilton a partir de 2014. E de que forma. Era ano de um regulamento completamente novo, o início da era híbrida e a F1 estava prestes a receber uma tempestade prateada. Foi a Mercedes, por muito mesmo, quem acertou no carro com as regras novas. E começou a sobrar por anos consecutivos.
Mas a vida de Lewis foi longe de ter sido tranquila no período. Quer dizer, pelo menos enquanto Nico Rosberg foi o companheiro. Então amigo de infância, dos tempos de kart, o alemão virou o grande rival da carreira de Hamilton, mais até do que Fernando Alonso, pelas temporadas que passaram juntos. E nem adianta tentar minimizar isso uma década depois. Negócio foi feio, foi pegado.
No fim, foram três anos de parceria entre os ex-amigos, com Hamilton vencendo dois campeonatos e Rosberg ficando com uma taça. E, entre 2014 e 2016, o clima foi bélico na maior parte do tempo, de uma das maiores rivalidades já vistas na F1. Mas vamos começar do começo, quando ainda existia camaradagem entre os dois.
O campeonato de 2014 viu um domínio arrebatador da Mercedes, que só perdeu três das 19 corridas, todas para Daniel Ricciardo, da Red Bull. E o duelo entre os companheiros engrenou rapidamente. No total, foi um ano em que Lewis dominou Nico no aspecto vitórias: 11 x 5 para o inglês, mas a regularidade colocou o alemão vivo até a última etapa daquele campeonato.
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A verdade é que Hamilton foi superior quase o ano todo e teve duas sequências cruciais para o então bicampeonato: as quatro vitórias seguidas logo no começo, entre Malásia e Espanha, e as cinco entre Itália e EUA, já na reta final. Só que, em um campeonato tão dominado pelo time prateado e com pontuação dobrada na corrida decisiva, em Abu Dhabi, todo abandono contou muito. E Lewis teve três, contra dois de Nico.
O primeiro grande momento daquele ano foi já na terceira etapa. Depois de um abandono na abertura, em Melbourne, Hamilton partiu faminto para as corridas seguintes, venceu na Malásia e, no Bahrein, teve o primeiro grande duelo com Rosberg. A chamada ‘Batalha do Deserto’ foi simplesmente uma das melhores corridas da F1 no século, o que é quase um milagre pela distância tão grande da Mercedes para as rivais ali. Foi uma disputa espetacular, os dois trocaram socos a prova toda, a liderança quase não parava nas mãos de ninguém. Ali ainda não tinham faíscas de rivalidade, animosidade, mas…
Foi na sexta etapa, em Mônaco, que o negócio azedou. Rosberg fez a pole em uma classificação que acabou com o próprio alemão atravessado na pista causando uma amarela que tirou a chance de Hamilton fazer a última volta rápida. Lewis nem olhou na cara de Nico no pódio de domingo e, por mais que a Mercedes tenha colocado panos quentes e postado foto dos dois juntos, a coisa estava desandando fortemente.
Hungria e Bélgica foi uma sequência sangrenta e que rachou de vez qualquer tipo de relação entre os dois. Aliás, foi ali que Niki Lauda apareceu mesmo no papel de quase-chefe. Uma coisa meio Helmut Marko na Red Bull, só que ao lado de Toto Wolff e não de Christian Horner. Em Hungaroring, Nico ficou preso com pneus novos atrás de Lewis em uma prova caótica em que Ricciardo e Alonso foram para a ponta em condições que migraram da chuva para o seco. O alemão culpou o companheiro pela perda da vitória, a Mercedes tratou tudo com normalidade e Lauda ficou ao lado de Hamilton.
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Logo depois, em Spa, na volta das férias, o negócio escalou. A dupla colidiu, Ricciardo venceu e Lewis, que abandonou, saiu com a certeza de que Nico, que ainda chegou em segundo, havia batido de propósito. A Mercedes tomou “medidas internas” e prometeu que tudo estava resolvido, mas ali começava também uma batalha pela opinião pública. E as mídias alemã e inglesa, especialmente, racharam junto.
A sequência de cinco vitórias de Hamilton ajudou a colocar a rivalidade frenética em banho-maria, afinal, só um lado estava triunfando. A virada foi categórica na pontuação. Veio a final, em Abu Dhabi, e as chances de Rosberg existiam verdadeiramente pelos pontos dobrados. No entanto, o alemão teve problemas no sistema ERS e se arrastou a corrida toda, enquanto o inglês venceu. Nico cumprimentou Lewis pelo bicampeonato, que reconheceu como “gesto de grandeza” do rival. Até parecia que 2015 seria mais ameno e, de certa forma, foi mesmo até o fatídico GP dos EUA.
Por mais que os dois tenham se estranhado na Malásia e, pontualmente, em outros momentos da temporada, Hamilton dominou o campeonato e conquistou o tri com certa facilidade. Só que a reta final do ano ajuda a explicar bem como Rosberg se transformou em 2016. E aqui não estamos falando só das três vitórias do alemão nas corridas em que a temporada já estava decidida.
“Eu literalmente disse ‘aqui, ó, cara’, e então o boné voltou na minha direção. Eu fiquei como ‘sem problema’. Nem ligo. Consigo entender o que é isso. É a pior coisa ser meu companheiro de equipe”, declarou Hamilton após um incidente que mudaria de vez o cenário de tudo.
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Foi em Austin, quando Hamilton garantiu a terceira taça após uma disputa dura em pista com Rosberg, que a chama foi acesa novamente e com muito mais violência. O episódio clássico veio antes do pódio, o ‘incidente do boné’, um lançamento de Hamilton que acertou Nico. O alemão pareceu ter um novo lado despertado com a ‘bonezada’.
Rosberg, então, venceu no México, no Brasil e em Abu Dhabi, numa sequência que só foi acabar na Espanha, a quinta etapa de 2016. Foram corridas sólidas, de personalidade, que tiraram totalmente Lewis do prumo e ameaçaram, até, a saída do inglês da equipe. As queixas foram muito maiores em 2016, a ruptura quase se deu lá, mas em 2015 já existiam sinais do que viria. Hamilton, que acabava de se sagrar tri, deixava todo mundo ver o descontentamento que tinha com Rosberg e até com a Mercedes.
“Você vê que ele se queixa sobre um monte de coisas, mas você precisa deixar isso de lado, porque simplesmente é o jeito dele. Acho apenas que tivemos uma criação diferente”, disse Hamilton no final do campeonato.
Rosberg venceria o campeonato de 2016, pegando carona na sequência absurda do fim de 2015. O alemão ainda se aposentaria logo depois daquilo, mas isso é assunto para o próximo texto. O que fica é que, mesmo sendo pilotos de talentos e tamanhos bem diferentes, Nico foi o grande adversário da carreira de Lewis. Em uma das maiores rivalidades da história da F1 e que quase gerou a saída da Mercedes uma década antes da hora.
Em 2015, porém, o que ficava era o tamanho que Hamilton atingia. Então tricampeão, chegava ao número de conquistas de gente do calibre de Ayrton Senna, grande ídolo de uma vida toda. Lewis mudava, definitivamente, de patamar na história da F1.
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