André Ribeiro, 1966-2021

André Ribeiro sai de cena como um dos grandes nomes do automobilismo brasileiro. Em 1996, alcançou seu feito mais incrível e foi o único local a triunfar em uma corrida da Indy em solo nacional

Álex Palou foi a primeira vítima na classificação em Indianápolis (Vídeo; Reprodução)

André Ribeiro da Cunha Pereira é um nome vai ficar para sempre marcado na história do automobilismo brasileiro e, principalmente, nos corações dos fãs que acompanharam a Indy durante a década de 1990. No último sábado (22), porém, perdeu a batalha contra um câncer de intestino e concluiu a corrida da vida.

Nascido em São Paulo, em 18 de janeiro de 1966, André começou no kart em 1986, aos 19 anos, com direito a vitórias seguidas nas Duas Horas de Interlagos e vices no Campeonato Paulista. Ainda passou pela Fórmula Ford Brasileira em 1989 e, depois, seguiu para a Europa, onde correu na Fórmula Opel e Fórmula 3 Inglesa, sendo contemporâneo de Rubens Barrichello e David Coulthard.

André seguiu no Velho Mundo até 1993. Em 1994, foi para os Estados Unidos e competiu na Indy Lights. Lá, teve uma disputa ferrenha com o britânico Steve Robertson e fechou como vice-campeão, apenas 9 pontos atrás do rival, chegando a superar nomes de peso do grid, como Greg Moore e Patrick Carpentier. Ribeiro passou a integrar o chamado Marlboro Brazilian Team e, graças também a outros importantes patrocínios no Brasil, conseguiu dar o passo seguinte na carreira.

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A primeira vitória de André RIbeiro na Indy, em New Hampshire (Foto: IndyCar)

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A estreia na Indy veio em 1995 com a equipe Tasman, chefiada por Steve Horne. Naturalmente, o ano de debute foi difícil, mas o pacote Reynard/Honda/Firestone alcançou tamanho nível de performance que tornou-se o melhor do grid nos anos seguintes. Foi com esse conjunto que André, com o carro todo colorido e numeral #31, conquistou um resultado histórico: ao triunfar no oval curto de Loudon, em New Hampshire, Ribeiro virou o segundo brasileiro em toda a história a vencer na Indy, feito que só havia sido alcançado por Emerson Fittipaldi.

A Indy, sempre é importante lembrar, viveu seus anos de ouro no Brasil naquele meio de década e tinha no grid nomes
como Emerson e Christian Fittipaldi, Maurício Gugelmin, Raul Boesel e Gil de Ferran. André fazia parte daquele universo, que era transmitido ao vivo na TV aberta pelo SBT.

Em 1996 teve seu melhor ano, com duas vitórias e diversos resultados expressivos, fechando a disputa em 11º. Os dois triunfos tiveram gostos diferentes. No Rio de Janeiro, conquistou a primeira corrida da Indy no Brasil, diante de arquibancadas lotadas no Rio de Janeiro. E mais: o primeiro brasileiro a vencer uma grande corrida em casa desde a morte de Ayrton Senna, que havia triunfado no GP do Brasil de F1 de 1993. Foi um feito enorme.

Ribeiro realmente fez história na Rio 400, no recém construído circuito oval, bastante peculiar, no saudoso autódromo de Jacarepaguá. Em uma época em que a Indy borbulhava no Brasil e explodia com recorde de audiência no SBT, André alcançou a grande glória da carreira em um 17 de março. A grande festa nas arquibancadas do circuito carioca também se viu no pit-lane, em que André foi abraçado até mesmo por Agnaldo Timóteo, outro grande que nos deixou.

André Ribeiro venceu a Rio 400 de 1996 (Foto: Divulgação)

“Foi disparado o melhor momento da minha carreira. Lembro que três dias depois da corrida eu seguia sem dormir. Fui ao Programa do Jô, em vários outros programas da época e a excitação era tão grande que eu só consegui voltar a dormir quando fui para os Estados Unidos. A comemoração de todos, a repercussão que deu, eu imagino que nem com um americano vencendo as 500 Milhas de Indianápolis aconteça algo parecido com aquilo da Rio 400”, disse Ribeiro em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO.

André largou em terceiro, atrás de Alex Zanardi e Greg Moore e teve de ter paciência. Logo na volta 11, Mark Blundell espatifou o carro da PacWest em acidente pavoroso e quebrou o pé ao chocar o Reynard/Ford/GoodYear na curva 4, parando a prova com bandeira amarela até o 23º giro.

Gil de Ferran, que também vinha bem, ficou sem combustível e acabou saindo da luta pelas primeiras colocações já na segunda metade da corrida. Moore e Ribeiro foram, então, costurando um duelo pelo primeiro lugar, quando o canadense, na volta 115, abandonou após quebrar a suspensão.

Parecia que André teria um caminho mais tranquilo para triunfar, mas o fator tradicional Indy entrou em cena. Robby Gordon bateu, chamou uma amarela e fez o pelotão se reagrupar. Foi aí que veio a pitada de drama, com Al Unser Jr. na cola do brasileiro na relargada. Apesar dos ataques de Unser, Ribeiro segurou bem a dianteira e triunfou com pouco mais de 2s de vantagem para o rival, fazendo a festa com uma torcida que vivia um caso de amor com a categoria norte-americana e, claro, com pilotos brasileiros em destaque.

Nas 500 Milhas de Michigan, algumas corridas depois, André sempre esteve entre os primeiros colocados e venceu com autoridade uma das provas mais disputadas e badaladas do calendário da Indy. Mesmo assim, o dia de alegria de Ribeiro foi marcado pelo forte acidente que encerrou a carreira do experiente Emerson Fittipaldi logo da primeira volta da prova.

O último ano na equipe Tasman, 1997, foi marcado por problemas com o instável chassi Lola. A troca no meio da temporada para o Reynard o fez reagir, conquistar um pódio em Toronto, e fechar em 14º. Em 1998, André foi contratado pela poderosa Penske. Apesar de estar na maior equipe do grid, sofreu com os muitos problemas do time e fez apenas 13 pontos. No fim do ano, encerrou precocemente sua carreira no automobilismo para se dedicar à carreira de empresário.

Ribeiro se juntou ao lendário Roger Penske e foi peça-chave dos seus empreendimentos no Brasil. André também virou nome de concessionária e administrou uma rede de venda veículos em São Paulo, sua cidade natal. Em 2002, ainda se aliou ao colega Pedro Paulo Diniz para promover as categorias Fórmula Renault e Copa Renault Clio no Brasil, além de ter sido empresário da pilota Bia Figueiredo.

Nos últimos anos, ficou distante dos holofotes, aproveitando a carreira longe das pistas. Mesmo assim, André nunca deixou de estar presente na memória de todos os fãs do automobilismo. Tudo por conta daquele feito histórico em Jacarepaguá em uma época que a Indy crescia de maneira vertiginosa no Brasil.

André Ribeiro: definitivamente, um grande nome na história do automobilismo brasileiro.

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