Sétimo dia de testes traz Ferrari oscilante, Mercedes com ‘tanque de guerra’ e Gasly já questionado

A pré-temporada da Fórmula 1 teve um dia importante para as três equipes de ponta. A Mercedes volta a dar sinais de que tem o carro mais confiável do grid, enquanto a Ferrari, apesar de rápida, não soma tantas voltas quanto gostaria após problemas pelo terceiro dia seguido. Isso enquanto Pierre Gasly volta a bater o RB15 da Red Bull por erro próprio e se coloca em posição incômoda

Cada dia de pré-temporada é uma nova peça no quebra-cabeça que a Fórmula 1 tenta solucionar até o GP da Austrália, dentro de duas semanas. O sétimo, nesta quinta-feira (28), foi elucidativo para as três grandes equipes da categoria, seja por motivos bons, medianos ou simplesmente ruins. É com essas impressões que respectivamente Mercedes, Ferrari e Red Bull vão encarar o encerramento da bateria de duas semanas em Barcelona.
 
Mesmo sem necessariamente ter o melhor carro – afinal, ninguém sabe ao certo quem ocupa tal posto –, a Mercedes pode ser apontada como equipe mais tranquila até aqui. A confiabilidade dos prateados é testada dia após dia, sempre sendo confirmada. A impressão negativa deixada pela quebra de Valtteri Bottas na terça-feira foi apagada por performances como a da quinta-feira, com os dois pilotos da equipe somando o total de 180 voltas. Simulações atrás de simulações sem que o W10 indicasse qualquer problema digno de nota. O cenário desenha é claro: se o campeonato acabar decidido por questões como abandonos ou punições por troca de peças, os atuais campeões já tem uma carta de respeito na manga.
 
É bem verdade que a Mercedes ainda não expôs o W10 a testes mais diretos ao ponto, como simulação de voltas rápidas com o pneu C5. Ao focar tanto em simulação de corrida, Hamilton não foi além do décimo melhor tempo no sétimo dia de atividades, devendo 1s8 na comparação direta com Charles Leclerc e o belo tempo na casa de 1min16s. Pode ser que o carro prateado decepcione em voltas rápidas – fazendo ainda mais jus ao conceito de ‘tanque de guerra’ –, mas é difícil acreditar nisso. A impressão inicial é de que Mercedes e Ferrari partem para Melbourne em condição de quase igualdade, talvez com o pêndulo um pouco mais a favor dos italianos. De qualquer forma, o panorama é apenas temporário, já que atualizações vão cumprir um papel dos mais importantes em ano de revisão do regulamento técnico.
Valtteri Bottas ajudou a Mercedes a somar 180 voltas (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)

A Ferrari, por sua vez, é um enigma. A análise fria dos números indica que o SF90 é um carro dos mais poderosos. Mesmo com um regulamento que deveria tornar os carros mais lentos, seria loucura dizer que o tempo de 1min16s231 de Charles Leclerc, melhor da pré-temporada, é ruim. Fica a impressão, aliás, de que a Ferrari ainda pode espremer um pouco mais esse bagaço até entrar na casa de 1min15s alto. Acontece que velocidade em voltas rápidas, um foguete de Q3, nunca ganhou campeonato para ninguém. E se a primeira semana terminou com a sensação de que não havia nada de podre no reino de Maranello, a segunda já mostra que falar em perfeição é puro exagero.

 
A Ferrari já teve três problemas graves na segunda semana de testes, um em cada dia. Um defeito no sistema de refrigeração na terça-feira, um pneu defeituoso na quarta, uma quebra no escapamento na quinta. Os problemas em si não são graves: dois são pequenas questões mecânicos, um parece ter mais requintes de azar. Mas existe algo que é inegável: a Ferrari perdeu tempo de pista. A briga com a Mercedes por quilometragem e dados era parelha, mas já não é mais tanto. Enquanto a atual campeã teve calma para analisar qualquer problema no bólido, a atual vice precisou remar contra a maré.
 
Não que Mattia Binotto precise perder o sono e arrancar os desgrenhados cabelos pelos eventos da semana, mas é, sim, um alerta. Se o GP da Austrália for um de sucesso da trupe de Toto Wolff, não vai ser absurdo dizer que os contratempos italianos tiveram sua parcela de culpa. Mesmo assim, vale para a Ferrari o que já se escreveu sobre a Mercedes: em uma temporada que promete muito desenvolvimento, Maranello vai ter todas as oportunidade do mundo de corrigir qualquer passo que não tenha sido bem dado até aqui.
Charles Leclerc, seguido por Lewis Hamilton (Foto: Pirelli)
Atrás das duas primeiras, a Red Bull vive em seu mundo particular. Chegou a se falar em uma equipe capaz de brigar de igual para igual com Mercedes e Ferrari, cortesia do trabalho da Honda nos últimos meses, mas a realidade parecer ser um pouco diferente. Pierre Gasly, que teve a missão de fazer voltas rápidas com o RB15 nesta quinta, não teve tempos particularmente empolgantes. O 1min17s091 certamente não representa o limite de desempenho com pneus C5, mas é difícil acreditar que os taurinos ainda tenham ao menos 0s8 ‘estocados’ para chegar ao nível já estabelecido pela Ferrari.
 
Em contrapartida, está claro que confiabilidade não é problema para a Red Bull, ou mesmo para a Toro Rosso, também cliente da Honda. O motor japonês não teve qualquer tipo de quebra na pista, aguentando bem os exigentes cronogramas impostos pelas equipes irmãs. As 127 voltas de Max Verstappen no dia anterior falam por si. A questão é que existe uma peça do RB15, a que fica entre o assento e o volante e fala fazendo biquinho, que causa perda de valioso tempo de pista. É Gasly, que sofreu o segundo acidente nos testes em Barcelona.
Pierre Gasly em foto tirada antes de erro que acabou com o RB15 (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)

As pancadas poderiam ser minimizadas caso fossem causadas por falhas no carro – como aconteceu com Sebastian Vettel –, mas não há quem culpar. A batida da primeira semana, na curva 12, foi consequência de um Pierre que acelerou mais cedo do que devia. A da segunda, na curva 9, de um pneu que estava na grama quando não devia. Os dois casos levaram o carro às barreiras de proteção, com o segundo causando danos bem graves.

 
Isso já coloca Gasly em uma situação um pouco ruim. Não que o francês não tenha talento suficiente ou algo assim. O ‘questionado’ no título deste material tem outro sentido: é que já fica a dúvida sobre até que ponto o francês pode incomodar Verstappen. Se Daniel Ricciardo passou por dificuldades contra o holandês sem sofrer muitos acidentes, o que dizer de alguém que precisa se adaptar à nova equipe ao mesmo tempo em que lida com uma pré-temporada ruim?
 
Gasly subiu da Toro Rosso para a Red Bull com prestígio. Prestígio merecido, e que certamente ainda tem. A questão é que a banda toca de outro jeito em Milton Keynes e ficar ligado certamente ajuda. Daniil Kvyat que o diga.

GRANDE PRÊMIO cobre ‘in loco’ a pré-temporada da F1 em Barcelona com os repórteres Evelyn Guimarães, Vitor Fazio, Eric Calduch e o fotógrafo Xavi Bonilla. Acompanhe tudo aqui.

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