Quer bater Da Costa? Só se Aretha Franklin fizer uma oração por você

A demolição do português na primeira corrida em Berlim deixa claro que apenas um roteiro de comédia romântica muda o título de mãos

Talvez você tenha passado sua vida numa caverna e esteja lendo este texto por algum tipo de comunicação misteriosa, mas se não for esse o caso e você esteja por aí, no mundo real, é evidente que sabe quem foi Aretha Franklin. Dona de uma das vozes mais poderosas da história da música, é abertamente chamada de “maior cantora de todos os tempos” por muita gente mundo afora. ‘I Say a Little Prayer for You’ – ‘Faço uma Oração pra Você’ – é uma de suas mais famosas gravações, feita em 1968.

Além de música deliciosa, ‘I Say a Little Prayer for You’ se tornou uma popular faixa de trilhas sonoras de comédias românticas com o passar dos anos. A mais famosa delas, provavelmente, ‘O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997)’.

Justiça seja feita, a versão do filme é a original, de Dionne Warwick, mas vamos mesmo usar Aretha Franklin como referência, porque é a versão que fez a música se tornar uma daquelas faixas eternas.

E o que são as comédias românticas do cinema se não a colagem de recuperações rocambolescas na vida cotidiana? Pense aí nas comédias românticas que você lembra de ter visto, as mais famosas de todas. Rom-coms têm finais felizes, essa é a história delas. É o que acontece.

E por que estamos falando sobre isso aqui? A situação é a seguinte: o que António Félix da Costa fez nesta quarta-feira (5), em Berlim, foi uma demolição. A expectativa da concorrência era ver o português rendendo menos que antes da parada em virtude da pandemia do novo coronavírus, quando já dava ares de dominante. Mas a esperança saiu pela culatra e foi direto do queixo de quem segurava o mosquete.

Da Costa não apenas venceu: ele passou por cima com a liderança das duas fases da classificação – e a pole, claro -, venceu de ponta a ponta e ainda fez volta mais rápida. Os adversários sequer estavam perto. O que era um campeonato apertado começa a ser esgarçado: o português tem 41 pontos de vantagem, o melhor carro e está em melhor momento. Ainda tem a sorte ao lado, como provou a bandeira amarela que interrompeu o modo ataque de Jean-Éric Vergne na parte final da prova no Aeroporto do Tempelhof.

‘O Casamento do Meu Melhor Amigo’ tem um final diferente das tradicionais comédias românticas feitas para o ardor do público: a protagonista não consegue o que quer. No caso, fazer o amigo que vai casar em alguns dias perceber que ela, não a noiva, é o amor da vida dele. A personagem de Julia Roberts, a MVP do gênero, percebe que ela é a vilã da história de outras pessoas, não a heroína dela mesma.

A bandeira quadriculada para António Félix da Costa (Foto: Fórmula E)

Com rendimento pior, carros que não se sustentam e no mesmo espaço de terra das outras cinco corridas, os rivais diretos na busca pelo título da Fórmula E – Alexander Sims, Maximilian Günther, Mitch Evans, Stoffel Vandoorne, Lucas Di Grassi e quem mais se candidatar – precisam que o restante da disputa se desenhe à imagem de um roteiro de comédia romântica, uma daquelas reviravoltas tão improváveis e bobas quanto divertidas.

Não importa como. Ou, talvez, que Da Costa caia numa epifania sobre ser o vilão da história de alguém. Essa parece menos provável, mas ainda mais possível que alguém limpar a desvantagem que tem para o português nesse momento.

Eles precisam que, no filme de suas campanhas, surja uma versão de Aretha Franklin cantando que faz uma oração para eles. É isso ou nada.

E provavelmente será nada. O campeonato é de Da Costa para decidir o destino.

Da Costa com a bandeira de Portugal no pódio (Foto: Fórmula E)

ANTÓNIO FÉLIX DA COSTA

O português está nas nuvens, como deixou claro após a corrida. Após anos com carros decepcionantes ou simplesmente ruins, mostra que sabe aproveitar como poucos um bólido com condições de ser campeão.

