Coluna Indy Rocks, por Hugo Becker: Welcome back, Chip Ganassi

A trinca da Ganassi no GP de Pocono despertou surpresa e aquela famosa sensação de nostalgia de quem vê um sopro de vida e brilho em um velho decadente. Uma espécie de suspiro que não se sabe ao certo se é o último, mas é melhor aproveitar como se fosse. Surge, aqui, o gancho para algumas estatísticas: dos últimos 17 campeonatos, ninguém levou mais títulos que o time do velho Chip. Foram nove, contra três de Penske e Andretti

Em um mundo cada vez mais acostumado à velocidade absurda que hoje separa o novo do velho, o atual do antigo, o contemporâneo do nostálgico, o 'in' e o 'out', a espetacular trinca da Ganassi no GP de Pocono, 11ª etapa da Indy em 2013, despertou surpresa e aquela famosa sensação de nostalgia de quem vê um sopro de vida e brilho em um velho decadente. Uma espécie de suspiro que não se sabe ao certo se é o último, mas é melhor aproveitar como se fosse.

 
Quando Scott Dixon, Charlie Kimball e Dario Franchitti receberam, quase colados, a bandeira quadriculada no belíssimo trioval de Long Pond, a notícia rapidamente ganhou repercussão – ainda que a TV aberta, mais uma vez, tenha passado ao largo da prova. Nas redes sociais, pingaram comentários do tipo "sim, essa é a Ganassi de Zanardi e Montoya, a campeã de sempre!", ou "Ganassi voltando aos velhos tempos".
 
A definição de 'velhos tempos' para a geração 2.0 é algo que me desperta sincera curiosidade, já que até o ano passado, o time do velho Chip disputava o título de igual para igual com as sempre fortes e competitivas Penske e Andretti. 
 
Surge, aqui, o gancho para algumas estatísticas simples e objetivas que dimensionam com profunda exatidão o tamanho da equipe dentro do universo da Indy.
 
Fundada em 1990 e nascida para ser grande, a Ganassi – sempre em longa e interminável parceria (e identificação) com a Target, rede de hipermercados dos EUA – conquistou a primeira pole em 1993, com o holandês Arie Luyendyk, logo nas 500 Milhas de Indianápolis daquele ano. Na temporada seguinte, veio a primeira vitória, em Surfers Paradise, na Austrália. Michael Andretti, hoje dono de sua própria equipe, foi quem entrou para a história do time vermelho como o dono do primeiro triunfo.
 
Pulamos um ano e chegamos a 1996. E, antes de qualquer número frio, damos outro salto até 2012. Neste espaço de tempo, foram disputados 17 campeonatos. Ninguém, absolutamente ninguém, ganhou mais títulos que a escuderia de Chip, discreto ex-piloto da Indy cuja carreira minguou após um grave acidente durante o GP de Michigan de 1984.
 
Foram incontestáveis nove campeonatos. Penske e Andretti, para efeito comparativo, levaram três. A saber: Jimmy Vasser levou a taça em 1996, enquanto em 1997 e 1998, a bola da vez foi Alessandro Zanardi, bicampeão da categoria. Em 1999, um estreante triunfou: Juan Pablo Montoya, na época também piloto de testes da Williams na F1. Em 2003, Dixon levou seu primeiro título – feito repetido em 2008. Temos, então, a humildade (ao contrário) de Franchitti ao enfileirar um tricampeonato consecutivo entre 2009 e 2011.
 
Somente em 2012, quando a principal categoria de monopostos dos EUA voltou a ter disputa de motores entre a Honda – fornecedora única entre 2009 e 2011 – e a Chevrolet, é que a Ganassi perdeu relativo espaço para suas duas maiores rivais. Ainda assim, o neozelandês que triunfou no último domingo (7) em Pocono conseguiu vitórias, pódios e a terceira posição na tabela de pontos, atrás apenas do campeão, Ryan Hunter-Reay, e do vice, Will Power, da Penske.
 
