Campeão inquestionável, Wehrlein sobra na agonia de rivais e vive ápice com título mundial
Enquanto a Jaguar navegou em um mar de problemas na hora decisiva, Pascal Wehrlein foi perfeito para conquistar o título mundial da Fórmula E 2023/24. Dono da primeira vitória da equipe na categoria, o piloto se coloca no panteão dos grandes nomes da marca de maneira inquestionável e com a certeza de que o título está em ótimas mãos
Não teve para ninguém. Um dia depois de provar que não seria afetado pela pressão de se aproximar mais do que nunca do primeiro título mundial da carreira, Pascal Wehrlein voltou à ExCel Arena e fez mais uma apresentação impecável para atingir o ápice da carreira. Campeão da Fórmula E pela primeira vez, o alemão consolidou uma temporada absurdamente regular, reafirmou-se como protagonista e mostrou de novo a agressividade esperada de um piloto da Porsche, uma das marcas mais pesadas do mundo. O grito, entalado desde o ano passado, saiu em forma de choro ao cruzar a linha de chegada em Londres.
Não foi fácil. Mesmo depois de pontuar em 12 de 14 corridas, Wehrlein chegou na rodada dupla final da Fórmula E, em Londres, com 12 tentos de déficit para o então líder Nick Cassidy e empatado com Mitch Evans — ambos pilotos da Jaguar. Quase um corpo estranho em uma batalha tripla, Pascal foi simplesmente perfeito no fim de semana inglês e não cometeu um erro sequer. Enquanto os rivais se afundaram no próprio caos particular, o alemão manteve a frieza e só desabou depois de garantir a taça.
A Jaguar, campeã do Mundial de Equipes também pela primeira vez, errou. E justamente quando não poderia. Depois de Cassidy viver um fim de semana trágico em Portland e permitir a aproximação de Evans e Wehrlein em um campeonato que parecia encaminhado, novos equívocos surgiram em Londres — desta vez, por parte da equipe.
Primeiro, a decisão de mandar Cassidy à pista para a volta final da classificação de sábado em um momento no qual todos os outros pilotos tiraram o pé. Com muito tráfego pela frente, o neozelandês nem sonhou com a pole e caiu ainda na fase de grupos, o que o fez largar lá no fundo. Na corrida, os felinos foram aniquilados pela estratégia da Porsche, que claramente pegou o time de surpresa e nem sequer deu oportunidade de resposta. O segundo lugar de Evans, inclusive, veio muito por conta do abandono de Maximilian Günther — que andava atrás de Pascal, o líder.
Neste domingo (21), mais uma vez, a Jaguar passou longe do ideal na estratégia de corrida. Depois de uma classificação espetacular de Cassidy, uma das melhores da história da Fórmula E, o time britânico colocou o neozelandês em uma boa posição com as duas ativações do modo ataque, mas em terceiro na pista. Ou seja, apesar de ter chances elevadas de ataque, já que Wehrlein e Evans — ambos à frente — precisariam perder tempo para ativar a potência extra duas vezes, Nick foi colocado logo à frente de um pelotão que se mostrou explosivo durante os dois dias.
Resultado: Günther foi para cima de António Félix da Costa de maneira desastrada, os dois acertaram a traseira de Cassidy e o pneu do neozelandês foi furado. Ali, era o fim da linha. Sobravam apenas Wehrlein e Evans na briga.
O momento decisivo, então, aconteceu no momento em que Pascal e Mitch foram em direção à segunda ativação do Attack Mode, uma volta depois de Cassidy ser abalroado. Os dois passaram corretamente pelo traçado externo, mas só o alemão ativou a potência extra corretamente — em incidente que ainda não foi explicado pela Jaguar. Com isso, Mitch precisou perder tempo mais uma vez na volta seguinte e abandonou qualquer chance de taça. Sob risco de ser punido, ainda precisou tirar o pé para gastar o modo ataque antes da bandeirada.
Os erros foram óbvios, mas não suficientes para tornar Wehrlein campeão. Era preciso estar lá, agarrar a chance, não cometer erros. E Pascal esteve. Sem correr riscos na segunda posição, o alemão simplesmente acompanhou o vencedor Oliver Rowland até a linha de chegada e celebrou o grande momento da carreira em um fim de semana no qual mostrou sua melhor versão: agressivo, impiedoso e letal.
Campeão de tudo no kart e um dos maiores talentos de sua geração, Wehrlein não teve um início fácil nos monopostos e conquistou o primeiro grande título em 2015, no DTM, quando era reserva da Mercedes na Fórmula 1. No ano seguinte, foi jogado pela equipe na nanica Manor, fez mais uma temporada pela Sauber, mas foi preterido na escada do time alemão por Esteban Ocon.
Depois de duas temporadas na Fórmula E pela Mahindra, em 2018/19 e 2019/20, Wehrlein se mudou para a Porsche no segundo ano da equipe na categoria para tentar levar a marca à glória. Desde então, só evoluiu: 11º na primeira edição, décimo na segunda, quarto na terceira e campeão na quarta. Dono da primeira vitória da história da escuderia alemã na modalidade, triunfo vital para que a montadora desistisse de uma possível saída, Pascal perseverou, cresceu e atingiu o ápice em 2024.
O título mundial foi conquistado novamente na base da regularidade, mas Wehrlein mostrou na rodada final de Londres o que ainda talvez faltasse em toda essa trajetória: a agressividade de quem quer ser campeão de um jeito ou de outro. A exibição sublime de sábado e os constantes ataques sobre Evans no domingo trouxeram isso. Foi uma conquista inapelável e sem margem para questionamentos.
Pascal não atingiu o ápice apenas pelo título, mas pela evolução técnica e por tudo que vem mostrando ao longo dos últimos dois anos. Antes da rodada derradeira, ele avisou: a pressão não assusta. A comprovação veio na pista, e o choro após a conquista mostrou outra face de alguém sempre tão sereno. A taça da Fórmula E está em ótimas mãos.
A Fórmula E agora entra de férias e retorna com atividades de pista somente entre os dias 4 e 7 de novembro, com os testes coletivos de pré-temporada na pista de Valência, na Espanha. A temporada 2024/25 começa aqui no Brasil, com o eP de São Paulo, marcado para o fim de semana do dia 7 de dezembro.
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