Aposta em si mesmo e paciência pela glória: chegou o dia de Da Costa na Fórmula E

Membro do grid da Fórmula E desde 2014, o português teve carros ruins por anos e, na hora que parecia ser o #1 da BMW, apostou que estaria mais perto das vitória se pulasse para a DS Techeetah. Estava certo

Em duas semanas, António Félix da Costa fará 29 anos de idade. Estará provavelmente na sua Cascaiz natal, em Portugal, aproveitando mais um aniversário e com o maior troféu da sua carreira em alguma prateleira dourada. Por muito tempo a trajetória do português foi atrapalhada por azares e batidas na trave, mas não mais. Agora, não. E se era por falta de dizer é isso há tantos anos, pode, enfim, tirar o grito que quiser dar: deste domingo (9) em diante, Da Costa é campeão da Fórmula E.

Desde cedo era evidente que se tratava de um talento. As vitórias em Macau, por exemplo, foram a demonstração em meio a um histórico positivo nas categorias-satélite. Em 2012, testou e foi muito bem, obrigado, com o RB8. Estava bem cotado na linha sucessória da coroa dos energéticos. O que aconteceu foi, bem, Daniil Kvyat. A porta da F1 se fechou abruptamente para não mais abrir.

Enfim, e por sorte, surgiu a Fórmula E. Em 2014, fechou com a Aguri para disputar o campeonato. O carro era fraco, mas logo em sua terceira prova, em Buenos Aires, venceu uma estranha corrida. Sim, muitos acidentes e problemas gerais sacaram os primeiros colocados na briga, mas era impressionante que ele estivesse ali, pronto, esperando a vitória. Venceu. E não voltou mais. Era janeiro de 2015 na vitória argentina, mas o próximo pódio – e no lugar mais alto, novamente – chegaria apenas em dezembro de 2018.

Durante o ínterim, carros terríveis. A Aguri durou duas temporadas e foi vendida para, imaginem, a Techeetah. Não se sabia bem o que seria o time chinês, novato e que usava motores Renault. Da Costa foi para a Andretti, que chegou a ter carro rápido, embora pouco confiável no primeiro ano. Mas o time norte-americano sofria. Sim, havia a chegada da BMW, com a qual começava a se encontrar em outras categorias, mas era apenas uma parceria.

Havia a promessa que, em 2018, a BMW entraria. E fez isso, mas nos dois anos anteriores o português penou. No ano em que muito se esperava e sobrou na pré-temporada, venceu a primeira corrida e foi vítima das expectativas. O carro não era tão bom assim. O contrato seguia por mais um ano, mas a abordagem da DS Techeetah rendeu a mudança. Desligou-se da BMW com a qual a parceria era mais extensa que na Fórmula E, deixando claro que o objetivo era a categoria dos bólidos. Foi para a Techeetah, agora equipe oficial da Citröen, e encarou o bicampeonato Jean-Éric Vergne de frente. Apostou em si mesmo.

Fez a escolha difícil atrás do caneco. Na pista, mostrou tanta coragem quanto na hora de tomar decisões. Após dias difíceis na Arábia Saudita, fez cinco pódios seguidos, três vitória. Domínio absoluto para cima de Vergne e para cima do restante do grid. Enquanto o francês se vê com problemas para manter o carro inteiro, Da Costa desanda e abrir, vencer e convencer. Enquanto os rivais têm dificuldade de sair do Grupo 1 da classificação para disputar a pole, ele janta as voltas lançadas na pista sem aderência. Não importa, o campeonato é dele.

E estava claro que era o ano dele. Na verdade, começou a ficar evidente ainda em Marrakech, mas quando todos chegaram a Berlim não havia sequer como contestar. Com duas corridas para o fim do campeonato, as chances matemáticas de batê-lo foram demolidas.

“Todo mundo se importa, é bonitinho. Meu telefone não para de piscar com mensagens. Todo mundo quer que eu ganhe. Acho que é minha hora”, falou após o quarto lugar do sábado.

Quem conhece Da Costa, sabe que momentos como esses foram afanados e escondidos do luso por muitos anos. Não mais. É campeão.

A comemoração da DS Techeetah (Foto: Fórmula E)

ANTÓNIO FÉLIX DA COSTA, CAMPEÃO e P2

O campeão, emocionado, destacou ter passados por momentos complicados e pouco espaço nos últimos anos, mas que finalmente valeu a pena. Exaltou, ainda, os rivais que ficaram perto dele na corrida.

“Estou sem palavras. Algumas vezes, estive tão perto de desistir durante os momentos difíceis e graças às pessoas ao meu redor, nunca desisti. Sou muito grato a essas pessoas que acreditaram em mim e em minhas capacidades, mesmo quando não terminava nem perto do pódio”, disse.