O ano de 2013, portanto, é totalmente atípico para a equipe. Tendo nos cockpits dois multicampeões, como Franchitti e Dixon, e um pouco eficaz mas sempre veloz Kimball ocupando o terceiro carro da escuderia, o fato é que os resultados não vieram até Long Pond. O casamento entre Andretti e Chevrolet parece, ainda, muito superior aos demais conjuntos, enquanto aparentemente, somente agora, na segunda metade do atual campeonato, é que a Ganassi parece ter entendido, enfim, o funcionamento dos motores que a Honda entregou ao time.
 
Apesar de parecer tarde para uma hipotética disputa de título, é importante lembrar que embora Dario possa estar acusando os primeiros sinais da idade e Charlie não seja exatamente um primor de piloto, Scott está ali, em quarto na disputa, 65 pontos atrás do líder Helio Castroneves. Se o time resolver embalar uma sequência de bons resultados nas oito corridas restantes, o neozelandês pode, por que não?, entrar na briga pela taça.
 
Isso, convenhamos, tio Chip sabe fazer como poucos. Os números provam. E a ternurinha nostálgica com a trifeta Poconística pode voltar a ser o enfado de um domínio interminável por parte dos carros (quase sempre) vermelhos. 
 
Não se deve jamais subestimar uma gigante como a Ganassi.
 
De grão em grão?
 
Marcar pontos na Indy não é lá um grande desafio: todos os pilotos, por alguma razão, de alguma forma pontuam. E é com base nisso que Castroneves vem mantendo o conservadorismo e buscando os pontos necessários (?) para se manter na liderança do campeonato de 2013. 
 
É claro que, mesmo tendo reagido, a Penske está longe de ter o melhor carro do grid. Mas para quem quer, enfim, ser campeão, Helio está se arriscando muito pouco. A regularidade é um trunfo, claro, mas são apenas quatro pódios em 11 etapas e nada menos que três oitavos lugares. O brasileiro pode – e precisa querer – mais. Caso contrário, corre o risco de ver um campeonato talhado com o maior cuidado do mundo lhe ser tomado das mãos na última prova do ano, como já aconteceu anteriormente.

"Sorry, guys"

 
Tony Kanaan, de fato, elevou a KV a outro nível – sobretudo nos circuitos ovais. O crescimento da equipe em 2013 é sensacional, e pelo ritmo apresentado nas últimas provas, 'TK' pode, de fato, correr por fora na briga pela taça. Sua situação seria muito melhor, no entanto, se ele não tivesse cometido um erro bobo ao ultrapassar Dixon em Pocono. O toque, discreto, mínimo, e a quebra do aerofólio dianteiro, transformaram a glória da vitória em um melancólico 13º lugar.
 
Acontece, claro. Mas em um ano tão equilibrado, cada ponto perdido pode custar muito mais caro do que parece após a derradeira bandeira quadriculada em Fontana.
 
Overdose
 
Nas cinco primeiras etapas de 2013, a Indy reviveu o que há de melhor em sua essência e conseguiu convencer quem vê a categoria – por dentro e também do lado de fora – de que o momento era histórico, uma espécie de retomada das origens. Corridas memoráveis, pilotos de altíssimo nível… Tudo fazia supor que a competição voltaria a chamar audiência, público, torcida e mídia, recuperando o terreno perdido com a cisão entre Champ Car e IRL, anos atrás.
 
No entanto, é preciso usar do senso crítico. As rodadas duplas – como a que se avizinha, em Toronto, uma semana após uma longa prova de 400 milhas – são extenuantes, longas, cansativas, e desgastam a imagem da categoria junto ao público. O regulamento do treino classificatório em Iowa foi uma aberração que até pode agradar aos mais fanáticos, mas dá 'tilt' na cabeça da massa que acompanha a categoria.
 
A Indy precisa urgentemente se reciclar e reaprender a ser, de fato, popular. Só que nitidamente, confundir e saturar a paciência do espectador não é o melhor dos caminhos.

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