Retrospectiva 2019: Auge, noviciado e caos: o 2019 de Vergne e dos brasileiros

Jean-Éric Vergne, Lucas Di Grassi, Felipe Massa, Nelsinho Piquet e Felipe Nasr: cinco pilotos, cinco expectativas diferentes, cinco formas de entrar na temporada e cinco resultados diferentes. O GRANDE PRÊMIO avalia o 2019 deste grupo

Jean-Éric Vergne e o trio de pilotos brasileiros que começou na temporada 2018/19 da Fórmula E – e um quarto que apareceu durante o ano de 2019 – viveram um ano bastante distinto na categoria dos bólidos elétricos. Como era esperado, aliás. Para os três que ficam, as possibilidades e expectativa já eram bem distintas, enquanto os que deixaram o baile, bom, não sabem se voltam. A retrospectiva 2019 do GRANDE PRÊMIO destaca os caminhos de Vergne, Lucas Di Grassi, Felipe Massa, Nelsinho Piquet e Felipe Nasr.
 
No caminho para o bicampeonato
 
Quem leu o primeiro texto da retrospectiva 2019, que foi ao ar ontem, sabe que o campeonato teve muitos vencedores, tanto em pilotos quanto em equipes, então é normal pensar que a disputa pelo título tenha sido acirrada ao ponto de trincar os dentes de nervoso. E para quem for acompanhar a escalada dos pontos durante o ano talvez confirme as suspeitas. Mas o teste dos olhos sempre disse outra coisa.
 
Vergne tinha o melhor carro na maior parte das corridas, sobretudo a partir do momento em que a metade da temporada foi se aproximando. André Lotterer, companheiro dele na DS Techeetah, também andava forte, mas perdia as oportunidades de cravar vitórias quando as chances de ofereciam. Custou caro. 
A rodada dupla que encerrou a temporada em Nova York (Foto: Jérôme Cambier/Michelin)
A realidade dos fatos do campeonato é que, tirando a sequência entre Santiago e Hong Kong, três corridas, Vergne sempre tinha bom carro. Quando não vencia, o motivo era quase sempre detalhe: fosse um erro dele ou azar, algo tirava do prumo aquele conjunto que parecia destinado a lutar por vitórias.
 
Na abertura do campeonato, em Ad Diriyah, liderava rumo ao triunfo quando foi um dos punidos pelo uso ilegal do motor de regeneração de energia, uma punição que atrapalhou a corrida de cinco pilotos naquele dia e foi raridade no restante da temporada. Em Marrakech, na sequência, cometeu um erro feio após largar em segundo e aparentar o melhor carro novamente. Acabou na quinta colocação. 
 
A sequência de corridas apagadas, única do ano, precedeu uma vitória em Sanya. Após Roma, com problemas e toques, foi sexto em Paris, venceu em Mônaco, foi ao pódio em Berlim e venceu em Berna. Com o campeonato encaminhado, foi mal em Nova York: forçou uma tentativa de ultrapassagem sobre Massa na corrida 1 e ficou fora do top-10, ao passo que foi sétimo na corrida 2 e marcou somente seis pontos na rodada dupla. Mas ficou com o título sem grandes problemas.
 
Entretanto, a rodada de Nova York apresentou uma mancha no campeonato do bicampeão: após uma confusão na largada da corrida 1, Vergne pediu no rádio da equipe que a DS Techeetah ordenasse a Lotterer, com carro danificado, parasse na pista para causar um safety-car e ajudá-lo. Lotterer sequer recebeu o recado, mas foi o suficiente para a FIA entender que o francês quis manipular a prova e oferecer a branda punição de um dia de serviços comunitários.
 
Vergne foi campeão, mas 2019 não foi o melhor ano dele.
Lucas Di Grassi (Foto: Audi)
Sem o gás da arrancada de 2018
 
O começo da temporada 2018/19 da Audi foi melhor que um ano antes, é verdade, mas bem abaixo da possibilidade de consistentemente lutar pelas primeiras colocações. Em nenhum momento, porém, surgiu a força impressionante para arrancar como na segunda metade do campeonato que terminou em 2018. 
 
Piloto que melhor compreende a tecnologia da Fórmula E, Di Grassi fez o bastante para se segurar com possibilidades de título ao pontuar na gigantesca maioria das provas. Anotou oito pontos nas duas primeiras corridas, mas foi na quarta etapa, na Cidade do México, que viveu o grande momento dele em 2019.
 
Di Grassi vivia um dia excepcional após largar em segundo e mostrar desempenho forte. Foi na reta de chegada, entretanto, que fez um movimento ousado para ultrapassar Pascal Wehrlein e, nos últimos metros da pista, cruzou a bandeirada na dianteira. Wehrlein foi punido, é verdade, com a adição de 5s ao tempo final e teria perdido a vitória de qualquer jeito. Não importa: Lucas venceu na pista. 
 