“Muito obrigado ao JEV, eu sei que é difícil para ele, mas ele me ajudou muito e foi principalmente graças a ele que me estabeleci tão rapidamente na equipe. Hoje nós tínhamos um plano e executamos perfeitamente. JEV e eu ajudamos um ao outro, mas foi muito intenso no final, pois Seb [Buemi] e Oli [Rowland] sempre estiveram lá. Todos foram muito justos hoje e correram como os campeões que são”, fechou.

A dobradinha de Berlim (Foto: Fórmula E)

JEAN-ÉRIC VERGNE, VENCEDOR

Após vencer a primeira na temporada, Vergne cravou um objetivo para a última rodada dupla do ano: conquistar o vice. E mandou um conselho para Da Costa: aproveita.

“Como equipe, não podíamos sonhar com um dia melhor. Vencemos o campeonato de equipes, o António conquistou o título de pilotos e saltei de nono para o segundo lugar da classificação. Agora, vou lutar pelo vice até o fim. Foi um dia fantástico e estou extremamente orgulhoso de fazer parte desta equipe”, comentou.

“Conheço bem a sensação que te atinge na última volta, pouco antes de cruzar a bandeira quadriculada, e você está prestes a ganhar seu primeiro campeonato. Provavelmente é o melhor momento na vida de um piloto e o António deve aproveitar cada segundo disso”, declarou.

Sébastien Buemi no pódio (Foto: Fórmula E)

SÉBASTIEN BUEMI, TERCEIRO

Após o segundo pódio consecutivo, o suíço lamentou que a Nissan ordenou sua ultrapassagem sobre Rowland tarde demais. Assim, não atacou da maneira que esperava.

“Tentei economizar o máximo de energia que pude e senti que a ordem para ultrapassar o Oli [Rowland] foi um pouco tarde, para ser sincero. Quando consegui fazer isso, era o final da corrida. Estou um pouco decepcionado porque sinto que poderia ter tido a oportunidade de terminar em segundo, caso tivesse usado bem a energia”, colocou.

“Estou triste pelo Oli, pois ele merecia um melhor resultado hoje. Marcamos bons pontos para a equipe e parabéns ao António, ele fez um trabalho fantástico e estou feliz por ele. Mas ainda há trabalho a fazer. É o meu segundo pódio aqui em Berlim e estou ansioso para a rodada final”, fechou.

Lucas Di Grassi Fórmula E Berlim
Lucas Di Grassi no domingo (Foto: Fórmula E)

LUCAS DI GRASSI, SEXTO

Ainda na terceira colocação do campeonato empatado a Max Günther, o piloto da Audi lamentou a posição de classificação. Segundo ele, saindo de 12º, fez o que era possível.

“Teremos mais uma rodada dupla para encerrar a temporada 2020 na próxima quarta e quinta-feira. A prova vai acontecer aqui mesmo em Tempelhof e novamente a DS Techeetah será o time a ser batido. Mas a nossa equipe está determinada e vamos lutar até o final, como fizemos até aqui”, ponderou.

“Sobre a prova de hoje, em uma categoria competitiva como a Fórmula E, quando você larga de 12º não pode esperar muito mais do que fizemos aqui. Poderia ser melhor, sim, mas foi o que era possível no momento”, observou.

Felipe Massa voltou aos pontos (Foto: Fórmula E)

FELIPE MASSA, DÉCIMO

Já Massa, apesar de ter voltado a marcar pontos, lamentou bastante ficar somente com o décimo posto. Segundo ele, o carro tinha condições de mais em Berlim.

“Não sei se deveria estar feliz ou realmente frustrado. Tive bom desempenho na classificação para entrar na Superpole e comecei a corrida com bom ritmo. Deu para poupar energia no começo, mas no meio da corrida perdi muita quando brigava com os carros a minha volta e tentava manter a posição”, contou.

“Isso teve um impacto em nossa estratégia e criou alguns problemas para a última parte da corrida. Marcar um ponto é melhor que não marcar nenhum, mas não estou feliz com o resultado. Não reflete nossos esforços ou nosso potencial. Quero lutar por mais, algo que espero poder fazer na quarta e na quinta-feira”, fechou.

Sérgio Sette Câmara em Berlim (Foto: Fórmula E)

SÉRGIO SETTE CÂMARA, 21º

O novato voltou a terminar na rabeira, em 21º, mas perto do companheiro Nico Müller. Complicado fazer juízo de valor sobre se isso é totalmente ruim ou algo de bom, mas é a situação que está posta.

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