Sem experiência ou tempo para adaptação, Nasr entrou em labirinto na Fórmula E e agora cambaleia

Felipe Nasr entrou numa furada ao ingressar no grid da Fórmula E na comparação direta com dois pilotos que conhecem o carro muito bem. O piloto, que atualmente faz sucesso nos protótipos norte-americanos, não teve oportunidade de testar um Fórmula E previamente e a categoria não permite qualquer teste privado. Nasr pode até renascer para os monopostos em algum momento, mas essa escolha específica foi um mergulho na cilada

Felipe Nasr deveria ter participado dos testes coletivos de inexperientes, sessão realizada pela Fórmula E após o eP de Marrakech. Seria o primeiro contato dele com o Gen2 ou qualquer carro da categoria ou bólido movido a energia elétrica. Era a oportunidade de passar um dia na pista e conhecer o carro, mas um entrave contratual acabou pulando no caminho e impedindo a apresentação de Nasr e do carro. Mais de três meses depois, a falta daquele dia ainda é sentida. Preso num labirinto do qual nem tem muito como sair, Nasr vê um futuro como enorme questão na categoria.

 
É necessário parar um momento e fazer uma avaliação geral que vai muito além do que o ex-piloto da Sauber na Fórmula 1 e atual líder do IMSA SportsCar desempenhou na pista na comparação com quem quer que seja. A situação de Nasr é totalmente diferente daquele dos outros dois pilotos que a Dragon colocou na pista para esta temporada, José María López e Max Günther. É um tanto quanto dramática até, do ponto de vista esportivo. 
 
Acontece que a Fórmula E não tem oportunidades de teste. Fora a pré-temporada e as sessões realizadas em Ad Diriyah – que ainda contou com alguns titulares participando – e Marrakech – aí apenas com quem não fazia parte dos quadros das equipes -, há somente o fim de semana. Dois treinos livres rápidos, uma classificação que consiste em uma volta rápida e a corrida. É muito pouco para pegar o ritmo, especialmente no meio do campeonato.
 
Nasr chegou numa situação ainda mais complicada. Pechito López havia passado meses antes do começo da temporada trabalhando no projeto e conhecia o carro como ninguém, ao passo que Günther participara de testes e já havia tocado em carros da FE desde o ano passado. A maioria dos pilotos que encontram uma vaga no grid do campeonato elétrico durante a temporada já tocaram na máquina antes em algum tipo de teste.
Felipe Nasr (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

Entretanto, a Dragon foi adiante com a escolha de Nasr mesmo apesar da falta do teste no Marrocos. O piloto entrou diretamente para uma cilada. A estreia foi na quarta etapa do campeonato, a da Cidade do México. A pista do Hermanos Rodríguez, apesar de ser um desenho diferente, não era tão estranho assim para Nasr, que conseguiu classificar o carro à frente do companheiro argentino. Mas teve problemas na corrida e terminou atrás. 

 
Deveria ser apenas uma estreia, os primeiros passos, só que a sequência seria bem menos caridosa. Em Hong Kong e Sanya, Nasr nem sequer participar da corrida. Numa se envolveu nos sanduíches da largada e saiu com o carro quebrado. Nem sequer completou a segunda volta; na China, em Sanya, não largou por problemas no grid de largada. Agora, em Paris, quem vai pela segunda corrida seguida é Günther – ao lado de López. Nasr ficou fora em Roma porque tinha corrida no IMSA, mas não há conflito de data para o eP de Paris. A palavra oficial é, então, que se trata de uma oportunidade para Felipe concentrar no campeonato que lidera.
 
Günther, um piloto mediano na melhor das hipóteses, classificou bem e, não fosse por uma punição na corrida de Roma, faria pontos. Olhar apenas o rendimento, muito melhor para o alemão, é injusto. Ele conhece o carro, tem muito mais quilometragem está na Dragon, então como reserva, desde o ano passado e conhece a FE. Nasr nem participou de dois dos três ePs em que esteve.
 
Nasr tem ido muito bem com os protótipos. Muito bem mesmo, é uma revelação que tenha clicado tão rápido nesse tipo de carro. E não estamos aqui para definir onde um piloto deve correr, que deve esquecer os monopostos para sempre, nada disso. 
Nasr e D'Ambrosio se acidentaram em Hong Kong (Foto: Reprodução)

Mas há, sim, um questionamento a ser feito: Nasr demorou a se recolocar no mercado de pilotos após as chances na F1 evaporarem. Demorou, mas quando retornou foi logo para encontrar o sucesso e remontar o respeito de piloto promissor que teve durante anos. Acontece que essa opinião sobre ele ficou por um fio e, quando recebeu a chance no SportsCar, parecia a última em alto nível. Por que gastar nesse momento numa FE que oferece tão pouco para um piloto reagir quando jogado de paraquedas em um dos carros no meio do campeonato?

 
Se a Dragon e Nasr negociaram que a parcimônia faz parte do acordo, um esquema em que a equipe assegura alguém em que acredita para o futuro e o piloto segura uma vaga que interessa, aí vale. Nesse caso, a Dragon vai dar o tempo necessário para Nasr se adaptar durante o resto dessa atual temporada sem se expor muito.
 
A alternativa é que essa conversa não houve e a Dragon esperava que Nasr respondesse quase que imediatamente com resultados. Se esse for o caso, sim, dá para dizer que Nasr cometeu um enorme equívoco ao entrar no labirinto sem um novelo dourado que marcasse o caminho. 
 
Vamos descobrir rápido qual das duas situações é a real. 

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