Guia Fórmula E 2025: Porsche mostra cartas e chega preparada para superar Jaguar
A Porsche aposta nas consistências de Pascal Wehrlein e António Félix da Costa para destronar Jaguar e conquistar títulos inéditos na Fórmula E. No meio do caminho, a fabricante alemã ainda terá de aprender a lidar com a Kiro, a mais nova cliente no grid, e o relacionamento com a parceira Andretti
Enquanto António Félix da Costa mira começar a temporada 2024/25 com a mesma força com a qual terminou o último certame — quando venceu três das últimas cinco corridas — e Pascal Wehrlein, atual campeão, vive a expectativa de encarar um desafio inédito na carreira, a Porsche tem os seus próprios objetivos a serem alcançados na Fórmula E. Além do anseio de finalmente conseguir derrotar a grande rival Jaguar e conquistar o primeiro Mundial de Equipes desde que chegou à categoria elétrica, agora, além da Andretti, a fabricante alemã também vai contar com uma nova cliente no fornecimento de trem de força — a Kiro, antiga NIO e ERT.
Com passagens por outras classes do mais alto nível do automobilismo, como Fórmula 1, Mundial de Endurance (WEC) e Mundial de Rali (WRC), por exemplo, a gigante alemã decidiu escrever mais um capítulo na vitoriosa história e desembarcou na competição dos carros elétricos em 2019/20. Desde o eP de Diriyah daquele ano, rodada dupla que abriu o campeonato, em novembro de 2019, muitas lições foram aprendidas — oriundas, principalmente, de algumas decepções que colecionou desde então. Durante esse período, a pior parte não foi ver adversárias como a DS Citröen ou a compatriota Mercedes sagrando-se campeãs entre 2020 e 2022, mas, sim, assistir a Jake Dennis levantar o primeiro e único troféu da carreira com a equipe cliente Andretti — que usava os mesmos motores.
Mas, aos poucos, o vento parece estar soprando cada vez mais favoravelmente. Após pontuar em 14 das 16 corridas disputadas e subir no degrau mais alto do pódio em três oportunidades, em uma regularidade surpreendente, Wehrlein foi capaz de superar Mitch Evans e Nick Cassidy para levantar o primeiro troféu do Mundial de Pilotos da história da Porsche na Fórmula E. E poderia ter sido muito melhor.
Ao mesmo tempo em que Pascal abusou da consistência e fechou o ano com chave de ouro na rodada dupla em Londres, terminando respectivamente em primeiro e segundo nas duas corridas, Da Costa teve temporada mais capenga e irregular. Sim, o português até triunfou mais vezes do que o colega de garagem — em Berlim 2, Xangai 2 e as duas provas em Portland —, mas terminou na zona de pontuação em apenas 50% das provas realizadas. Para se ter uma ideia, entre os ePs da Cidade do México e de Mônaco, as oito primeiras corridas, o campeão de 2019/20 somou apenas 26 pontos. E isso pesou muito na balança da Porsche.
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Claro, no meio do caminho houve uma decisão um tanto quanto polêmica da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) de desclassificar António após o triunfo no eP de Misano 1, mas é preciso considerar o que consta na papeleta oficial. Para fins de comparação, Evans somou 77 tentos durante o mesmo período, enquanto Cassidy chegou a 95. Junta, a dupla neozelandesa acumulou um total de 172 pontos para a Jaguar. Por outro lado, considerando os 102 conquistados por Wehrlein ao longo desse tempo, a Porsche totalizou 128 — 44 a menos que a rival na primeira metade da temporada.
Vale lembrar que os felinos venceram o campeonato ao construir uma vantagem de apenas 36 pontos sobre os alemães após a última etapa em Londres — onde, inclusive, Da Costa saiu completamente zerado de um fim de semana pela quarta vez no ano. No agora extinto Troféu de Fabricantes, a diferença foi ainda menor: 455 x 451 para a Jaguar. Ou seja, margens mínimas que tiraram da Porsche a oportunidade de encerrar um ano mais do que perfeito, pois além do título individual de Wehrlein, a base de Stuttgart poderia ter fisgado um prêmio para chamar de seu.
