Na caça ao bi, Vergne resiste, domina, lidera e se põe como cara da Fórmula E

Depois de se mostrar como um piloto maduro na temporada 2017/18, Jean-Éric Vergne aproveitou a atual jornada para deixar claro que consegue sobreviver à dificuldade, dominar um campeonato quando tem as ferramentas e, por fim, soube se colocar como líder entre os pilotos. É o cara da Fórmula E, quase que inegavelmente

Jean-Éric Vergne deu uma entrevista na última semana em que falou na demora de alguns meses para que DS e Techeetah se entendessem bem após começarem a trabalhar juntas, algo que aconteceu no segundo semestre de 2018. Lembrou, porém, que a DS chegava à equipe chinesa já conhecendo o piloto dos tempos em que trabalharam juntos na Virgin. No fim da história, Vergne fez uma observação por conta própria: "acho justo dizer que não sou o mesmo cara daqueles tempos". De fato, não é.
 
Na realidade, já não era ano passado. Vergne se tornou um novo piloto a partir do momento em que foi chamado para ser membro fundador da Techeetah, na temporada 2016/17 da Fórmula E. Vergne estreara na categoria dos bólidos elétricos em meados da temporada inicial, ainda em dezembro de 2014, pela Andretti. Havia um desencontro ali sobre quais seriam os próximos passos do francês após deixar a F1 semanas antes. Era mesmo a Fórmula E ou aquilo era um pulo para guiar pela Andretti na Indy? Investiria naquele desafio novato por quanto tempo?
 
Ficou até o fim da temporada e mostrou tudo aquilo que já se sabia dele. Podia ser rápido e seria agressivo quase que como regra, não apenas contra outros pilotos em brigas diretas mas no simples manejo do carro, até na hora de atacar as zebras nas curvas. Terminou aquele primeiro ano, mesmo com duas corridas a menos que os demais, como o dono de mais pole-positions. Mas a vitória não veio e não veio no ano seguinte, já pela DS Virgin, quando ainda se envolveu em acidente com o companheiro Sam Bird, que brigava pelo título e ficou bravo.
Jean-Éric Vergne (Foto: Reprodução/Twitter)

O mal-estar foi grande. Vergne então foi recrutado pela Techeetah, que iniciava a história na Fórmula E após a compra da Aguri. Vergne decidira permanecer na categoria, nada de Indy, e agora era claramente o capitão de um projeto que chamou a bordo Ma Qing Hua, chinês como o time, mas depois Esteban Gutiérrez e Stéphane Sarrazin. Era Vergne e mais um – e deu certo.

 
Logo de cara, fazendo uso de motores da Renault, a Techeetah tinha muito mais sucesso que a antecessora Aguri. Era rápida, em determinados momentos tinha o carro mais veloz do grid, mas ainda faltava muito em confiabilidade. O noviciado pesou, mas Vergne estava sempre entre os primeiros. Fez cinco pódios: cinco P2 e a primeira vitória, que veio enfim no encerramento do campeonato, em Montreal. Tirando as provas em que o carro deu pane, o francês havia se colocado no top-8 em todas as provas: 9/12, a quinta colocação do campeonato.
 
O suficiente para provar que alcançara outro patamar. Com a responsabilidade de líder de um projeto, Vergne não mostrava mais os trechos do jovem relapso que disputa atenção e espaço no programa da Red Bull, fazia os primeiros movimentos numa FE em que não sabia se ficaria ou que entrava numa equipe já voltada para outro piloto. 
 
O segundo ano de Techeetah, ainda com motor Renault, mostrou uma equipe que colocava um ponto de exclamação na impressão anterior que sabia trabalhar. O carro parou de quebrar a todo momento e seguia rápido. Foi a temporada da maturidade de Vergne, algo que faltava no estilo de pilotagem dele. Bird e Felix Rosenqvist se lançaram às vitórias nas primeiras três etapa, mas JEV sempre esteve entre os cinco primeiros. A partir de Santiago, começou a mostrar que venceria nas pistas em que tinha o melhor carro. Nas outras provas, pontuaria muito.
 
E foi a toada da disputa. Rosenqvist errava e via a Mahindra falhar, Bird não mantinha a regularidade do francês, um pouco por si mesmo e muito pela falta de velocidade do carro em certos locais, mas Vergne não desapontava. Venceu quatro das 12 corridas e pontuou em todas as provas do calendário. Não cometeu erros custosos, manejou o carro com agressividade quando precisava e teve o cuidado que a dianteira pedia. Mostrou-se um novo piloto. E ainda passou a ter sucesso no endurance, venceu corridas na ELMS pela G-Drive e ainda venceu as 24 Horas de Le Mans na pista, embora tenha sido desclassificado depois.
Jean-Éric Vergne em Sanya (Foto: DS)

Aquela temporada foi a da maturidade, essa é a de um passo a mais. O campeonato 2018/19 não esteve sob controle desde o início. A Techeetah tomou o lugar da Virgin como equipe de fábrica da DS Citröen, que ainda não venceu títulos de Pilotos ou Equipes nos primeiros quatro anos. Mesmo assim, o começo foi promissor. Vergne escapava para a vitória em Ad Diriyah, mas uma punição estranha colocou a vitória nas mãos de António Félix da Costa. Vergne largou em segundo em Marrakech e, mais rápido que o pole Bird, tentou ultrapassar na largada. Reminiscência do velho JEV: a precipitação causou uma rodada, erro que ele assumiu, e transformou o quinto lugar no resultado possível.

 
Mas a sensação após as duas corridas iniciais era de que Vergne tinha nas mãos o melhor carro do campeonato. Foi uma surpresa, então, quando não pontuou nas três etapas seguintes. A sorte dele era o rodízio de vencedores que impedia que alguém escapasse e deixava a competição aberta. De Sanya em diante, Vergne voltou a se tornar o principal piloto do grid. Das últimas seis provas, venceu três, foi a mais um pódio e somou mais um sexto posto. 
 
Se tinha pontos de desvantagem de 26 pontos para o líder após as primeiras quatro provas, chega à decisão com 32 tentos de vantagem. Os erros ali estiveram, bem como as mudanças de motor e grupo de trabalho, mas Vergne soube colocar os problemas sob os braços e controlar um rival e companheiro de equipe perigoso em André Lotterer.
 
A temporada passada foi quando Vergne mostrou que conseguia ser um piloto maduro; agora, na jornada 2018/19, mostrou a face de quem tem velocidade e consistência para resistir quando as coisas vão mal e dominar quando encontra um espaço.

E se pôs também como um líder entre os pilotos, fazendo críticas contundentes: por exemplo ao afirmar que o novo formato das corridas da FE força "corridas sujas" e afirmar que a classificação funciona em "loteria" – por segurar os líderes do campeonato para andar quando a pista é pior -, além de pedir comissários permanentes para que as punições tivessem mais consistência. Líder na pista e fora dela.

 
Resistir e dominar. É desse jeito que chega para decidir um campeonato que se virou a seu favor, seja pela ultrapassagem arrojada em Sanya ou pela defesa encardida de Berna. Vergne é o cara da Fórmula E.

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