Indy debate com equipes novo carro para 2027 e vê dilema entre custos e modernidade
Caso Indy adote caminho futurista, grande parte das peças atuais podem se tornar obsoletas e custos disparam para equipes. No entanto, alguns chefes estão descontentes com desenho atual do projeto
Enfim, a Indy vai mudar o carro da categoria após mais de uma década. Utilizando o mesmo chassi desde a temporada de 2012, a Penske Entertainment, dona do certame, revelou aos chefes das equipes um esboço do que tem sido desenvolvido pela Dallara, que está previsto para entrar em pista no campeonato de 2027. Ouviu ponderações por parte dos dirigentes e sequência do desenvolvimento pode esbarrar entre baixar os custos ou voar no caminho da modernidade.
Indy e chefes de equipe tiveram uma primeira reunião nesse sentido no último mês de outubro, quando a categoria apresentou uma renderização deste novo carro. Em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO, Ricardo Juncos, um dos sócios da Juncos Hollinger, admitiu que os trabalhos estão em estágios iniciais, mas que o desenvolvimento tem sido feito para abarcar o motor híbrido da categoria, que estreou com muitas polêmicas durante a temporada 2024 da Indy, visto que o sistema apresentou algumas falhas e deixou os custos mais elevados — o aumento do peso também gerou mais despesas com as batidas, pois os danos aos carros se tornaram maiores.
Vale destacar que o novo carro será o primeiro projetado com o aeroscreen. O dispositivo de segurança, implementado em 2020, foi acoplado ao IR-18, sem que este estivesse preparado para receber a peça. Em 2023, o aeroscreen foi remodelado e se tornou mais leve, mas, ainda assim, o chassi não era projetado para recebê-lo na Indy.
“Precisamos de um carro integral completamente desenhado com sistema híbrido incorporado, com sistema de segurança, projetado para o aeroscreen. Acho que a ideia da categoria é introduzir no ano de 2027 ou 2028, dependendo dos prazos. Vamos precisar nos preparar para isso, porque vai ser um custo gigante”, disse Juncos ao GRANDE PRÊMIO.
O conceito do novo carro é levemente diferente aos modelos atuais, com uma asa traseira mais larga e com o mesmo estilo que vemos na Fórmula 2 e Super Fórmula Japonesa, o que fez chefes de equipe pedirem uma concepção diferente. De acordo com a revista norte-americana Racer, um dos líderes de time enviou um e-mail para boa parte de seus colegas e pediu que o conceito do carro tivesse ares futuristas. Na mensagem, anexou uma imagem do Red Bull X1, conceito de Adrian Newey, que fez parte das edições 5 e 6 do jogo Gran Turismo. Também foi solicitado à Indy uma cópia da renderização do novo modelo idealizado pela Dallara, o que foi negado. A categoria deixou a expectativa de que as imagens podem ser compartilhadas no futuro.
O projeto, assim como é o carro atual, prevê um modelo spec — toda a aparência externa não será permitida modificações. A Penske Entertainment também pretende atender um pedido dos chefes de equipe, que é poder reutilizar algumas peças utilizadas atualmente. Ao GRANDE PRÊMIO, Juncos explicou que isso auxiliará nos custos.
“Hoje, temos seis carros para dois pilotos. São dois para a Indy 500, dois para os outros ovais e dois para circuitos mistos. Tudo isso vai ficar obsoleto. Espero que o novo carro possa aceitar muitas transferências peças e componentes para baixar o custo”, falou Juncos.
É neste ponto que pode habitar um dilema para a Indy. O conceito similar ao carro atual permitirá um maior número de transferências de peças, enquanto os ares futuristas e uma concepção bastante diferente da atual pode inviabilizar a utilização de muitos componente. Isso é algo que a Indy está de olho.
“A prioridade número #1 não é ver o quanto conseguimos baratear tudo, mas os gastos serão considerados conforme as coisas forem desenvolvidas. A Dallara está no caminho certo ao desenvolver o chassi com muitos outros fornecedores parceiros. Há muito trabalho em andamento. Nossa primeira reunião não era um referendo, pois queríamos feedback. Isso continua. Tem coisa mudando, tem coisa que vai mudar”, comentou Mark Miles, CEO da Penske Entertainment.