Na sequência, foi a mais um pódio, em Sanya, e voltou a vencer, agora na Berlim em que foi desclassificado em duas outras oportunidades. Bom, mas não havia como manter o ritmo de pontos de Vergne. Na corrida final, enquanto ele e Mitch Evans tentavam uma recuperação milagrosa, os dois se encontraram e terminaram a temporada no muro. 
 
Mesmo assim, Di Grassi segue o único a ir ao pódio em 50% das corridas da história da Fórmula E e um de dois – Bird é o outro – a vencer corridas em todas as primeiras cinco temporadas.
Felipe Massa (Foto: Venturi)
Meio vazio, meio cheio
 
Qual a maneira mais correta de avaliar a temporada de estreia de Felipe Massa na Fórmula E? Há facilmente como construir um caso de que foi ruim, mas também há como garantir que foi boa. É necessário olhar com parcimônia e tentar entender as nuances do desafio em que o veterano piloto se colocou e qual a expectativa, real ou irreal sobre ele. 
 
Inicialmente, caso a expectativa fosse de que Massa, com todo seu histórico na longa carreira de F1, tomaria a categoria de assalto, é o primeiro erro. Massa fechou com a Venturi, uma equipe que, como ele, fixou residência em Mônaco. A Venturi é uma fábrica pequena, especializada em veículos elétricos, mas sem o orçamento para competir no nível de título. 
 
É justo questionar sobre o começo de temporada com tanta desvantagem para o companheiro. Nas primeiras cinco corridas do campeonato, Massa anotou 14 pontos contra 52 de Edoardo Mortara. O suíço, contudo, começava o segundo ano de categoria e pela mesma equipe, enquanto Massa começava a aprender uma tecnologia bastante diferente. Crédito ainda ao veloz Mortara por entregar mais pontos do que o carro parecia permitir.
 
Claro que Massa não encheu o céu de fogos com o desempenho dele na temporada. Cometeu seus erros, jogou algumas possibilidades fora, mas teve uma segunda metade de temporada claramente superior. Na realidade, após as cinco corridas de enorme vantagem, Mortara não marcou sequer um ponto nas oito provas derradeiras. Massa? Fez 22 pontos distribuídos por quatro etapas em que terminou no top-10. Ao menos razoável.
 
Este 2020 que se avizinha, contudo, vai dizer muito sobre o futuro de Massa na Fórmula E, especialmente pelo fato da Venturi ter adotado motores Mercedes.
Nelsinho Piquet (Foto: Jaguar)
Campeão, mas e daí?
 
Nelsinho Piquet foi campeão da Fórmula E na temporada inaugural, mas isso não seguraria o piloto para sempre. No segundo ano de Jaguar, o que se esperava dele era um salto de qualidade enorme: não foi o que aconteceu. O que deu para ver foi o oposto.
 
Piquet guiou mal. Sem desculpas, sem muita argumentação, apenas realidade. Nas seis corridas que fez, marcou um ponto: errou, bateu, viveu acidentes e faltou ritmo. O carro tinha algumas questões a resolver, claro, sobretudo em ritmo de classificação, mas Mitch Evans anotou 36 no período. Na corrida após a demissão, venceu. Chegou a Nova York com chances de ser campeão. 
 
As atuações de Piquet foram caótica, renderam demissão e substituição por Alex Lynn. Ninguém sabe se um dia volta, mas o final temporário foi absolutamente melancólico para um campeão de quatro anos antes.
Nasr e D'Ambrosio se acidentaram em Hong Kong (Foto: Reprodução)
Saiu de onde?
 
Felipe Nasr deveria ter participado dos testes de novatos de Marrakech pela Dragon, mas acabou fora por questões contratuais. Foi um tanto quanto surpreendente quando, algumas semanas depois, a equipe norte-americana anunciou que ele estava chegando para substituir Max Günther na temporada.
 
Sem conhecer o carro, Nasr pegou o bonde andando na Cidade do México. Até classificou à frente de José María López, o companheiro, mas bateu na largada. Em Hong Kong, envolvido em outra colisão na largada; em Sanya, o carro deu problemas na largada. A participação de Nasr terminou em três corridas onde, somado, não chegou a fazer 5min de bandeira verde.
 
Líder e eventualmente campeão no IMSA, Nasr não precisava apressar um retorno como esse aos monopostos. Deu errado num momento em que a carreira voltou a se erguer, e uma nova chance na FE parece improvável.
 

Paddockast # 44
RETROSPECTIVA 2019: MUITO QUE BEM, MUITO QUE MAL

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