Rowland vira rolo compressor da Fórmula E no México e joga água na tequila da Porsche
Oliver Rowland ignorou solenemente o favoritismo da Porsche no eP da Cidade do México e aproveitou a última relargada para engolir três carros empurrados pelo motor alemão. Mais uma vez, o inglês comprovou que é a grande pedra no sapato das poderosas do grid
Conforme a Fórmula E se aproximava do fim de semana de corrida na Cidade do México, a análise geral sobre a etapa era óbvia: a Porsche, vencedora das três últimas provas no local (duas com a equipe de fábrica e uma com a cliente Andretti), era a grande favorita. A classificação deste sábado (11), então, terminou com os dois carros da marca alemã na final e reforçou a sensação de que seria necessário um desastre para que nenhum dos dois vencesse. A tequila da celebração estava pronta, mas havia um rolo compressor no caminho: Oliver Rowland.
Até a chegada da corrida, nada de muito anormal aconteceu na Cidade do México. Mesmo com um TL2 que trouxe uma inesperada chuva, dificultando bastante o aprendizado de quem não conseguiu se criar no TL1, o poderio alemão estava claro. Na classificação, Pascal Wehrlein deu aula mais uma vez, liderou o próprio grupo e derrotou o companheiro António Félix da Costa para garantir a pole e puxar o 1-2 da Porsche.
A ameaça, porém, sempre esteve ao lado. Largando em quarto, Rowland tem nas mãos uma Nissan que só cresce — e que, mais uma vez, arrebatou completamente o protagonismo para si. Em estratégia perfeita (e arriscada) no uso do Modo Ataque, o time japonês surpreendeu a Porsche e contou com o arrojo do britânico para buscar um resultado que, devido às circunstâncias, chegou sim a ser difícil de alcançar em determinado momento.
Não que a Nissan não tenha poderio o suficiente para incomodar a Porsche — muito pelo contrário, pois já comprovou que tem. No entanto, o histórico recente da montadora alemã no local e o desempenho na classificação indicavam que a briga das outras seria mesmo pelo terceiro lugar. E não foi bem assim que as coisas aconteceram.
Com os dois carros nas duas primeiras posições, o plano da Porsche era claro: fazer Da Costa proteger Wehrlein e manter ambos à frente até a ativação do Modo Ataque em um ponto mais avançado da prova. Tudo pareceu correr bem no início, mas a chegada de Rowland e Jake Dennis entre os primeiros bagunçou tudo. O português chegou a cair para quinto e, imediatamente, as coisas começaram a fugir do controle, conforme admitiu o alemão.
Um ponto muito interessante sobre o modo como Rowland venceu a corrida foi a estratégia. Enquanto a previsão indicava que usar o Modo Ataque em duas ativações de 4min seria mais vantajoso, o inglês optou por um plano diferente: 2min + 6min. Para isso, porém, seria necessário aguentar a pressão de carros que tentariam extrair o máximo da potência extra e da nova tração integral, vindo com tudo para o ataque.
Pois bem, foi o que Rowland fez. Com defesas importantes e um ataque fundamental em Da Costa, que chegou a ser levemente empurrado para fora da pista, o britânico se colocou na posição de ser o último dos ponteiros a ter um Modo Ataque ativado. Nem isso parecia ser o bastante, entretanto, já que o safety-car entrou em batida de David Beckmann e impediu o uso da potência extra para qualquer ultrapassagem.
A questão é que a sorte tira, mas também dá: quando o carro de segurança deixou a pista, na volta 31 de 36, o então quarto colocado Rowland ainda tinha cerca de 1min30s restante de Modo Ataque para usar. Seus concorrentes, por outro lado, já tinham feito todas as ativações, o que deixou o cenário claro: o inglês iria para cima.
Foi tudo muito rápido: sem perder tempo e ignorando totalmente o favoritismo creditado — de forma justa — à Porsche, Rowland enfileirou ultrapassagens sobre três dos quatro carros que usam o trem de força alemão. O primeiro a perder o posto foi Dennis, logo na curva 1, enquanto Wehrlein ficou para trás algumas curvas depois. Por fim, ainda no giro 31, Oliver ignorou a fechada de porta de Da Costa e tomou o primeiro lugar, instantes antes de um novo safety-car (desta vez, causado por Mitch Evans).
Ou seja, em apenas uma volta, Rowland passou como um rolo compressor por três carros de motor Porsche, o grande nome do fim de semana. Dennis já não tinha condições reais de brigar pela vitória, mas Wehrlein e Da Costa se mantinham como os grandes favoritos.
No pulo do gato, a Nissan dominou a gigante alemã na estratégia e mostrou uma compreensão incrível do que seria o melhor plano. Plano esse, porém, que não poderia ser executado por qualquer um: seria necessário defender com a força de um leão e atacar com a precisão de uma águia. Nessa janela curta, o britânico se sobressaiu.
Desde a temporada passada, já está claro que a Nissan é a grande ameaça ao reinado de Porsche e Jaguar na Fórmula E. Com um piloto experiente, que é capaz de extrair tudo que o carro pode oferecer, mas com a gana de um novato que ainda busca seu primeiro grande título na carreira, o forte conjunto japonês voltou a ser protagonista. Mais uma vez, Rowland brilhou como um verdadeiro postulante à taça mundial — e a tequila da celebração na Porsche, que certamente foi tomada após o pódio duplo, trouxe um gosto mais aguado do que o time esperava em solo mexicano.
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