Se jogada do motor próprio falhar, Red Bull vai perder Verstappen e as esperanças

Com cláusula de saída atrelada ao contrato de Verstappen, Red Bull terá de lidar com hecatombe e perda das esperanças se fracassar com motor próprio

A Red Bull obteve enorme vitória no fim da semana passada, quando a FIA acolheu o pedido da companhia dos energéticos para congelar os motores no triênio 2022-24. A intenção da Red Bull não era segredo para ninguém e faz todo sentido: com a saída da Honda ao fim de 2021 e com uma nova geração de motores marcada para 2025, seria possível produzir as próprias unidades de força. A solução alcançada aplaca necessidades, mas pode ser a perdição. Até o fim das esperanças.

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A situação não é tão complexa para entender porque a solução é a melhor. A Red Bull perdeu a Honda e, com a tecnologia complexa, caríssima e marcada para terminar com que os motores da Fórmula 1 são dotados, é certeza que nenhuma outra fábrica entraria nos próximos anos. Se entrasse, muito provavelmente demoraria alguns anos para ser competitiva. Teria de ficar entre as três atuais: a Mercedes fechou as portas, a Ferrari está em crise técnica e a relação entre Red Bull e Renault está, sabidamente, em frangalhos.

A única outra alternativa era caseira. Comprar a propriedade intelectual do motor Honda, uma parceria com quem tem relação próxima e que empregou muito dinheiro no projeto do motor de Fórmula 1. Assim, a Honda recebeu recompensa financeira e a Red Bull seria sustentável. Mas há um ponto: a equipe austríaca tem estrutura física e de pessoal para fabricar motores, mas não para desenvolver um motor. Assim, o congelamento era a única solução. Três anos sem desenvolvimento, com todos os motores iguais desde março de 2022 até dezembro de 2024. E conseguiu, depois de uma resistência inicial da Ferrari, que cedeu. Provavelmente por estar bem satisfeita com seu novo motor.

Com os mesmos motores, mas carros novos em 2022, quando a F1 passará a ter um novo conjunto de regras, a Red Bull acredita que será competitiva com um motor de nível parecido ao das rivais. Fará suas mágicas na produção de chassi e outras partes do conjunto para tanto, trabalhando de maneira integrada e com motor e chassi sendo moldados um ao outro ao longo deste ano.

Em teoria, ótimo. E como a Red Bull é bastante competente no que se propõe a fazer, não há dúvidas de que a tacada pode funcionar. Dá para ir até além: a Red Bull agiu da melhor maneira possível e acertou em tudo que fez até agora com relação ao motor nos próximos anos. Mas há um porém.

MAX VERSTAPPEN; GP DE ABU DHABI; F1; FÓRMULA 1;
Red Bull preparar próprios motores (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)

E se não der certo? É uma pergunta que a equipe tem que a fazer a si própria e que oferecemos aqui. O que acontecerá se o motor tiver uma queda de rendimento com relação às rivais neste ano? Se a Ferrari passar de passagem e se a Mercedes abrir um pouco mais? Se a simbiose entre motor e chassi for malnascida?

Neste caso, a resposta pode ser adiantada: a Red Bull perderá Max Verstappen. E perderá também as esperanças de ser campeã num futuro próximo.

Conforme Helmut Marko confirmou na semana passada, Verstappen conta, sim, com uma cláusula de encerramento do contrato de maneira unilateral que pode ser engatilhada com base no desempenho. O contrato de Max se estende até o fim de 2023, acordo de longa duração, o holandês tem o direito de definir pela saída ao fim de cada campeonato caso o piloto não tenha chances de brigar por vitórias e pelo título “por méritos próprios”, usando as palavras de Marko, consultor da Red Bull e braço-direito do dono da companhia, Dietrich Mateschitz.

Méritos próprios, de acordo com o site alemão F1-Insider, é o seguinte: a Red Bull precisa ser, em média, menos de 0s3 mais lenta que o melhor carro do grid. Se estiver fora dessa margem, abre as portas para Max usar as asas agraciadas a ele pela Red Bull para voar em outra vizinhança. A diferença ficou acima disso em 2020, foi cerca de 0s5, apesar das duas vitórias do jovem piloto. Poderia sair, pois.

Mas não saiu. É evidente que não saiu, porque não faz sentido sair. A Red Bull foi a segunda força da Fórmula 1 por boa diferença para as demais. Faria sentido sair apenas para a Mercedes, mas Valtteri Bottas tinha contrato renovado há meses e Lewis Hamilton, bom, é Lewis Hamilton, o heptacampeão mundial. É um desenho que não dura para sempre.

A ideia já plenamente aceita ao redor da Fórmula 1, embora não seja confirmada por ninguém, é que Verstappen não será piloto da Mercedes enquanto Hamilton lá estiver. George Russell, pupilo de longa data dos alemães, é o piloto que se prepara para a vaga que hoje pertence a Valtteri Bottas. Para efeitos de Verstappen, olhemos apenas para Lewis.

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O campeão assinou contrato de apenas uma temporada em 2021, após meses de discussões demoradas e complexas. Claro que o acordo pode ser o último do heptacampeão na Fórmula 1, mas há a possibilidade tão grande quanto – ou ainda maior – de que seja Lewis siga em frente e que os termos sejam sempre assim, para que ele conclua, ano a ano, qual o interesse que ainda tem de guiar na Fórmula 1.

Mas Hamilton tem 36 anos. Quando o congelamento terminar, no fim de 2024, estará às vésperas de comemorar o 40º aniversário. É bastante improvável por tudo que se escuta no paddock da F1 e do próprio piloto que ele continue no Mundial por tanto tempo. Hamilton contempla o fim e não vai levar mais meia década para pendurar o capacete.

Caso a Red Bull comece o congelamento com defasagem de potência para a Mercedes, algo que não terá como ser resolvido inteiramente por três anos, então os anglo-austríacos saberão muito bem que estão no relógio, apenas esperando que uma vaga se abra para ver Verstappen partir. Até porque, no meio do congelamento, o contrato do holandês acaba e terá de haver um processo de renovação. Na prática, a Red Bull terá uma temporada de três anos de duração.

Diga-se, é natural que seja assim para Verstappen. É jovem, sabe que se trata de um talento bastante especial e já ofereceu seis anos de sua carreira para os rubro-taurinos. Até 2023, serão nove anos. Normal que busque em outro lugar caso sua equipe não ofereça o título que tanto quer.

Max Verstappen brilhou em 2020 e conquistou duas vitórias ao longo da temporada (Foto: Red Bull Content Pool)

Perder Verstappen é perder o futuro. O mundo inteiro sabe que Max é o próximo rosto da F1, o prometido, o escolhido. Não é o único bom piloto jovem, evidentemente, mas é o melhor, o mais talentoso. Perdê-lo será se despedir do futuro no qual a Red Bull investiu com tudo que podia desde 2014.

Sair do congelamento enfraquecida e sem a joia da coroa para ainda ter de buscar nova fábrica que se interesse em desenvolver um motor – que é o interesse da Red Bull para 2025 -, será melancólico e vai necessitar uma reconstrução que sare as feridas. Mas vai saber se o dinheiro da bebida energética continuará caindo com tantos anos tão longe prumo.

A Red Bull acerta – e grande – ao produzir os próprios motores. É, de fato, a melhor decisão. E é muito perigoso.

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