“Estou muito grato, sabe? Alguns pilotos aqui estão em carros vencedores desde o Dia 0. Eu nunca, jamais mesmo, faço pouco de um dia como esse. Sei o quanto esperei para ter isso aqui. Temos um dos melhores carros do grid”, disse.

“A equipe colocou muita expectativa em mim e no JEV. JEV me ajudou a pegar o ritmo com esse carro, estou ficando cada vez melhor nele. Para ser honesto, passar tantas corridas no pelotão intermediário me ajudou a entender mais, talvez tenha me dado até alguma vantagem. Estou faminto com esse carro”, encerrou.

André Lotterer ficou com o P2 no Berlim 1 (Foto: Fórmula E)

ANDRÉ LOTTERER

A vida com uma equipe novata tende a ser bem complicada, mas Lotterer conquistou, em Berlim, o segundo pódio no ano. E acredita que era possível tirar ainda mais.

“O segundo lugar é bom, mas sinceramente fiquei triste ao perder o modo ataque, pois isso me deixou em uma situação difícil e acredito que tinha um bom carro hoje”, falou.

“Sem esse problema, talvez eu pudesse ter desafiado o António, mas vamos ver o que acontece nos próximos dias”, seguiu.

Sam Bird foi ao pódio em Berlim 1 (Foto: Fórmula E)

SAM BIRD

O último a ir para o pódio foi Bird, que, durante a parada, anunciou que deixa a Virgin após o campeonato. O inglês largou mais atrás, mas conseguiu impor um ritmo fortíssimo sobretudo nas duas relargadas e, assim, terminou no terceiro lugar. Assim como Lotterer, ainda achou pouco.

“Estou muito feliz, agradecido ao time, foi um início bem difícil, mas felizmente conseguimos um bom ritmo de corrida e um resultado que serve de recomeço da temporada”, comentou.

“Fiquei desapontado por não conseguir o segundo lugar, estava com pouca energia e tive que prestar mais atenção no carro, mas ja temos uma boa base para amanhã”, fechou.

A largada do eP de Berlim 1 (Foto: Fórmula E)

MITCH EVANS

O segundo colocado do campeonato sequer foi aos pontos. A culpa foi de uma colisão, segundo ele.

“As coisas ficaram muito apertadas ali no final. Eu encostei em Vergne e Buemi encostou em mim nas curvas três e quatro. Aí, então, acho que Günther não me esperava estar tão lento ali e me acertou”, contou.

O neozelandês, que vinha em sétimo, acabou em 14º.

Felipe Massa bateu sozinho no primeiro eP de Berlim (Foto: Reprodução/TV)

TRIO BRASILEIRO

Lucas Di Grassi largou na 20ª colocação e conseguiu terminar em nono – com a desclassificação de Max Günther, foi alçado ao oitavo lugar. Mais uma corrida de recuperação no que é a temporada das corridas de recuperação para o piloto da Audi.

“Não foi a retomada de campeonato que eu esperava, mas fiz o melhor que pude com as condições que tínhamos no momento”, argumentou. “Amanhã teremos outra etapa e estou confiante que poderemos ter um resultado muito melhor”, fechou.

Felipe Massa, por outro lado, fazia um dia bastante honesto. Classificou no top-10 e mantinha a posição por mais de matade da corrida, sempre seguro à frente do companheiro Edoardo Mortara, mas passou direto dos limites da pista antes da entrada de uma das curvas e acabou no muro, abandonando. Massa segue com ponto em somente uma de seis provas.

Sérgio Sette Câmara, teve um começo difícil. Com um carro abaixo da crítica e pouca experiência, ainda levou o azar de ter o modo ataque interrompido pelo safety-car. No fim das contas, fechou em 19º, último entre os que terminaram, mas melhor que os cinco abandonos. É uma experiência a mais para os próximos dias.

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