Kanaan vence duelo contra Hunter-Reay, Muñoz e Andretti e leva vitória épica nas 500 Milhas de Indianápolis
Em corrida repleta de recordes quebrados, brasileiro duelou durante a corrida inteira com adversários de Andretti e Penske, superou atual campeão da Indy restando quatro voltas para o final e triunfou sob bandeira amarela, após acidente de Franchitti nos giros finais
A vez de Tony Kanaan chegou. E foi suado, sofrido, épico. O brasileiro venceu pela primeira vez, neste domingo (26), as 500 Milhas de Indianápolis, após duelar durante praticamente toda a corrida com Ryan Hunter-Reay e Marco Andretti.
A ultrapassagem que valeu a dramática vitória ao brasileiro veio a quatro voltas do fim, na relargada após interrupção da prova por conta do acidente de Graham Rahal.
E se a Ganassi teve desempenho discretíssimo na prova e em nenhum momento flertou com as primeiras posições, Dario Franchitti assumiu a função de protagonista ao bater no muro logo após a arrojada manobra de Kanaan sobre Hunter-Reay.
Tony Kanaan celebra vitória em Indianápolis (Foto: Getty Images)
A derradeira bandeira amarela definiu a edição de 2013 da Indy 500, para delírio do público que lotou as arquibancadas do Indianapolis Motor Speedway e vibrou a cada ultrapassagem do piloto da KV.
Carlos Muñoz, outra grata surpresa do dia, também superou Hunter-Reay na última volta sob bandeira verde e fechou a dobradinha latino-americana, cruzando a linha de chegada na segunda posição.
Helio Castroneves, que chegou a liderar a prova, foi sexto, enquanto Bia Figueiredo, que pode ter feito sua despedida da Indy, fechou em um bom 15º lugar.
A prova também foi marcada por recordes: foi a edição das 500 Milhas de Indianápolis com mais trocas de posição na liderança e, também, a que teve mais líderes diferentes. Reflexo puro do equilíbrio atual na categoria.
Confira como foi a 97ª edição das 500 Milhas de Indianápolis:
Hildebrand e o abandono precoce
Na largada, Carpenter manteve a liderança, seguido por Muñoz e Andretti. No entanto, o colombiano foi superado tanto pelo norte-americano quanto por Ernesto Viso antes mesmo do fim da primeira volta, e despencou para o quarto lugar. Will Power, Helio Castroneves e Kanaan foram os grandes destaques nas primeiras voltas: o trio avançou rapidamente e passou a figurar logo de cara no top-7.
Na quarta volta, o muro do Indianapolis Motor Speedway fez sua primeira vítima: longe de qualquer protagonismo, JR Hildebrand saiu do traçado, perdeu a traseira e bateu, abandonando a prova e causando a primeira bandeira amarela do dia.
Veio a primeira relargada, e com ela, um dos momentos mais intensos da edição de 2013 da Indy 500: Kanaan, como de costume, pulou rapidamente da quarta para a primeira posição, superando de forma determinada tanto Carpenter quanto Andretti.
O que se viu nas voltas seguintes foi uma sequência fantástica de incessantes trocas na liderança entre o brasileiro e o norte-americano, com ultrapassagens arrojadas. Ed, terceiro, ficou apenas à espreita. Mais atrás, Hunter-Reay, Muñoz e Viso também trocavam posições dentro do top-6.
O duelo durou por cerca de 15 voltas, até Tony abrir a primeira rodada de pit-stops, no 29º giro. Neste momento, o trio de líderes chegou a ser formado por James Jakes, Pippa Mann e Simona de Silvestro – um momentos mais inusitados da corrida.
Largada das 500 Milhas de Indianápolis com Ed Carpenter na pole (Foto: Getty Images)
Mais duas amarelas
A segunda bandeira amarela foi provocada por Sebastián Saavedra. Na 36ª volta, o colombiano foi fechado por Justin Wilson ao tentar ultrapassá-lo, rodou e bateu de leve no muro, sem causar grandes danos a seu carro.
Com a nova relargada, pouca coisa mudou entre os líderes. A passagem pelos boxes alterou posições, mas não modificou os protagonistas naquela fase da prova. Andretti apareceu na liderança, seguido por Carpenter, Hunter-Reay e Kanaan.
