Sofrível, Kubica mostra irritação com calvário sem fim e já faz hora extra na F1

O regresso de Robert Kubica ao grid do Mundial de F1 oito anos depois do grave acidente que quase o matou vai muito além do esporte e representa uma verdadeira lição de vida. Mas o polonês, mesmo contando com o pior carro do grid, sequer consegue mostrar lampejos do grande piloto que um dia foi. Irritado por se ver fadado ao último lugar, Kubica parece estar com os dias contados na categoria

— Me diga, por que eu não terminaria a temporada?
— Eu só estou fazendo uma pergunta…
— E eu estou respondendo. Pergunta estúpida, resposta estúpida.
 
O diálogo acima foi travado entre Robert Kubica e um jornalista no ‘cercadinho’ onde os pilotos concederam as entrevistas coletivas depois do último GP da Áustria. O polonês foi questionado a respeito da sua permanência na Williams para a sequência do campeonato depois de mais uma atuação sofrível, terminando a prova no Red Bull Ring em último lugar, três voltas atrás do vencedor, Max Verstappen, e longe sequer de brigar por posição com seu companheiro de equipe, o prodígio britânico George Russell. Acidentalmente ou de propósito, Kubica foi eleito como o 'Piloto do Dia' do GP da Áustria. A votação foi corrigida um dia depois e deu, de forma merecida, o título a Verstappen.
 
Na mesma entrevista, concedida à emissora Eleven Sports, Kubica mostrou resignação por não conseguir ao menos lutar de igual para igual com um piloto que conta com o mesmo carro. “Ser 1s mais lento que meu companheiro de equipe não é muito divertido”, reclamou o polaco, que falou sobre as maiores dificuldades sofridas na Áustria: “Quando tento de tudo, escorrego e destruo os pneus. Se não houver nada de novo em Silverstone, vai ser a mesma coisa”.
Robert Kubica não conseguiu mostrar boas performances na Williams (Foto: Williams)

A volta de Kubica ao grid do Mundial de F1 oito anos depois de ter sofrido o gravíssimo acidente — no Rali Ronde di Andora, na Itália — que quase o matou e deixou sequelas irreversíveis no braço direito, ganhou contornos que foram muito além da esfera esportiva. 

 
A força que o piloto teve para reerguer uma carreira que parecia ter o fim como destino foi notável: a reconstrução nos primeiros anos no rali, testes no DTM e corridas no endurance antecederam a chance que Robert teve de voltar a guiar um F1 em teste promovido pela Renault, em Valência. As portas da escuderia anglo-francesa não se abriram como esperado, mas Kubica não desistiu. Insistiu, testou pela Williams e ficou muito perto de assegurar uma vaga de titular para 2018, mas só não contava com o 'caminhão de dinheiro' vindo da Rússia ‘aos 48 minutos do segundo tempo’. Sergey Sirotkin foi contratado como titular e Kubica teve de esperar mais um ano.
 
Veio 2019 e com ele a redenção: Robert Kubica estava de volta ao grid do Mundial de F1. Mas diferente do carro competitivo que tinha nas mãos naquele início de 2011, quando a Lotus preta e dourada despontava como uma força ascendente na categoria, desta vez o polonês chegava com a missão de provar a si mesmo no pior carro do grid, de uma equipe de história gloriosa, mas de um presente confuso, marcado por atrasos na concepção e desenvolvimento do FW42.

Para aumentar ainda mais o grau de dificuldade, Kubica teria, além de vencer a desconfiança em razão da sua condição física, lidar com um companheiro de equipe estreante, em grande forma com o título da F2 e com muita sede de mostrar seu potencial.

Robert Kubica (Foto: Williams)

Definitivamente, o regresso de Kubica à F1 neste ano vale muito como uma grande história de vida, daquelas que vira livro e filme. Impensável, cerca de dois ou três anos atrás, que o piloto conseguiria regressar à elite do automobilismo — situação que, claro, só foi possível por conta dos seus patrocinadores poloneses, em especial a petrolífera PKN Orlen. 

 
Consolidado seu retorno, Robert passou a ter como maior missão a de mostrar ao mundo que merece estar ali no grid da F1 pelo que é hoje e não pelo que foi há dez anos, um piloto que se mostrava como um potencial campeão mundial. Vieram as primeiras corridas, que mostraram a Williams sempre no fundo do pelotão, mas com Russell frequentemente andando à frente de Kubica. 
 
Algo parecia errado, e o polonês não economizava nas reclamações. Na esteira da batida sofrida pelo piloto em Baku, no Azerbaijão, a Williams providenciou uma troca de chassi. Kubica passou a atuar a partir da Espanha com um novo, enquanto Russell ficou com o chassi que era do polonês. Veio o treino classificatório em Barcelona, e o britânico enfiou mais de 1s em Kubica
 
A falta de performance abriu espaço para as especulações, e mesmo a Williams de realidade tão distante de um passado glorioso atrai candidatos. Já se falou até de Esteban Ocon, mas o principal deles é Nicholas Latifi, líder da F2 e herdeiro de um bilionário canadense de origem iraniana. Com dinheiro infinito à disposição, o jovem, que já guiou o FW42 em treinos livres, passou a ser visto no paddock como alternativa plausível à vaga de Kubica ainda em 2019. Situação que o próprio polonês se apressa em rejeitar, bem como sua patrocinadora, que reiterou a validade do contrato até o fim do ano.
 
Com um carro notoriamente ruim, Kubica teria a obrigação de andar ao menos ao nível do seu companheiro de equipe para conseguir provar que tem a capacidade para se manter no grid da F1. Não conseguiu.

Fisicamente, o piloto mostrou que suporta a intensidade de uma corrida de cerca de 1h30min de duração, mas sofre sobretudo pelo longo tempo inativo. Depois de ter feito sua última temporada completa em 2010, todo o período longe das corridas fez com que Robert perdesse o ritmo. E esse ritmo não se recupera do dia para a noite.

Kubica no alto do pódio do GP do Canadá de 2008 (Foto: Reprodução)

De alguma forma, o retorno de polonês à F1 foi incrível. Esportivamente, porém, não deu certo. E em um esporte tão competitivo, imediatista e massacrante como o da F1, não há tempo a perder. 

 
Seja como for, quando um dia não estiver mais no grid, Kubica vai ser lembrado como um grande piloto, pelo espetacular embate com Felipe Massa em Fuji, pela sua grande vitória no Canadá em 2008, pelo notável talento que atraiu até o interesse da Ferrari, pelo grave acidente no rali e pelo seu retorno inesperado e surpreendente.

A passagem sofrível pela Williams neste ano jamais vai apagar uma grande história de vida e de amor pelo esporte. 

Paddockast #24
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