Testes de pré-temporada mostram distinção entre F1 dos disfarces e MotoGP dos favoritos evidentes
Categorias top, F1 e MotoGP têm pré-temporadas distintas em 2013: enquanto em uma a distribuição de forças ainda não é totalmente clara, na outra, os favoritos são evidentes. Mas há poucas dúvidas de que ambos os campeonatos serão bastante equilibrados
Inconclusivo. Esse foi o termo usado por Sebastian Vettel para definir os testes de pré-temporada da Red Bull para o campeonato 2013, que tem início marcado para 17 de março, na Austrália. Para o tricampeão, nunca a equipe austríaca saiu de uma fase preparatória com tantas perguntas sem respostas claras quanto agora. O regulamento técnico, como se sabe, não mudou muito – até em virtude das grandes alterações que a F1 vai viver a partir de 2014 –, mas a interpretação de Vettel, na verdade, reflete fielmente o que foram as três baterias espanholas de testes em termos gerais neste ano.
Embora exista uma crescente visão de que, de fato, o time de Dietrich Mateschitz é o favorito, os resultados em si colocam outras escuderias muito bem no páreo. Mas isso é ainda uma visão bastante superficial. As questões giram em torno do tamanho deste favoritismo e qual é hierarquia real da F1, diante das novidades e dos resultados vistos em Jerez e Barcelona. Daí a avaliação de Seb ser muito coerente.
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Não é de hoje e é de conhecimento geral de que a pré-temporada da F1 sempre foi bastante misteriosa e que, em raros casos, a equipe que se deu melhor durante os testes foi a equipe que também apareceu na ponta da tabela de classificação do Mundial no fim do ano. É claro que se pode sempre ter alguma ideia, mas, em 2013, o exercício de adivinhação e aposta parece bem mais difícil do que em anos anteriores. E a não mudança nas regras tem muito a ver com isso, por incrível que pareça.
Como acontecera nas primeiras provas de 2012, a conclusão depois das atividades realizadas entre o início de fevereiro e março é que a F1 permanece imprevisível também agora. Culpa dos pneus, dirão. E é verdade. A introdução de novos compostos feita pela Pirelli novamente ajudou a bagunçar as coisas e será fator decisivo também quando as luzes se apagarem no Albert Park. Mas não é só isso. O uso do DRS passivo, a melhora dos níveis de downforce e o refinamento da aerodinâmica também foram pontos estudados a fundo pelas escuderias, e isso foi visto claramente em Barcelona, mas, ainda assim, permanece difícil entender onde cada time melhorou.
E em um primeiro momento, apenas com base nos tempos e na quilometragem percorrida pelos pilotos, pode-se dizer que Mercedes e Ferrari largaram na frente. Só que as aparências enganam muito na F1. E a própria equipe italiana já foi vítima disso, para o bem e para o mal. Em 2011, por exemplo, o time vermelho saiu da pré-temporada em grande forma, com a clara expectativa de permanecer na luta pelo título, que fora perdido de forma dolorosa na última corrida de 2010. Quando foi para valer mesmo, entretanto, a coisa não obedeceu ao que se viu nos testes de inverno. A Red Bull, quietinha, acachapou todo mundo sem dó e nem piedade. No ano passado, ao contrário, a F2012 causou náuseas em Fernando Alonso e Felipe Massa, mas foi com esse carro que a escuderia chegou ao Brasil ainda na disputa do título.
Neste ano, então, todos os carros, de uma forma ou outra, foram projetados com base no que deu certo em 2012. Portanto, o jogo de esconde-esconde foi mais difícil desta vez. Isso porque a F1 testa bem menos e a quantidade de coisas a serem avaliadas é grande, assim como o que pode ser facilmente copiado. Todo mundo também está de olho no que o vizinho faz. Daí o trabalho é bem mais cuidadoso, tanto de quem testa e avalia quanto de quem copia.
A situação se inverte quando se olha para outra categoria top do esporte a motor mundial e que segue, em vários os níveis, os mesmos parâmetros da F1. A MotoGP também usa fevereiro e março para os testes preparatórios, mas a categoria-mor do motociclismo vai para longe, em busca de calor e condições menos severas do que o inverno europeu. As duas primeiras sessões de treinos do Mundial deste ano novamente aconteceram em Sepang, na Malásia, onde, assim como a F1, também corre durante a temporada.
