Retrospectiva 2024: Jaguar enfim conquista título da Fórmula E. Mas sabor é amargo
Demorou boa parte de uma década, mas a Jaguar chegou ao título pelo qual se comprometeu em 2016. Era difícil imaginar um cenário mais amargo, contudo
A história do título da Jaguar no Mundial de Equipes em 2024 é a história de um amor finalmente correspondido. Mas não um amor apaixonado, com cenas de +18, de um filme romântico à Netflix. Ou mesmo um amor óbvio através das lentes do telão como uma aconchegante comédia romântica clássica. É quase um amor de tragédia grega, costurado na dor e conquistado no amargor das derrotas que chegaram juntas.
Há quase uma década, a Jaguar bateu o martelo que voltaria a figurar numa categoria internacional com sua clássica marca felina. Foi um longo hiato, de 10 anos, desde o fim das operações na Fórmula 1 após a venda para a Red Bull. A Fórmula E, entendia a fábrica – agora parte de um conglomerado indiano -, era a plataforma perfeita para competir e desenvolver sustentabilidade.
E foi assim que a estreia se deu, na temporada 2016/17. Nos anos seguintes, a ligação com a Fórmula E cresceu. Juntas, marca e categoria criaram o primeiro campeonato-satélite, o eTrophy, que teve vida curta mas serviu para solidificar o status de confiança que a Jaguar tinha pelo caminho escolhido.
Demorou dois anos para o primeiro pódio e três até a primeira vitória, ambos os feitos conquistados por Mitch Evans, o piloto que esteve lá desde o dia #1. Mas a Jaguar demorou a conseguir efetivamente brigar. Foi em 2021 que as coisas mudaram de vez, com o vice-campeonato de Equipes. No ano seguinte, ficou com a quarta colocação; em 2023, novamente um vice. Este último com requintes de crueldade, uma vez que a campeã foi a Envision, justamente equipe cliente que usava motores felinos.
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Quando viria o título de uma fábrica que tanto se doou? Que se comprometeu a permanecer na categoria nas eras Gen2, Gen3 e Gen4 assim que possível? Um dia teria de chegar. Para isso, a Jaguar investiu em pilotos. Ao lado de Evans, contratou o campeão Nelsinho Piquet e o dono de diversas vitórias pela categoria Sam Bird. Tiros n’água, ambos.
Para a temporada 2024, apostou numa dupla de origem neozelandesa. Nick Cassidy chegou para ser dupla do velho amigo Evans. Os dois da mesma idade e criados na mesma cidade, conhecem um ao outro a vida inteira. Cassidy veio de fora, mas era piloto da Envision e, com isso, já era amplo conhecedor do pacote da Jaguar.
Desde o começo do campeonato, Cassidy brilhou. Nas três primeiras provas, uma vitória e outras duas poles, enquanto Evans ainda patinava. Mas os dois eram velozes ao longo de todo o ano. Evans aumentou a passada na segunda metade da temporada e mostrou que brigava pelo título. Claro, se ambos estavam atrás do título de Pilotos, o Mundial de Equipes estava em boas condições. O duelo, nos dois casos, era contra a Porsche, rival desde o princípio da era Gen3.
Após 12 das 16 provas, Cassidy liderava o campeonato e tinha oito pódios e duas vitórias; Evans, duas vitórias e três pódios. A situação estava positiva. No Mundial de Equipes, a vantagem para a Porsche chegava a 73 tentos. “A equipe tem feito um trabalho incrível. Vem sendo muito bom, e estou muito orgulhoso por pilotar pela Jaguar”, falou Cassidy.
Eis que, na penúltima rodada dupla do ano, em Portland, a situação mudou drasticamente no Mundial de Pilotos. Cassidy estava a uma volta de vencer a primeira das duas provas e colocar duas mãos no caneco, quando errou sozinho, saiu da pista e ficou sem pontos. “Executei 25 voltas perfeitas e fiquei muito feliz com minha corrida. E, então, cometi um erro enorme”, admitiu Cassidy. No dia seguinte, também não pontuou. Evans aproveitou para encostar, mas os dois e Pascal Wehrlein chegavam na decisão em Londres praticamente juntos.
Na capital inglesa, foi o alemão Wehrlein quem deu o bote. Com uma vitória e um segundo lugar, levou o caneco de maneira dramática, seguido por Evans – que também conquistou dois pódios, mas ficou seis pontos atrás. Cassidy desmantelou e viu o campeonato terminar com uma pancada de António Félix da Costa, outro da Porsche, no dia derradeiro. Para tornar ainda mais dolorido, Nick largou na pole para a última corrida, mas perdeu posições para os rivais na briga do campeonato ao se livrar das duas ativações do Modo Ataque rápido demais, por erro estratégico da Jaguar.
O Mundial de Equipes foi abarcado, o primeiro título Mundial FIA da Jaguar desde 1991, mas num dia em que até comemorar dava ares de injusto. Cassidy e Evans amargaram derrota que, em dado momento, parecia quase impossível – especialmente para Nick.
“Primeiramente, é o primeiro mundial da Jaguar desde 1991, mas eu não vou mentir, é dolorido no momento”, comentou o chefe James Barclay em Londres. “É muito difícil explicar a sensação. Difícil processá-la. Estamos há oito anos neste campeonato e nos colocamos em uma situação incrível para poder vencer e vencemos. Colocamos também os dois pilotos em posição para ganhar o campeonato e não conseguimos. Vai demorar um pouquinho até isso parar de doer”, completou.
A Jaguar conseguiu o título que buscou durante a última década com devoção ímpar, mas sem o doce sabor do sucesso que esperava sentir.
A Fórmula E retorna com atividades de pista somente entre os dias 4 e 7 de novembro, com os testes coletivos de pré-temporada na pista de Valência, na Espanha. A temporada 2024/25 começa aqui no Brasil, com o eP de São Paulo, marcado para o fim de semana do dia 7 de dezembro.
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