“Triste e decepcionado”, Van der Garde entra em acordo com Sauber e confirma “significativa compensação financeira”

Em nota nesta quarta-feira (18), Giedo van der Garde confirmou que entrou em acordo com a Sauber para encerrar de vez a ação que moveu contra a equipe suíça. No comunicado, o holandês fala de uma “significativa compensação financeira” e admite que seu futuro na F1 provavelmente acabou

Giedo van der Garde finalmente chegou a um acordo para encerrar de vez a ação que moveu contra a Sauber na Austrália. E pediu novas medidas para proteger os pilotos. O holandês de 29 anos reconheceu que recebeu uma “significativa compensação financeira” da equipe suíça pelo imbróglio e disse ainda que esse acerto foi uma prova de que seus direitos haviam sido desrespeitados. Van der Garde, entretanto, não entrou em detalhes sobre a quantia acordada com o time de Monisha Kaltenborn. Mas reconheceu que sua "carreira na F1 provavelmente acabou".

No início da semana passada, o holandês procurou a Justiça australiana alegando que tinha direito a uma das vagas de titular na esquadra suíça, em virtude de um contrato assinado no ano passado, quando ainda era o reserva do time.

Embora tenha vencido todas as batalhas nos tribunais, Van der Garde acabou por abrir mão do caso no último minuto e preferiu um acerto em outros termos com a esquadra, o que garantiu a corrida dos atuais pilotos da Sauber, o brasileiro Felipe Nasr e o sueco Marcus Ericsson.

Giedo van der Garde entrou na Justiça pela vaga na Sauber (Foto: Getty Images)

"Chegamos a um acordo com a Sauber e o meu contrato de piloto com a equipe foi encerrado por mútuo consentimento", afirmou o holandês em comunicado, nesta quarta-feira (18).

"Como piloto de corridas apaixonado que sou, eu me sinto triste e decepcionado. Eu tenho trabalhado muito durante toda a minha carreira, desde criança, quando já corria de kart aos oito anos, para viver o meu sonho de me tonar um bem-sucedido piloto de F1. E eu esperava que agora, finalmente, teria a chance de mostrar do que sou capaz de fazer, pilotando um carro para uma equipe respeitada do grupo intermediário do grid em 2015. Mas este sonho foi tirado de mim e eu sei que o meu futuro na F1 provavelmente acabou."

Van der Garde, então, foi ainda mais direto e revelou que seus patrocinadores fizeram pagamentos referentes à temporada completa deste ano ainda em 2014. "Houve uma série de especulações na mídia durante a semana passada, então quero definir claramente que os meu patrocinadores pagaram as contas de patrocínio referentes à temporada inteira de 2015 para Sauber no primeiro semestre de 2014. Isto foi simplesmente de boa fé e para ajudar a equipe com seus problemas de caixa. Efetivamente, esses pagamentos adiantados auxiliaram o time em 2014. Portanto, dizer que as decisões posteriores da Sauber foram feitas com base em acordos financeiros neste caso é bizarro e não faz sentido para mim", declarou Giedo, em referência clara aos contratos firmados pela equipe com Nasr e Ericsson no ano passado.

"Não tenho liberadade para discutir os detalhes, mas a Sauber pagou uma compensação significativa para evitar de ter de honrar o contrato que eles tinham comigo. Só por isso posso dizer que os meus direitos foram finalmente reconhecidos e que pelo menos alguma justiça foi feita", completou o competidor.

Van der Garde, que correu pela Caterham em 2013, disse que parou com as ações em Melbourne, pois "poderia ter destruído a equipe".

Entenda o 'caso Van der Garde'

A história remonta o fim do ano passado. Ainda com o campeonato em andamento, a Sauber anunciou a contratação de Marcus Ericsson, então sem poder correr pela Caterham— que se ausentou de duas das últimas três provas temporada. Era o primeiro sinal de que a equipe não honraria um dos contratos então em vigor. Tanto Adrian Sutil quanto Giedo van der Garde tinham acordos válidos para 2015. Os dois pilotos tiveram a exata noção de que não serviam mais quando Felipe Nasr foi confirmado.

Sutil e Van der Garde foram devidamente comunicados. Por SMS. O alemão reclamou, mas deixou quieto; o segundo, não. O segundo foi levar o desaforo à Justiça suíça. Em dezembro, os tribunais helvéticos deram ganho de causa ao holandês. Mas em nenhum momento a Sauber fez qualquer menção para cumprir a ordem.

