Resta apenas volta olímpica de Da Costa, que já é campeão da temporada 2019/20

Mesmo que não corresse as quatro provas restantes, piloto da DS Techeetah ainda seria extremamente favorito

“Eu ganhei a Fórmula E 1.5”

A frase é de Sébastien Buemi logo após terminar a corrida 2 do eP de Berlim, nesta quinta-feira (6), com a segunda colocação. A rápida entrevista pós-eP do piloto suíço foi além disso para elucidar, meio que sem querer, a situação real do campeonato: foi ao dizer que se espantou por não estar tão longe, 3s, afinal. Após as duas primeiras corridas na capital alemã, o destino do campeonato está selado e, aparentemente, todos os viventes do Aeroporto de Tempelhof já aceitam: António Félix da Costa é o campeão da temporada 2019/20.

O português justificou a proximidade de Buemi, inclusive: teve de controlar a temperatura da bateria, que esquentava demais e podia superaquecer. Resposta dada.

A sequência de Da Costa, três vitórias seguidas, não é inédita. O próprio Buemi, veja você, também recebeu a bandeira quadriculada nas três primeiras corridas da temporada 2016/17 – Hong Kong, Marrakech e Buenos Aires. E conseguiu fazer a mão de perder aquele campeonato. Elencaremos, entretanto, as diferenças que vão separar a derrota de Buemi da vitória de Da Costa.

O mais importante, para começo de conversa, é que estava claro desde a abertura daquela temporada, que Buemi teria um rival bem próximo: Lucas Di Grassi, que acabou levando o título. Nas vitórias de Buemi, Di Grassi foi a dois pódios e fez um quinto lugar. Tinha apenas 29 pontos de desvantagem após aquele trio de vitórias do rival suíço.

Di Grassi não deixou pontos pelo caminho, praticamente. Fez todos que estavam ao alcance, ao passo que Buemi foi desclassificado numa das provas em Berlim, não participou da rodada dupla em Nova York por causa de compromissos com o WEC e fez uma rodada dupla tenebrosa em Montreal, com erros aos montes, outra desclassificação e sem pontos.

Da Costa, diferente dele, vive a série de vitórias na segunda metade do campeonato e segue na mesma pista. Sim, outros traçados, é verdade, mas o mesmo solado. A DS Techeetah perder ritmo em Berlim é muito improvável depois do que se viu até agora. E mais: a diferença é de 68 pontos e os rivais que o acompanhavam até o momento, naufragaram. Se tempo sobrou para a Audi trabalhar há três anos, é tudo que as rivais não têm agora.

Se somarmos a pontuação da primeira rodada dupla em Berlim para os três rivais que passaram a parada mais próximos do português, chegaremos ao incrível número: dois. Sim, dois pontos de Alexander Sims com o nono lugar na corrida 1. Mitch Evans ficou fora dos pontos nas duas, Maximilian Günther foi desclassificado em uma e abandonou em outra, enquanto Sims teve problemas na segunda prova e terminou nas últimas posições. BMW e Jaguar viveram um verdadeiro pesadelo esportivo e precisam de luneta para enxergar o rival que começou a semana um palmo à frente.

Antonio Félix da Costa com a mão na taça (Foto: Fórmula E)

Por mais que Di Grassi e Stoffel Vandoorne, agora empatados na segunda colocação do campeonato – o brasileiro leva vantagem por ter um P2 – com 57 pontos estejam guiando bastante acima da média geral, é sabido que seus carros estão distantes. BMW e Jaguar, não, essas eram as duas rivais esperadas.

Dos 58 pontos possíveis na primeira rodada dupla de Berlim, Da Costa anotou 57. Ficou sem apenas a volta mais rápida da corrida 2, que foi para Vandoorne. Como pará-lo?

E mais: como alcançá-lo num campeonato que não conta com um número 2 claro? Se Da Costa deixar o campeonato hoje e sequer disputar as quatro corridas finais, quem faria a pontuação necessária para superar seus 125 pontos?

Deixemos os números mais claros. Di Grassi e Vandoorne têm 57 pontos após sete corridas e precisariam de 69 nas quatro últimas; Evans tem 56 e precisaria de 70; Sam Bird e Buemi contam 52 e teriam de marcar 74. Distantes demais até se o português for surfar em Algarves amanhã.

Quer ainda um pouco mais? Nenhum dos pilotos que conseguiu subir ao pódio numa das duas corridas em Berlim chegou sequer no top-5 na outra prova. O campeonato é apertadíssimo atrás de Da Costa, repetir grandes resultados é um feito para quase ninguém.

Então, esqueçam. Da Costa nem precisa correr mais. O que acontece em Berlim durante a próxima semana é mera volta olímpica do novo campeão.

António Félix da Costa venceu de novo (Foto: FIA Fórmula E)

ANTÓNIO FÉLIX DA COSTA

A cada vitória que conquista, o piloto faz questão de exaltar o fato de valorizar as vitórias. Durante os primeiros quatro anos dele na Fórmula E, afinal, foi ao pódio somente uma vez.

“Foi muito difícil. Fomos mais rápidos, mas não tivemos nenhum momento onde eu olhava no espelho e não via os outros adversários, mas ainda assim consegui manter totalmente o controle”, contou.

