Salva por teto orçamentário, Renault oficializa permanência na Fórmula 1

Em meio a uma crise que determinou a demissão de cerca de 15 mil funcionários, a Renault, por meio da sua CEO interina, Clotilde Delbos, anunciou a permanência da sua equipe de fábrica na F1. A decisão de manter a escuderia de Enstone no grid só foi tomada depois que a categoria oficializou seus planos para o futuro, sobretudo quanto ao teto orçamentário

A Renault teve seu ‘Dia do Fico’ e anunciou, na manhã desta sexta-feira (29), que vai permanecer na Fórmula 1 como equipe além da temporada 2020. O futuro da escuderia, que tem sua base em Enstone, na Inglaterra, e a fábrica de motores em Viry-Châtillon, na França, estava em xeque em razão da falta de resultados e, principalmente, pela grave crise que resultou na decisão da montadora de demitir cerca de 15 mil funcionários ao redor do mundo, sendo 4.600 apenas nas operações francesas da companhia.
 
Entretanto, a CEO interina, Clotilde Delbos, oficializou a permanência da Renault e atribuiu a decisão a um fator anunciado na última quarta-feira pela F1: a definição das regras financeiras, mais precisamente o teto orçamentário, para os próximos anos. A partir de 2021, as equipes vão ter um limite de US$ 145 milhões (R$ 783 milhões), que vai cair para US$ 140 milhões (R$ 756,6 milhões) em 2022. Entre 2023 e 2023, o teto vai ser de US$ 135 milhões (R$ 729,6 milhões).
 
“Dissemos publicamente e confirmamos que seguimos comprometidos com a Fórmula 1. O anúncio de novos regulamentos sobre o teto orçamentário é muito bom para nós porque teremos de investir menos nessa categoria do que alguns dos nossos adversários, que gastam muito dinheiro”, declarou a executiva durante teleconferência nesta manhã.
A cúpula da Renault definiu a permanência da equipe na F1 além de 2020 (Foto: Renault)
Desde que regressou à F1, em 2016, a Renault é comandada por Cyril Abiteboul. No ano passado, a marca francesa promoveu Alain Prost, tetracampeão mundial e então conselheiro do time, ao posto de diretor não-executivo, função semelhante à que Niki Lauda desempenhava na Mercedes. Entretanto, mesmo com investimento crescente, ultrapassando a marca de € 200 milhões (R$ 1,2 bilhão) nos últimos anos, a escuderia sequer conseguiu subir ao pódio.
 
Seu esforço mais recente foi a contratação de Daniel Ricciardo, que se uniu ao time de Enstone a partir de 2019. O australiano foi seduzido pelo contrato de € 20 milhões (R$ 120 milhões) por temporada, mas vai deixar a Renault ao fim de 2020 depois de aceitar a oferta da McLaren para trocar de equipe no ano que vem.
 
Abiteboul falou recentemente ao site norte-americano ‘Motorsport.com’ sobre a confiança que tinha na permanência da Renault na F1. “O esporte a motor tem valor e contribuição únicos. É por isso que nele acreditamos, assim como acreditamos em várias atividades de marketing. Isso é esporte e tem sido um núcleo de tecnologia”.
 
“Isso é automobilismo, também é emoção, e a Renault significa emoção. Então, tudo isso significa muito. E é por isso que estamos nisso há décadas e pretendemos fazê-lo por muito tempo. Você quer ter uma narrativa clara sobre o motivo pelo qual um consumidor deve se interessar por sua marca e seu produto, e não por outros. E acho que o que você tem no seu DNA, na sua história e no seu legado conta, até certo ponto, muito mais que outra coisa”, disse.
 
Na mesma teleconferência, Delbos reforçou a importância da mudança do foco para os veículos elétricos. “Em um contexto de incerteza e complexidade, este projeto é vital para garantir um desempenho sólido e sustentável”.
 
Dias atrás, o ministro da Economia e Finanças da França, Bruno Le Maire, disse ao diário local ‘Le Figaro’ que a Renault solicitou um empréstimo de € 5 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões) para salvar a companhia. A autoridade chegou a dizer que a montadora “poderia desaparecer”. O empréstimo, porém, foi condicionado a alguns pontos: manutenção de postos de trabalho, foco no desenvolvimento de veículos elétricos e concentração de altas tecnologias na França. O governo francês detém cerca de 15% das ações da Renault.
 
A empresa anunciou um plano de corte de custos que visa reduzir as despesas gerais em cerca de € 2 bilhões (R$ 12 bilhões) nos próximos três anos. Quatro unidades de produção na França vão ser fechadas ou reestruturadas, e a fábrica de Flins, ao noroeste de Paris, vai deixar de montar o hatchback elétrico Zoe a partir de 2024. Outros 10 mil empregos vão ser cortados fora da França. 
 
No Brasil, a montadora tem uma fábrica em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Planos de expansão outrora traçados para Marrocos e Romênia estão suspensos, e o projeto previsto para a Rússia está em revisão.
 
A capacidade de produção da Renault, atualmente na casa de 4 milhões de veículos por ano, tende a cair para cerca de 3,3 milhões.
 
“Queremos gerar economias de escala para restaurar nossa lucratividade geral e garantir nosso desenvolvimento na França e internacionalmente”, ressaltou Delbos.
 
A Renault vive um dos períodos mais difíceis da sua história em razão não apenas da crise provocada pelo novo coronavírus, mas também por mudanças internas. A marca registrou perda anual de € 141 milhões (R$ 846 milhões) em 2019, o que deflagrou ainda mais o cenário da crise. Carlos Ghosn, executivo franco-brasileiro que presidiu a companhia, foi preso em 2018, e seu sucessor, Thierry Bolloré, ficou somente alguns meses no posto de CEO. A Renault contratou Luca de Meo, ex-executivo da Volkswagen, para assumir o cargo, mas o italiano só vai poder começar a trabalhar em julho em razão de uma cláusula de não-concorrência. Até lá, Delbos segue na função. 

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