Puebla é novo episódio de circo da Fórmula E com desclassificação de Wehrlein

Não houve falta generalizada de energia, mas a Fórmula E voltou a dar um tiro no próprio pé. Desclassificar Pascal Wehrlein logo após a bandeira quadriculada é uma nova amostra de como o certame ainda precisa evoluir antes de virar realmente sério

Verstappen voa em Paul Ricard e é pole: os melhores momentos da classificação do GP da França (GRANDE PRÊMIO com Reuters)

Não faz muito tempo desde a última vez que o GRANDE PRÊMIO publicou uma análise crítica do modus operandi da Fórmula E. A categoria tinha criado um show de horrores com a falta generalizada de baterias na corrida 1 em Valência e havia um entendimento claro: aquilo não era automobilismo, não da forma que deveria ser. O tempo passou e a categoria agora está em Puebla. Mudou o continente, não mudou a constatação: a corrida deste sábado (19) é uma nova amostra das mazelas do certame elétrico.

Pascal Wehrlein tinha liderado desde a largada e feito por merecer uma vitória de alto nível na Fórmula E. Não é sempre que se vê alguém cruzando a linha de chegada com 4s de vantagem sobre o resto. Deveria ser um momento incrível para piloto e equipe, um combo que ainda não mostrou muito bem a que veio na empreitada elétrica. Eis que, numa cena que só não é digna de Monty Phyton porque não havia automobilismo elétrico na época, Pascal é desclassificado ao mesmo tempo que recebe a bandeira quadriculada. O motivo: a Porsche não homologou os pneus corretamente. A consequência: vitória de Lucas Di Grassi.

O problema da homologação de pneus é todo da Porsche. A equipe não soube dizer corretamente à direção de prova qual conjunto estava encaixado no carro de Wehrlein, que é um erro altamente amador. Só que o erro de uma parte não justifica o erro da outra: a Fórmula E demorou muito tempo para perceber isso. A mensagem de investigação de Wehrlein só apareceu com dez minutos para a bandeirada. É verdade que em um passado não muito distante essa punição teria saído horas após o fim da prova, o que é evidentemente pior, mas passar de uma postura tenebrosa para uma ‘só’ muito ruim não deveria ser motivo de celebração para quem tenta se portar como uma entidade padrão FIA.

Conheça o canal do Grande Prêmio no YouTube! Clique aqui.
Siga o Grande Prêmio no Twitter e no Instagram!

O sábado em Puebla voltou a ser constrangedor para a Fórmula E (Foto: Fórmula E)

É tentador fazer uma comparação com a Fórmula 1, que sofre bem menos com punições assim. Há toda uma discussão sobre a qualidade da direção de prova, mas esta costuma ser ágil por lá. Só que a comparação não cabe muito bem: a proposta da Fórmula E de ser uma categoria com corridas que se resolvem em um dia só significa falta de tempo hábil. Um acidente no treino livre pode te tirar da corrida, por exemplo. Pode ser que o certame elétrico fique de mãos atadas pelo cronograma apertado, significando que uma infração menor só seja identificada após a bandeirada. Dito isso, é necessário se adaptar. Que se busque alguma forma de agilizar aferições e minimizar patacoadas. Até lá, fica o mesmo veredito da análise de Valência: a FE ainda não consegue se portar como um campeonato realmente sério.

Isso tudo é um problema para a Fórmula E, para a Porsche, para Wehrlein e, de certa forma, para o público. Só que certamente não é um problema para Di Grassi, que celebra uma vitória fundamental. Mesmo que Pascal não fosse desclassificado, o brasileiro teria motivos para comemorar uma atuação de alto nível, daquelas que costumávamos ver em 2017 e 2018. Escalar o grid de oitavo para segundo na pista já bastaria para mostrar que o piloto da Audi está firme e forte no campeonato.

Lucas Di Grassi, que nada tem a ver com isso, reencontrou alegria na Fórmula E (Foto: FE)

Ainda é cedo para falar que Di Grassi tem o necessário para de fato lutar pelo título. Pode ser que a vitória em Puebla seja um brilhareco. Dito isso, o futuro do brasileiro passa a ser bem mais brilhante: essa possibilidade volta a ser mais do que apenas um devaneio e pode ser, sim, alimentada nas próximas semanas. Além disso, dizer que venceu corrida é um argumento muito convincente para quem tenta adiar a aposentadoria ao buscar vaga no grid de 2022.

Sobre o campeonato, uma constatação: a corrida 1 de Puebla não mudou muita coisa nas primeiras posições. Quase todo mundo teve um dia ruim, ou no máximo menos pior. Robin Frijns, que tinha pouca margem de erro, segue líder mesmo após uma atuação tenebrosa de ruim. São 62 pontos contra 60 de António Félix da Costa, vice-líder. Até René Rast, que já abandonou duas vezes por bater sozinho, soma 58 e se permite sonhar. Di Grassi, com 39, ainda precisa de mais dias como o do eP de Puebla 1 antes de virar um candidato real.

Depois de um sábado agitado, é hora do fã da Fórmula E se preparar para a segunda dose. A categoria segue em Puebla e completa a rodada dupla neste domingo (20), com os mesmos horários.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Formula E direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.