Sócio da Meyer Shank ao lado de Jim Meyer e Helio Castroneves, Mike Shank é da linha que a Indy precisa inovar no conceito do carro para chamar a atenção de pessoas fora da bolha de fãs da categoria.
“Temos de fazer algo que as pessoas fora da Indy falem sobre ele. Vamos subir o nível, fazer mais gente público voltar a ver a categoria. Em termos de design, vamos pensar fora da caixa, estaremos todos no mesmo carro. Mudar para algo atraente. Meu coração, que ama a Indy, quer um design novo. É o que precisamos. “, destacou o dirigente à Racer.
“Toda e qualquer ferramenta para trazer novo público para a Indy é necessário, e um novo carro, com um conceito bem diferente, é importante para isso. Pensar como Adrian Newey pensou com o X1 anos atrás. Não é reproduzir, mas ir por essa linha”, completou.
Dale Coyne, dono da equipe que leva seu nome e conhecido dentro do paddock por não gostar de realizar altos investimentos, acompanhou a visão de Shank.
“Parece ser a mesma coisa. Não é futurista. Parece o carro atual com alguns anos de atualização, não é moderno. Podemos dar um passo maior, ir além [do que foi mostrado] e causar uma reação que faça o público dizer uau. Fazer até os gamers falarem que isso é muito legal”, comentou.
Com a experiência de quem já trabalhou com Adrian Newey na Indy na década de 1980, Bobby Rahal, sócio da RLL, também mencionou o projeto Red Bull X1, mas ponderou que os trabalhos de desenvolvimento do novo carro estão em curso.
“O que foi apresentando não é algo concluído. Para mim, o que foi mostrado é para onde a Indy está pensando ir e querem ouvir nossa opinião”, falou Rahal. “Adrian Newey fez um conceito que foi bastante impressionante, especialmente agora que temos o aeroscreen. O X1 tem um para-brisa incorporado. Falei para a Indy o que Adrian me disse em um jantar no ano passado. As pessoas não se importam com o tamanho do radiador ou coisas do tipo. A aparência do carro conta mais, isso é o que empolga. O desafio vai ser criar um carro simples e que seja atraente”, prosseguiu.
Chip Ganassi, que tem estado alinhado com as diretrizes da Indy nos últimos anos, acredita que a decisão vai ser reutilizar o maior número de peças possíveis, o que deve fazer com que a primeira renderização apresentada seja o modelo de trabalho daqui por diante. Entretanto, explicou que não é tempo de discutir design do carro.
“Nada está definido até aqui, mas o carro precisa ser feito do ponto de vista da engenharia, entender tudo o que o envolve, seja segurança, manutenção, correr em ovais, circuitos de rua e outros. Depois é que se trabalha em como vai ser o design. Não é o contrário. Primeiro vem a função, depois a forma. Quando começam a dizer que o carro precisa ter tal aparência, estão colocando o desenho antes da função. Nisso é que eu discordo”, declarou.
CEO da McLaren, Zak Brown colocou à disposição a parte técnica da equipe para colaborar com a Indy e Dallara no desenvolvimento do carro. Mencionou ter feito trabalho parecido com a Federação Internacional de Automobilismo [FIA] para o conceito do carro da Fórmula 1 a partir de 2026.
“Nós e outras equipes trabalhamos de maneira muito colaborativa a FIA no próximo carro da F1. Contribuímos com engenheiros e nossa equipe de simulação e design. Conseguimos grandes coisas juntos, e ficaríamos felizes em fazer o mesmo na Indy”, encerrou.
▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
A Indy retorna somente no dia 2 de março do próximo, com o GP de St. Pete, na Flórida, que abre a temporada 2025. O GRANDE PRÊMIO faz cobertura completa de todos as atividades.
🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Indy direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.