“O primeiro modo ataque foi bem difícil, quando voltei ao traçado normal, sabia que o Buemi ia me atacar e ele foi justo deixando o espaço. Tivemos que ficar de olho na energia da bateria, temperatura, mas o time me ajudou bastante a controlar a situação”, seguiu.

“Sei que estou vivendo momentos e dias raros, e também sei o quão duro a equipe está trabalhando e isso me deixa muito feliz. Tenho uma boa vantagem, mas sei que no decorrer das próximas provas todos vão ficar mais próximos. Já foi possivel notar isso na corrida de hoje, então estou esperando que as próximas corridas sejam igualmente complicadas”, finalizou.

Sébastien Buemi foi segundo colocado (Foto: FIA Fórmula E)

SÉBASTIEN BUEMI

O suíço ficou contente mesmo em ser o melhor do resto na corrida que tinha vencedor pré-definido.

“Foi mais próximo do que eu pensava, para ser honesto. Em questão somente de ritmo, não estávamos tão distantes. Espero que encontremos mais desempenho, mas eles [a DS Techeetah] são rápidos demais, com certeza”, afirmou.

“Levamos um pouco de azar no primeiro modo ataque, porque apareceu uma bandeira amarela no meio – acho que poderia ter sido um pouco melhor com ele, talvez nos aproximássemos mais ou me distanciasse de Lucas.

“Eu venci a FE 1.5 hoje, então estou feliz com isso. Pelo menos nós podemos dizer que conhecemos o caminho: melhoramos muito nessa corrida. Aí, sim, talvez dê para desafiá-los”, falou.

Lucas Di Grassi no pódio em Berlim (Foto: FIA Fórmula E)

LUCAS DI GRASSI

“Foi um grande dia, não posso reclamar de um pódio. Tive muito trabalho durante a prova, mas conseguimos esse pódio para Audi, que não conseguia desde Diriyah. Nós precisamos seguir melhorando”, argumentou.

“A pista na próxima corrida será a original, então muitas coisas no carro vão mudar e outras estratégias também. Eu prefiro a versão original da pista, então só de voltar a esse traçado as coisas devem melhorar para nós. Temos que trabalhar bastante e subir mais um degrau em nossa performance, porque a DS e António estão se ajustando em um nível acima”, admitiu.

“Ainda temos muitos pontos disponíveis e vamos fazer o melhor que pudermos”, fechou.

Stoffel Vandoorne é vice-líder do campeonato (Foto: Fórmula E)

STOFFEL VANDOORNE

Empatado com o Di Grassi no campeonato, Vandoorne voou na parte final da corrida e foi premiado com a volta mais rápida. De acordo com o belga, apesar de andar bem, foi melhor agir com prudência.

“Tínhamos ótimo ritmo no carro hoje, ainda melhor que ontem. Em determinado momento, achei que o pódio era possibilidade real, mas não assumimos nenhum risco louco e terminamos no quinto lugar. São bons pontos!”, declarou.

Felipe Massa teve dias difíceis (Foto: Fórmula E)

FELIPE MASSA

Após uma quarta-feira em que o dia honesto foi interrompido por boba batida, Felipe Massa passou o dia sumido, rendendo bem menos que o companheiro Edoardo Mortara e fora dos pontos. No final da corrida ainda ficou sem energia e despencou. Segundo ele, culpa de um problema com o painel do carro.

“Depois de uma classificação difícil, larguei bem na corrida. Meu ritmo era forte e fui subindo posições, chegando perto dos pontos. Depois da segunda bandeira amarela de pista inteira, tive de lidar com uma situação estranha no meu volante em que as leituras das minhas metas de energia estavam erradas. Impactou muito o gerenciamento e consumo”, revelou.

“Estou muito desapontado com isso, porque estávamos bem até as últimas dez voltas. Precisamos investigar o que aconteceu e consertar o problema para entrarmos bem na próxima sequência de corridas”, finalizou.

Sérgio Sette Câmara ainda está aprendendo (Foto: Fórmula E)

SÉRGIO SETTE CÂMARA

Sérgio Sette Câmara deu um passo à frente, é possível dizer. Andou sempre junto do pelotão, embora no fim dele, mas foi competitivo. Terminou com a 19ª posição.

“O carro da F-E é completamente diferente de tudo o que eu já tinha pilotado na vida. Durante uma volta, num circuito de rua e com extensão bem mais curta que nos autódromos, o piloto tem de fazer no mínimo umas três vezes mais coisas que na F2. São diferentes ajustes, principalmente no que tange ao consumo de energia do carro. Estudei muito e pratiquei no simulador da equipe, mas, certamente, o que vivenciei nesses dois dias aqui na pista foi muito mais intenso”, comentou.

“Podemos tirar muitas coisas positivas após os dois primeiros dias de corrida aqui em Berlim. Hoje demos um grande passo adiante em relação ao que fizemos ontem. Consegui fechar o treino em sétimo e, em todas as condições de potência do carro, estive sempre entre os 10 mais rápidos. Na minha volta ideal da classificação, infelizmente, foi muito difícil manter o carro no traçado ideal. Tentei extrair o máximo do carro e, infelizmente, cometi alguns erros”, admitiu.

“Tínhamos ritmo para estar certamente entre 10º e 15º, mas, acabei largando de 20º. Na corrida eu consegui administrar melhor o consumo de energia e ganhei algumas posições. Estou feliz com toda a experiência que eu consegui adquirir e espero possamos seguir evoluindo nas próximas quatro corridas”, encerrou.

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