Para não dizer que não falei das flores, o português foi o segundo piloto que mais pontuou na segunda metade de certame (108), ficando atrás apenas de Evans (115). Embora não tenha sido o suficiente para reverter o cenário no campeonato, a Porsche decidiu dar um voto de confiança ao #13 e o manteve na escalação, mesmo em meio aos rumores de que poderia ser substituído por Nico Müller em algum momento. A esperança é a de que Da Costa prolongue a boa fase para 2024/25 e consiga ser tão regular quanto o companheiro de equipe, pois um novo sexto lugar entre os Pilotos é algo muito aquém do que a fabricante precisa e tem a oferecer. Consistência é a palavra-chave.
Além disso, um fator importante que entrou em cena na temporada passada foi o bom entendimento dos pneus Hankook, principalmente por parte de Wehrlein. Agora, com a chegada da Gen3 Evo, a borracha também passou por mudanças, apresentando uma construção diferente: os compostos são mais macios e mais propensos à degradação, e quando combinados com a tração integral, tendem a deixar o Attack Mode de 350 kW mais eficiente.
“O ponto crucial será alcançar o estado correto do pneu nas voltas corretas, onde precisaremos do desempenho máximo — e isso significa pneu dianteiro com o pneu traseiro, não apenas um eixo no estado perfeito”, avaliou Florian Modlinger, chefe da Porsche na Fórmula E. “Teremos desgaste térmico e precisaremos ver em cada pista qual eixo sofrerá mais, e assim neutralizaremos com as medidas corretas”, explicou.
Outro ponto a ser observado é em relação ao trem de força. Ao mesmo tempo em que já estão de olho na era Gen4, que estreia na temporada 2026/27, as fabricantes precisam continuar investindo tempo e recursos no desenvolvimento do atual maquinário. Desta forma, com uma homologação completamente nova em comparação com a de 2023/24, a Porsche promete uma melhoria geral em todos os aspectos, focando nos pontos fracos e trabalhando para extrair mais desempenho para a geração vigente de carros. Ou seja, os bólidos roxos devem se apresentar ainda mais fortes.
Entretanto, há um novo desafio pela frente. Além da Andretti, para quem fornece motor desde 2022, a Porsche recentemente fechou um acordo com a Kiro, que recebeu o carro usado pelos alemães nas últimas duas temporadas: ou seja, o carro campeão da Fórmula E com Dennis e, depois, com Wehrlein. Há vantagens e desvantagens, porém, que acompanham a nova empreitada — primeira do tipo na Fórmula E.
Os pontos negativos abrangem a necessidade de se adequar ao processo de ter de dar suporte e atender à demanda de uma segunda parceira, mas, principalmente, de não deixar que o relacionamento com a Andretti seja afetado de alguma forma. Roger Griffiths, chefe do time norte-americano, garantiu que a Porsche “não teria aceitado [o acordo com a Kiro] se tivesse medo de qualquer tipo de impacto sobre nós”. De qualquer forma, o dirigente mostrou-se ansioso para entender como a dinâmica funcionará durante os fins de semana de corrida.
Por outro lado, a ex-ERT chega para ser uma cliente muito mais flexível e disposta a sofrer influência direta dos alemães — e um exemplo disso é a chegada de David Beckmann, piloto com fortes ligações com a Porsche, para ocupar a vaga do brasileiro Sérgio Sette Câmara na nova temporada. Com dois carros a mais no grid, a companhia também terá a oportunidade de obter informações mais precisas, além, claro, do ganho financeiro com a venda do Porsche 99X Electric, bicampeão do Mundial de Pilotos e homologado para a Gen3.
“É uma grande oportunidade para as duas partes, mas, primeiro, eles precisam claramente melhorar e, então, precisamos nos conhecer, como fizemos com a Andretti. Vamos ver qual é a situação deles, qual é a nossa e quais podem ser os benefícios [da parceria]”, avaliou Modlinger, líder da Porsche na categoria elétrica.
As cartas estão na mesa, e a disputa contra a Jaguar nos Mundiais de Equipes e de Construtores se apresenta como um jogo em que a fabricante alemã tem todas as armas necessárias para competir.
A Fórmula E começa a se preparar oficialmente para a estreia da temporada, já nesta semana, no dia 7 de dezembro, em São Paulo. O GRANDE PRÊMIO fará a cobertura completa do evento, com presença IN LOCO, e do campeonato na íntegra.
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