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Fórmula E

Punição a Da Costa mancha estreia em Misano com novo capítulo de ‘racha’ Porsche x FIA

António Félix da Costa foi desclassificado após vencer o eP de Misano 1 em decisão rígida da Fórmula E, que acabou por levantar mais questionamentos do que responder em um fim de semana que deveria ser apenas sobre duas grandes corridas de automobilismo

Da Costa foi o grande protagonista do fim de semana de Misano, mas não como gostaria (Foto: Fórmula E)

Da Costa foi o grande protagonista do fim de semana de Misano, mas não como gostaria (Foto: Fórmula E)

 

A vitória dupla da Porsche na rodada do eP de Misano deveria ser o principal assunto da Fórmula E neste domingo (14), que terminou com Pascal Wehrlein no lugar mais alto do pódio na corrida 2 — um dia depois de António Félix da Costa cruzar em primeiro na primeira prova. No entanto, a desclassificação do português por um motivo bizarro protagonizou os noticiários da etapa italiana e trouxe uma mancha para a estreia da categoria no local, que brindou os fãs com duas excelentes disputas.

A punição sobre Da Costa, inclusive, é só mais um capítulo em um ‘racha’ que já ficou claro na comunicação entre FIA e Porsche, que vivem há algum tempo uma série de investigações fora do padrão. Em um intervalo de nove corridas, a desclassificação do português se tornou o terceiro capítulo de uma série de problemas que seguem se arrastando.

Dentro deste recorte, o primeiro episódio veio na corrida 1 do eP de Londres que fechou a última temporada, quando Da Costa cruzou a linha de chegada em segundo. Após a prova, a FIA determinou uma punição de 3min que derrubou o português para último devido à pressão dos pneus do piloto, que estavam abaixo do limite mínimo. O detalhe é que a roda foi acertada por outro competidor, o que prejudicou o próprio António. Ainda assim, ele se manteve em segundo.

A punição foi seguida de uma apelação da Porsche junto à Corte Internacional de Apelações, mas a entidade decidiu manter a penalização e derrubou o português no pelotão. No fim das contas, Da Costa caiu de segundo para 16º.

Da Costa celebrou a vitória no pódio, mas foi desclassificado horas depois (Foto: Porsche)

O segundo episódio veio na abertura da temporada atual, na Cidade do México, desta vez com Wehrlein. Vencedor daquela prova, Pascal permaneceu sob investigação por um longo período após a bandeirada — cerca de quatro horas —, pois o departamento técnico da FIA suspeitava que a equipe teria utilizado um controle de tração proibido na largada.

A suspeita, inclusive, recaiu sobre os dois carros da equipe e também os dois da Andretti, cliente da Porsche e que corre com o atual campeão Jake Dennis e Norman Nato. No fim, a situação se arrastou, mas nenhuma punição foi dada pois a FIA não encontrou evidências para tal.

Neste fim de semana, mais um capítulo. Da Costa venceu a corrida inaugural do eP de Misano, mas foi desclassificado várias horas depois devido à presença de uma mola proibida no amortecedor do acelerador. A situação parece simples, mas o histórico em torno da peça indica o quanto a punição sobre o português revelou um comportamento estranho da categoria.

A punição em Misano adicionou mais um capítulo controverso entre Porsche e FIA (Foto: Porsche)

A mola em questão constava nas especificações do regulamento técnico para os carros Gen2, mas seria trocada por outra peça nos Gen3. No entanto, a Spark — fornecedora de chassis da Fórmula E — sofreu com problemas de fornecimento no início da última temporada, a primeira dos Gen3, e manteve a mola como uma peça dentro das especificações. Para o campeonato atual, porém, o artefato foi removido das regras.

A questão é que não houve um aviso oficial às equipes, e a peça simplesmente sumiu do relatório — que tem cerca de 140 páginas. A Porsche, então, manteve a mola no carro e ela foi identificada logo após a vitória de Da Costa em Misano. O departamento técnico da FIA entendeu que a equipe tinha a obrigação de estar nos conformes do regulamento e, mesmo sem ganho de rendimento comprovado, decidiu desclassificar o português da prova.

A questão aqui é profunda, e a decisão de punir Da Costa levanta uma série de outras perguntas. Se a Porsche, uma das principais equipes da categoria, não percebeu que a peça era proibida e a manteve no carro, sendo flagrada apenas na inspeção — que é feita só nos três primeiros —, quantas outras equipes também podem ter cometido o mesmo engano e não foram vistoriadas até o momento?

A Porsche já indicou a intenção de apelar da desclassificação de Da Costa. Cenas dos próximos capítulos (Foto: Porsche)

Outra pergunta: de acordo com o portal inglês The Race, os inspetores vistoriaram o carro de Wehrlein no sábado após encontrarem a mola no carro de Da Costa e novamente flagraram o objeto. O alemão não foi desclassificado porque não tratava-se de uma análise de rotina, feita apenas no top-3, mas uma inspeção à parte motivada pelo problema de António. Sendo assim, fica a questão: não teria Pascal utilizado a mesma mola na vitória que abriu o campeonato, na Cidade do México?

Ainda de acordo com o veículo, vistorias aleatórias sobre a mola aconteceram após o eP de Diriyah, no fim de janeiro, que recebeu segunda e terceira etapas do campeonato. Nenhum piloto foi desclassificado, o que indica que a peça não foi encontrada. Desta forma, fazer a inspeção em apenas algumas corridas do ano não influencia na isonomia do campeonato?

A decisão de desclassificar o piloto, no fim das contas, teve um impacto bem negativo na imagem da primeira corrida. Um resultado que não foi influenciado pela mola acabou alterado e, ainda que a vitória de Oliver Rowland tenha sido absolutamente merecida, Da Costa foi o piloto a cruzar a linha de chegada em primeiro. Como o erro foi da equipe e não resultou em ganho de rendimento, será que uma pesada multa ou a perda de pontos no Mundial de Equipes não seria suficiente?

A necessidade de tratar a regra como ‘preto no branco’ resultou, no fim das contas, em uma mudança desnecessária no resultado da prova e difícil de ser explicada para novos fãs. O fato é que não há como garantir que outros carros não tenham usado as mesmas molas em corridas anteriores, o que gera um precedente perigosíssimo. Em um fim de semana que reservou duas excelentes corridas, a Fórmula E regressou a um passado de punições pós-prova que não deveria mais existir. As vitórias de Rowland e Wehrlein, no fim, ficaram em segundo plano. Perde Da Costa, perde a Fórmula E e perde o esporte.

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