Com imprevisibilidade irritante, FE empolga só quando resolve virar bate-bate e não se importa com campeão

Uma organização como a Fórmula E, bem desenvolvida e planejada, resolveu mesmo colocar a leitura pelo varzeano como o plano de ação para seu negócio que ao menos deveria ser o seu principal: as corridas. O eP de Paris foi mais uma demonstração

Corrida: E-Prix de Paris 
Pista: Circuit des Invalides 
Extensão: 1,93 km, 14 curvas
Pilotos inscritos: 22 
Pneus: Michelin Pilot Sport all-weather
Vencedor: Robin Frijns
Pódio: André Lotterer e Daniel Abt
Brasileiros: Lucas Di Grassi em quarto e Felipe Massa em nono
Palavra do vencedor: "Foi a corrida mais difícil da minha vida. Se você lidera, a última coisa que quer é chuva. Tudo fica imprevisível, você não pode cometer nenhum erro e eu ainda tinha André atrás de mim bem perto. As condições eram complicadas. Estou muito feliz de levar essa corrida para casa."
Momento da corrida: Após 15 minutos de prova, a chuva começou a cair forte em Paris e aumentou a participação do acaso na etapa.

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Seria injusto dizer que o eP de Paris deste sábado (27) não foi divertido. Até foi. Mas foi divertida numa leitura pelo tosco. É a marca de uma Fórmula E que mudou o formato de corrida para realmente se aproximar do game Mario Kart: não pela questão energética, mas pela constante necessidade de colisões e empurrões para que exista um andamento nas corridas. A forma com que a FE parece enxergar sucesso para si mesmo é fazer crescer a leitura pelo varzeano.

 
O curioso é que a Fórmula E não é uma organização varzeana, pelo contrário. É um campeonato estruturado, com metas de crescimento e poder para atrair várias das maiores marcas do mercado e maiores cidades do mundo. A várzea é como vê o sucesso nas pistas, como vê provas iguais às de Paris como modelo a seguir e não como uma aparição do acaso para abraçar geral. Sim, choveu, é verdade. Mas a gente não começou a ver o modus operandi do campeonato ontem, não é?
 
Já foi destacado antes, após a última corrida, inclusive, que o formato da classificação na ordem do campeonato faz bem para criar uma bagunça nas corridas e equilibrar o campeonato. E a opinião segue: entre as novidades da FE para esta temporada, isso foi acerto. O problema é buscar o bate-bate como única alternativa para criar as corridas. 
Robin Frijns (Foto: Reprodução/Twitter)

O pacote aerodinâmico da categoria é bom para igualar forças e, embora qualquer pacote aerodinâmico no mundo de construtores só leve até determinado ponto para equilibrar o campeonato, é um começo interessante. A classificação ajuda a formar uma espinha dorsal interessante de um campeonato que trabalha pelo equilíbrio dentro dos limites do profissionalismo esportivo.

 
A questão que parece cada vez mais clara a cada etapa é que a aposta em praticamente acabar com a exigência de gerenciar energia para terminar as corridas não foi um erro: foi projeto. E o projeto é forçar, mesmo dentro do caminho certo das especificações técnicas em busca do equilíbrio, caçar esse equilíbrio com uma leitura pelo tosco. Uma leitura pelos bons vídeos de highlights que podem ser editados para enganar aqueles mais jovens que não tiveram paciência de ver 50 minutos de corrida. É esse o público que a FE quer, o não fã? Originalmente, ao menos a proposta parecia ser converter a fãs os indiferentes.
 
Naquela opinião de que a Fórmula E se entende mais como um evento que um campeonato, pouco importa quem será o campeão. Pouco importa até quem ganha as corridas. O que importa mesmo é o meme durante a prova, o vídeo editado dos melhores momentos e muitas piadas com o caos da prova. Não satisfaz.
 
A corrida foi divertida, sim. Mas o divertimento pela tosquice cansa depois de algumas demonstrações em sequência. 

Vencedor de primeira viagem e agora líder do campeonato, Frijns afirmou que nunca teve uma corrida tão complexa antes.

 
"Foi a corrida mais difícil da minha vida. Se você lidera, a última coisa que quer é chuva. Tudo fica imprevisível, você não pode cometer nenhum erro e eu ainda tinha André atrás de mim bem perto. As condições eram complicadas. Estou muito feliz de levar essa corrida para casa", celebrou.
 
O holandês ainda admitiu que foi ajudado com Sébastien Buemi, que ocupava a liderança quando começou a chover. Em seguida, o suíço teve um furo de pneu e deixou a briga pela vitória. "Ele estava 2s à frente, mas eu não conseguia ver onde eu estava em algumas partes da pista, então acabou me ajudando especialmente com os pontos de freada nas curvas pequenas." 
André Lotterer (Foto: DS Techeetah)
Lotterer, que voltou ao pódio e agora assume a segunda colocação da competição, gostou do que conseguiu realizar ao largar no sexto posto.
 
"É o segundo! Foi uma boa recuperação hoje: comecei em segundo e terminei em sétimo, aproveitei oportunidades de ultrapassar no começo, quando era possível, e dei sorte também com momentos como o pneu furado do Buemi. Boa etapa pensando no campeonato" falou.
 
Já um animado Daniel Abt, que fechou o pódio, lamentou a chuva. Para ele, não fosse a mudança total de condições, tinha plenas chances de brigar pela vitória.
 
"Tive uma corrida bem legal, fiz uma ultrapassagem ótima para cima de Felipe e fiquei triste que começou a chover, porque dificultou tudo. Acho que poderíamos lutar pela vitória no seco, mas numa chuva assim o melhor que você tem a fazer é levar o carro para casa. Marquei bons pontos e estou bastante feliz", comentou. 
Lucas Di Grassi (Foto: Audi)

Quarto colocado na corrida e no campeonato, Lucas Di Grassi também saiu do carro animado com o eP de Paris.

 
“Foi uma corrida sensacional, com chuva e piso seco. Aconteceram várias coisas, mas consegui terminar e agora estou em terceiro no campeonato. Com tudo o que rolou aqui hoje, foi uma prova para sobreviventes. Conforme as coisas aconteciam era muito difícil de fazer uma leitura e traçar estratégias. Para chegar ao final foi preciso muita calma e controle em vários momentos. Eu já esperava uma prova difícil, então acho que já estava meio que preparado para um dia cheio de surpresas”, detalhou. 
 
“A próxima corrida será em Mônaco, e estou feliz com o que temos mostrado. Toda prova, estamos andando forte. E agradeço à equipe por tudo o que fez não só aqui em Paris, mas nas outras provas também”, continuou.
 
“Acho difícil termos um nono vencedor diferente em Mônaco – até por que eu quero vencer novamente!”, brincou Lucas. “Mas esse campeonato nos surpreende a cada corrida. Então acho que Mônaco será outra etapa muito especial”, completou.
 
Felipe Massa esteve na briga pelo pódio durante boa parte da prova, mas acabou pego pela conhecida dificuldade em chão molhado. Acabou rodando, mas marcou dois pontos como a nona colocação.

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