Editorial: Paulo Gustavo e o país em que sorrir se paga com a morte

Paulo Gustavo tinha muito a viver, a amar, a criar, a sorrir. Mas sua morte é mais um caso de sucesso daqueles que nos deveriam salvar

Continuam nos impondo a obstinação pela morte. Aos 42 anos e para uma doença para a qual há vacina. A Covid é a arma, mas o desejo de nos machucar, de nos matar, já estava ali muito antes. Com a Covid de aliada, já foram 412 mil casos de sucesso de destruição e sangue. Não há sorrir em destruir.

E agora escolheu caprichosamente onde bater: no sorriso. Na alegria do comediante mais assistido da história do cinema brasileiro. Mais uma tentativa deste lugar inclemente que um dia foi um país, mas que resolveu, como golpe bárbaro da promessa do fim da esperança, mancomunar-se à pandemia mais mortal do século e amaldiçoar de vez este solo dos filhos que ficaram órfãos da mãe gentil.

Já perdemos tanto que nos sobrou a vergonha de comemorar o pouco que nos resta em meio à desolação. A cada dia, então, o recado se reforça: vocês estão ao Deus dará. E a cada noite, a calada invade as casas e tira delas mães e pais, filhos e filhas, avós e avôs, irmãos e irmãs. Tira sorrisos. Não só os que já foram, mas os que viriam. Ficamos órfãos dos que foram, negados para sempre dos que não chegaram em tempo. Tudo arrancado de nós bem de baixo dos olhos que já não parecem mais nos servir. Quando o dia volta e estamos de novo ao Deus dará, o que sobrou foi o vazio. O que sobrou foi a saudade e a agonia de ficar pra sempre sem saber o que não veio.

De Paulo Gustavo, confesso, não fui fã da arte por bons anos. Mas fui fã dos muitos sorrisos que causou em pessoas da minha vida e aos tantos outros que terminavam um dia qualquer mais animados com a vida deles, porque assim a comédia e a criatividade permitem que seja. Porque provocar sorrisos te abre portas e provocar muitos sorrisos te abre famílias. Não é coincidência que tanta gente sinta um golpe agora como se fosse na própria mesa de jantar.

Minha maior conexão com Paulo Gustavo sempre foi o Méier. O Méier do meu coração e que serviu de tela em branco para o ‘Vai que Cola’ que o tornou enormemente popular. E preciso fazer outra confissão: muitas vezes as piadas com o Méier me causaram certo rancor. Agora, fazendo breve retrospectiva na minha cabeça, sinto que o Méier perdeu parte de sua identidade, como certamente perdeu quando se foi Lima Barreto, quase 100 anos atrás.

Paulo Gustavo deixa os sorrisos e deixa dois filhos pequenos, frutos da linda relação com seu marido, Thales Bretas. Uma relação importante, porque era corajosa num país onde amar mata e ofende tanto. Amar é aula, e ver essa família golpeada assim machuca a qualquer um com um coração que ainda bate no peito. A eles, a toda a família e a todas as famílias que tanto perderam, o nosso desejo de força, de luz e de espiritualidade para quem é da espiritualidade.

Por fim, gostaria de terminar com uma mensagem otimista, uma frase que fosse, mas não tenho. Estão tentando nos matar. O trabalho feito por este país em meio ao desastre sanitário é para nos matar. Vivam. Viver, como disse o professor Luiz Antônio Simas, é a resposta à matilha de canalhas que nos guia ao precipício em busca do fim mais ardiloso possível. Vivam! Vivam por vocês e por aqueles que foram pegos nas redes de arrasto da destruição. Não cansem de viver. Cuidem-se e respeitem o bom senso sanitário neste período complicado, mas resistam e vivam por longos anos. É assim que vamos responder a esses assassinos que nos querem trucidados. Vivam, pelo amor de Deus.

Mataram Paulo Gustavo. Mataram exatamente no aniversário de 1 ano em que mataram Aldir Blanc. Já tinham matado muitos antes, vão matar muitos depois. A Covid foi a arma, mas todos sabem quem foram os culpados. Mas não vão matar todos.

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