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A imagem de Alonso no pódio de Interlagos, abraçado ao vencedor Felipe Massa, em 22 de outubro de 2006, parece já pertencer a outra época da F1. O espanhol, então com 25 anos, festejava seu segundo título com cara de garoto e sob os olhares de um mundo que fazia previsões: com a aposentadoria de Michael Schumacher, Alonso seria o novo dono da categoria pela década seguinte.
A década seguinte passou, e Alonso continua bicampeão. A cara de garoto já não existe mais, e o currículo mostra uma peregrinação por três equipes – McLaren, retorno à Renault, Ferrari e novamente McLaren –, com três vice-campeonatos como melhor resultado.
O que não mudou foi o respeito dos companheiros pista. Alonso continua sendo considerado um dos melhores pilotos do grid, para muitos o melhor. Mas por que, afinal, ele simplesmente não consegue mais disputar títulos? A resposta, nos últimos três anos, é fácil: a McLaren-Honda jamais deu a ele um carro em mínimas condições de se aproximar as vitórias,
e em 2017 não deve ser diferente.
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Mesmo sem jamais ter recebido da McLaren-Honda um carro competitivo, Alonso insiste em continuar (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
Surge então, uma outra pergunta: por que Alonso continua na McLaren? Porque simplesmente não se rebela, quebra o contrato e parte em busca de uma equipe em possa, finalmente, tentar cumprir a expectativa de dominar a F1?
Parte da resposta é dada pelo próprio piloto, e tem relação direta com sua personalidade. Pessoas que convivem com o espanhol há anos costumam defini-lo como “teimoso” e “cabeça-dura”. O asturiano não discorda. “Eu sou um eterno ‘do contra’. Quando as pessoas estão pessimistas, eu sou otimista; quando estão entusiasmados, eu me preocupo”, disse, durante os testes em Barcelona.
Além de teimoso, Alonso é orgulhoso. A ponto de, por duas vezes, ter dito “não” à Mercedes, equipe que dominou o campeonato nos últimos três anos.
Dono do maior salário da F1 durante a última década, o espanhol considera que o fato de ser o mais bem pago do Mundial reflete sua condição de piloto de ponta, mesmo que os resultados não o acompanhem. “Não se trata de ser mercenário, mas de sentir-se valorizado e de saber que a equipe que está pagando tudo aquilo fará o máximo por ele”, afirma Manuel Franco, repórter do jornal AS e um dos jornalistas que melhor conhece Alonso.
Alonso teve a chance de ir para a Mercedes, mas optou por continuar na McLaren e cumprir seu contrato (Foto: McLaren)
Foi justamente a questão salarial que impediu uma primeira investida da Mercedes pelo asturiano, no final de 2014, quando acabava seu contrato com a Ferrari – a montadora alemã ofereceu uma quantia menor que ele ganhava em Maranello, e as negociações não foram adiante.
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O outro “não” de Alonso à Mercedes aconteceu nos últimos meses, por outro motivo. Na busca por um substituto para Nico Rosberg, a equipe tinha Alonso no topo de sua lista, desde que ele se encarregasse de sair da McLaren por sua conta, negociando todo o rompimento de contrato e pagamento de multas, sem nenhuma participação dos alemães. Houve outra resposta negativa.
Questionado sobre o assunto pelo
GRANDE PRÊMIO em Barcelona, o espanhol irritou-se. “Se quiser, depois te passo minha entrevista da semana passada, já falei tudo lá. Se você tem contrato com uma equipe e está feliz nesta equipe…”, disse.
Diante da réplica de que Valtteri Bottas, o escolhido pela Mercedes, também tinha contrato e estava feliz na Williams, lançou: “Ele também tinha outro empresário”.
Um dos empresários de Bottas era Toto Wolff, chefe de equipe da Mercedes (ele deixou o grupo de agentes do finlandês após sua ida para a equipe); e o empresário de Alonso é Luis Garcia Abad, responsável direto pela negativa à escuderia alemã.
Mas não são apenas as cifras ou as situações de contrato que fazem o bicampeão continuar na McLaren. Existe, também, um motivo humano. Uma idolatria, quase uma obsessão, por outro piloto que brilhou na equipe inglesa: Ayrton Senna.
Alonso sonha em repetir o feito de Senna e também ser campeão na McLaren-Honda (Foto: Getty Images)
O tricampeão é o grande ídolo de Alonso. Seu primeiro kart – construído pelo pai, para sua irmã – era uma tentativa de réplica da McLaren-Honda do final dos 1980, com patrocínio da Marlboro, com a qual Senna alcançou todos os seus títulos mundiais. Mais de uma vez, o espanhol já disse que cresceu em um quarto com as paredes estampadas com pôsteres do ídolo.
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“É algo que ele tem muito presente: essa vontade de ganhar onde Ayrton Senna ganhou. De vencer e ser campeão na equipe de Senna”, explica Manuel Franco. A parceria McLaren-Honda, de fato, remete a uma mística especial. Mas o momento atual de Alonso tem sido comparado pela imprensa espanhola a outra fase da carreira de Senna, a das temporadas em que o brasileiro não tinha um carro para ser campeão na McLaren, na fase final da sua passagem pela equipe, e sofria por isso.
O calvário de Senna na McLaren durou duas temporadas – 1992 e 1993; o de Alonso entra em sua terceira, mas o asturiano parece anestesiado diante das decepções e confiante de que conseguirá vencer com a equipe de seu ídolo. “Eu não deixarei de correr sem que esteja me sentido bem e com os resultados que mereço. Se algum dia eu vejo que os outros freiam mais tarde que eu, que são melhores, eu paro. Mas agora vejo justamente o contrário”.
PADDOCK GP #68 ANALISA SEGUNDA SEMANA DE TESTES DA F1 EM BARCELONA
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