E lá o tal jogo de esconde-esconde e a falsa impressão de favoritos praticamente inexiste. Tudo é muito claro e transparente. Dificilmente há viradas neste jogo. Simplesmente porque não há como esconder o favoritismo. Sim, as duas principais marcas, Honda e Yamaha, têm lá seus segredinhos, os pequenos avanços e até detalhes que são ‘inspirados’ na rival, mas não conseguem disfarçar que estão muito à frente da concorrência. E, falando nos demais competidores, até entre eles, já é possível traçar a tal hierarquia com muito mais precisão que na F1.
Os treinos malaios começaram como a temporada passada acabou, ou seja, com Dani Pedrosa e Jorge Lorenzo comandando as ações. Pedrosa, na verdade, foi quem se mostrou rápido deste o início, mas, assim como as corridas finais de 2012, teve sempre no encalço o bicampeão. Ambos testaram peças novas, embora a Yamaha ainda não tenha apresentado oficialmente a nova moto. Os pneus também foram alvo de estudos, assim como equilíbrio, tração, níveis de aderência e aceleração. Também como na F1, as simulações de corrida fizeram parte dos programas técnicos. E, em todas as condições, os mais rápidos na ponta da tabela permaneceram os mesmos.
Completando a lista dos ‘quatro fantásticos’, Valentino Rossi apareceu em terceiro neste primeiro período de atividades, bem próximo do companheiro de equipe, praticamente acabando com qualquer dúvida com relação à sua performance depois dos dois anos desastrosos na Ducati. A quarta posição ficou com o novato Marc Márquez, que mostrou rápida e consistente adaptação à RC213V. As colocações subsequentes foram de Cal Crutchlow (Tech3 Yamaha), Stefan Bradl (LCR Honda) e Álvaro Bautista (Gresini Honda) e Bradlez Smith (também Tech3), todas motos satélites. Aí apareceram as Ducati de fábrica e satélites. Em seguida, surgiram as motos CRT, que compõem um campeonato à parte.
A segunda bateria praticamente repetiu os resultados desta primeira, mas as condições da pista e do tempo não foram tão ideais. O asfalto estava sujo e escorregadio devido às chuvas, e isso foi alvo de inúmeras reclamações. Destaque para Lorenzo que acabou a semana com melhor tempo e com um ritmo mais próximo de Pedrosa. Além disso, Márquez também foi mais rápido e fechou a semana atrás de Jorge e Dani. Crutchlow foi surpresa se posicionando em quarto, à frente de Valentino.
A MotoGP ainda tem previstos mais dois testes antes de desembarcar no Catar, primeira corrida de 2013. Na verdade, treino coletivo é só mais um: em Jerez, reduto tradicional do Mundial. Yamaha e Honda optaram por um teste privado em Austin, na mesma pista que a F1 correu no fim do ano passado. Ainda assim, dificilmente o quadro de favoritismo muda em Jerez e no Catar. A previsibilidade, entretanto, não quer dizer monotonia.
Novamente o Mundial vai acompanhar um forte e equilibrado embate entre as duas equipes nipônicas. Mas aqui, nem pneus e nem estabilidade de regras serão elementos decisivos, como deve acontecer com a F1. O fator humano é que será o ponto chave. Isso porque as duas principais marcas têm nomes de peso e que devem fazer grande diferente. São amplamente favoritos e o título mundial, sem o menor medo de errar, ficará nas mãos de um deles.
A Honda continua apostando as fichas no talento, experiência e velocidade de Pedrosa, além de trazer da Moto2 o talentosíssimo Márquez, que assombrou nas categorias base com atuações de gala. Já a Yamaha vai alinhar em Losail com a dupla mais forte do grid: Lorenzo e Rossi vão reeditar a parceria vitoriosa, mas menos conturbada que a primeira. E essa distribuição de forças por si só já garante disputas bem mais apertadas.
"Este ano será interessante", disse Lorenzo, prevendo maior equilíbrio e brigas mais acirradas no pelotão da ponta. E é verdade.