Segundo lugar ‘como vitória’ na Áustria ameniza 2020 quase inexistente para Leclerc

O resultado inesperado e grandioso na primeira corrida da temporada serviu como alento para o monegasco, que ficou no zero nos GPs da Estíria e da Hungria. Escolhido como o nome da Ferrari para o presente e para o futuro, Charles Leclerc vai ter de lidar com a pressão que, por muitos anos, foi um grande peso nas costas de Sebastian Vettel

A prova que abriu a temporada 2020 da Fórmula 1 terminou com um resultado pra lá de inesperado. Aqui, contudo, não se trata do terceiro lugar de Lando Norris no GP da Áustria, mas sim do segundo posto obtido por Charles Leclerc com uma Ferrari claudicante e que hoje luta para, no máximo, ser a quarta força do grid. A conquista do resultado improvável no Red Bull Ring no primeiro domingo de julho foi comemorada pelo monegasco de 22 anos “como uma vitória”. Um feito que lhe valeu 18 pontos no campeonato. E, depois de três corridas, a grande aposta da Ferrari para o presente e para o futuro segue tendo os mesmos 18 pontos somados na Áustria.

Culpado pelo acidente que tirou ele próprio e Sebastian Vettel de combate no GP da Estíria e sem rendimento e ainda vítima de estratégia errada da Ferrari na Hungria, a sequência da temporada de Leclerc é inexistente e com zero pontos no Mundial de Pilotos deste ano. Os números, no frigir dos ovos, atestam: o dono do carro #16 está devendo até agora em 2020.

Na esteira da primeira corrida do campeonato, Leclerc foi exaltado em verso e prosa pela apaixonada imprensa italiana, que o classificou como o “bendito menino dos milagres”, enquanto, por outro lado, execrava Sebastian Vettel, que sofreu para terminar em décimo naquela corrida. Faz sentido que a mídia da terra da Ferrari critique até em demasia quem chegou a Maranello contratado a peso de ouro e carregando o peso de quatro títulos mundiais nas costas, mas que jamais correspondeu às expectativas dos tifosi.

Charles Leclerc
Pódio na Áustria foi único grande momento para Charles Leclerc até agora na temporada (Foto: Scuderia Ferrari)

Charles classificou sua performance na Áustria como “provavelmente, uma das minhas melhores corridas desde que cheguei à Fórmula 1 porque não cometi erros”.

Veja como tudo muda muito rápido, seja na Fórmula 1, seja na vida como um todo. Depois de ter furado a quarentena para ir a Mônaco e inclusive fazer parte de festa mesmo durante a pandemia, Leclerc foi do céu ao inferno no GP da Estíria, realizado no mesmo Red Bull Ring.

No sábado chuvoso, foi mal na classificação e sequer passou para o Q3. E uma semana depois do segundo lugar no GP da Áustria, acertou o carro de Vettel na primeira volta e destruiu, de uma só vez, a corrida para os dois pilotos da Ferrari naquela tarde de domingo. Um desastre que remeteu ao ocorrido na Reta Oposta de Interlagos durante o GP do Brasil do ano passado e que pavimentou mais um pouco da crise que parece sem fim na mais tradicional das equipes da Fórmula 1.

Aí vieram as primeiras críticas mais contundentes da imprensa italiana ao “bambino de ouro” de Maranello. Assim escreveu o Corriere dello Sport. “Suicídio da Ferrari. Usamos exclamações para comemorar a chegada de uma criança com talento, graça e inteligência. Portanto, vê-lo saltar na largada de uma corrida que deveria dar quilometragem e pontos, implica descobrir a face misteriosa e preocupante do campeão que ele é. Algo que tem a ver com a impaciência destrutiva quando se frustra a ambição com um toque de presunção cega”.

O Tuttosport foi além e disparou contra Charles, mas sem esquecer de bater em Leclerc, que sequer teve culpa naquela situação. “Ferrari, assim não. Que loucura, Leclerc! Esperamos muito para esta temporada, e a Ferrari já a perdeu. Não há carro, nem filosofia e tampouco pilotos. Vettel está completamente confuso por conta da situação do contrato e Leclerc parece que continua jogando as corridas virtuais. Isso é escuridão”, criticou o jornal esportivo de Turim.

Sebastian Vettel foi muito melhor que Charles Leclerc na Hungria (Foto: Ferrari)

Leclerc foi da Áustria para a Hungria em baixa, cabisbaixo com o peso da culpa pelo incidente que arruinou a história da Ferrari no GP da Estíria e sem grandes perspectivas de um salto significativo de performance em razão de um carro que não anda e de um motor que não empurra, mesmo em um circuito que não exige tanto da potência, como é o caso de Hungaroring.

O desempenho das SF1000, já com algumas atualizações desenvolvidas pela Ferrari, foi bastante aceitável em ritmo de classificação. A ponto de ter deixado os carros da Red Bull e da McLaren para trás e colocar Vettel em quinto e Leclerc em sexto no grid de largada magiar. Contudo, a corrida mostrou a dura realidade da escuderia italiana, que convive com velhos problemas, como decisões equivocadas em termos de estratégia, como foi para o monegasco ao longo da prova em Hungaroring.

Seb, com uma melhor escolha e melhor atuação na comparação com seu companheiro de equipe, foi bem além na corrida para terminar na sexta posição, no lugar onde a Ferrari pode estar neste momento. Mas Leclerc, em contrapartida, nem sequer conseguiu tirar proveito da punição imposta a Kevin Magnussen, da Haas, e ficou somente em 11º lugar. Pior ainda, foi ultrapassado sem dificuldades por Carlos Sainz, seu futuro companheiro de equipe, que terminou a corrida em nono.

O resultado final foi muito, mas muito aquém do que a Ferrari, os tifosi e até o próprio Charles esperam dele mesmo.

“Foi uma corrida complicada. Não tenho certeza do que aconteceu porque não mudamos nada no carro, mas estava muito difícil de pilotar, o equilíbrio era muito pior do que foi na sexta-feira e no sábado, quando era melhor que o esperado. Simplesmente não era o mesmo carro. Precisamos investigar e entender o que aconteceu, já que sofri demais. Há muito trabalho pela frente”, respondeu o piloto pouco depois da corrida.

Vettel está de saída de Maranello, mas certamente vai dar tudo de si para ter uma despedida digna e, de preferência, andando à frente do escolhido da Ferrari para o futuro. Leclerc, mesmo com o segundo lugar com sabor de vitória no GP da Áustria, segue devendo muito quando se analisa o contexto como um todo neste ano. E precisa de atuações convincentes, mesmo tendo às mãos um carro pra lá de sofrível, para não ser ele o alvo das críticas e cobranças que, por tanto tempo, atormentaram o tetracampeão mundial.

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