Van der Garde, então, iniciou uma preparação física como nunca fizera em sua vida. Sem poder guiar carro algum, aguardou calado a pré-temporada da F1 e notou que a Sauber não errou a mão de novo como fez em 2014. Se o azul e amarelo C34 não é o mais rápido do grid, ao menos anda no meio do pelotão. 

No fim de semana passado, Van der Garde, pessoas próximas e seu advogado viajaram para Melbourne. Na segunda-feira, deram entrada com uma

ação na Corte do estado de Victoria para tentar garantir o que lhe era de direito e havia sido confirmado pela Justiça da Suíça.

Foi quando a Sauber mostrou ao mundo claramente que tinha feito algo de muito errado. Em vez de questionar alguma brecha no contrato que Van der Garde não haveria cumprido, o advogado de defesa partiu para alegações pueris, da qual a maior se evidenciava num "inaceitável risco de morte" que o piloto corria por nunca ter andado no carro. Ali também levantou-se a questão da superlicença que Giedo não tinha, mas o próprio havia confirmado que pedira à Federação Nacional de Automobilismo da Holanda.  

A Corte australiana deu evidente ganho de causa a Van der Garde. Depois de pensar, a Sauber resolveu apelar do resultado

Na quinta-feira, a tal apelação da equipe repetiu exatamente a mesma linha de defesa. Os advogados de Van der Garde deitaram e rolaram e trouxeram mais detalhes do caso: tanto o acordo do piloto era válido que a Sauber escreveu para o Quadro de Reconhecimento de Contratos — órgão da FIA que regula a questão — que ele fora encerrado em 6 de fevereiro deste ano, isto é, a Sauber negociou e anunciou Nasr e Ericsson quando Van der Garde ainda era seu piloto de fato.

Mas este comunicado de término de contrato acabou tendo valor no caso.

Novamente vitorioso nesta segunda instância, Van der Garde entrou com outra ação na Corte australiana: o chamado 'contempt of court' era o pedido para que a Sauber cumprisse devidamente o que foi estabelecido. A solicitação foi pesada: se o time de Monisha Kaltenborn não obedecesse, os carros e outros itens seriam confiscados nos boxes do circuito Albert Park e a chefe poderia ser presa.

O julgamento acabou arrastado para o sábado em Melbourne, e neste ínterim, Van der Garde apareceu no circuito à paisana, não conseguiu entrar no paddock com a credencial que tinha, esperou 25 minutos até passar pela catraca, foi à garagem da Sauber, viu os mecânicos lhe darem as costas e saírem em debandada, vestiu o macacão de Ericsson e ficou do lado do seu carro, tirou a roupa e foi embora: justamente porque a sua superlicença não havia sido emitida, já que o QRC ainda entendia que o piloto não tinha um contrato.

O choque da Sauber ao receber Van der Garde (Charge: Rodrigo Berton)
Precavida, Monisha deu ordem para que os carros não deixassem os boxes no treino livre 1; no segundo, Nasr e o sueco puderam ir à pista.

Nos bastidores, Sauber e Van der Garde iniciaram tratativas para chegar a um acordo. E por trás de toda história, há o interesse do sogro de Van der Garde, Marcel Boekhoorn, em comprar a Sauber. Em novembro, o empresário cuja fortuna é avaliada em quase R$ 6 bilhões esteve na sede da equipe suíça para negociar. Voltou em seu helicóptero de luxo com um não na cara e uma meta a cumprir.

 
"Certamente, o processo teria destruído a abertura da temporada em Melbourne, porque os carros da equipe teriam sido apreendidos pela Justiça, e isso poderia ter arruinado a carreira dos dois jovens pilotos Marcus Ericsson e Felipe Nasr. Então, decidi que não queria mais viver com isso, mesmo que fosse apenas a administração da Sauber responsável pela situação bizarra em que eu me encontrava", disse Giedo.

Van der Garde ainda revelou que sua ação pretendia chamar a atenção para a "criação de novas normas para proteger os pilotos em seus direitos". "Há numerosos exemplos de pilotos talentosos com boas intenções, mas sem nenhum tipo de apoio profissional que eu tive, e que viram seus contratos quebrados e as carreiras destruídas. Espero, portanto, que o meu caso sem precedentes sirva de exemplo para ilustrar tudo o que precisa ser mudado, e o que os regulamentos também ajudem a proteger os direitos dos pilotos", declarou.

Mesmo reconhecendo que sua vida na F1 provavelmente tenha acabado, o holandês ainda espera continuar nas pistas. "Gostaria muito de participar de corrida do WEC e nas 24 Horas de Le Mans na classe LMP1. Muitos ex-pilotos da F1 estão se dando muito bem no Mundial. Mas também vou olhar para outros campeonatos como o DTM em 2016", encerrou.

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