Sato foi um dos grandes destaques deste reinício, saindo das posições intermediárias e aparecendo em sétimo, dando indícios de que poderia até mesmo entrar na briga junto ao pelotão da frente. Mas o ex-líder do campeonato cometeu um pequeno erro ao passar pela parte suja da pista e também achou o muro, provocando a terceira interrupção da Indy 500.
O piloto da Foyt deixou o carro morrer, mas como sofreu apenas um problema nos pneus, conseguiu entrar nos boxes e voltou à prova, ainda na mesma volta dos líderes, mas apenas na 29ª posição, perdendo qualquer chance de lutar pela vitória.
O despertar da Penske
Na terceira relargada, mais do mesmo. Andretti, Hunter-Reay, Kanaan e Carpenter continuaram dominando a prova e trocando posições na liderança.
A corrida só começou a ganhar um cenário alternativo a partir da volta 72. Perto da metade da corrida, a Penske acordou. Power surgiu como uma flecha, entrou no top-10 e, volta após volta, foi ganhando posições até chegar na liderança. Ao mesmo tempo, Carpenter perdeu rendimento de forma vertiginosa e, em apenas duas voltas, caiu da segunda para a décima posição, dando por encerrado seu conto de fadas em sua cidade natal.
Depois de um período de muita ação e trocas entre os quatro primeiros, houve um pequeno momento de calmaria com Power na liderança, seguido por Kanaan, Hunter-Reay, Andretti, Viso e AJ Allmendinger, uma das gratas surpresas do dia.
Aproveitando o fim do 'coma' da Penske, o piloto do carro #2 precisou de apenas uma giro e meio para pular da sexta para a primeira posição, com ultrapassagens bastante arrojadas e um ritmo impressionante que o colocou como um dos postulantes à vitória. Castroneves também se beneficiou do rendimento da equipe e apareceu pela primeira vez de fato entre os primeiros, em quarto.
A guerra dos pilotos, então, passou a ser com relação ao combustível. Visando economizar etanol, ninguém se arriscava a tentar disparar na liderança. Kanaan e Andretti voltaram a se revezar na primeira posição, volta após volta, sem, no entanto, um real duelo. Hunter-Reay também entrou na troca e os três se mantiveram como líderes durante várias voltas.
Após a terceira rodada de pit-stops, o brasileiro ficou um pouco mais para trás, se mantendo entre os seis primeiros colocados. Quem entrou na briga de vez foi Castroneves, que imprimiu ritmo forte e assumiu a liderança pela primeira vez, restando apenas 55 voltas para o fim.
Tony Kanaan lidera pelotão em Indianápolis (Foto: Getty Images)
A relargada da vitória
De repente, o que parecia razoavelmente previsível se tornou algo absolutamente indefinido e dramático. Os deuses do automobilismo reservaram as emoções da edição de 2013 da Indy 500 para as voltas finais.
Na última bateria de pit-stops, restando pouco menos de 15 voltas para o fim, Kanaan enfrentou um problema na mangueira de reabastecimento e acabou voltando em terceiro, atrás de Andretti e Hunter-Reay. Com as posições redefinidas, o brasileiro novamente superou ambos e reassumiu a liderança.
A partir deste momento, o duelo se tornou polarizado. Não havia mais jeito. A vitória ficaria entre Tony ou Ryan. Um dos dois beberia o leite da vitória pela primeira vez na carreira.
Hunter-Reay deu o troco, é claro. Mas Kanaan não deixou barato e retomou a ponta. A oito voltas para o fim, no entanto, o norte-americano voltou a superar o brasileiro. A vitória se aproximava cada vez mais do norte-americano.
Mas quando ninguém mais esperava interrupções, Graham Rahal, que passou a corrida toda na obscuridade, resolveu perder o controle de seu carro e acertar o muro interno na curva 4. Veio, então, a quarta bandeira amarela.
A única chance de Kanaan era torcer para que os funcionários limpassem a pista a tempo de uma relargada, uma das maiores especialidades do brasileiro.
Foi o que aconteceu. A quatro voltas do fim, bandeira verde. Tony, determinado, voou para cima de Hunter-Reay. Muñoz, espetacular, também deu o bote sobre seu companheiro de equipe. Três carros lado a lado antes da curva 2. E quem a contornou na frente foi o brasileiro, seguido pelo colombiano. Foi o último ato do duelo pela vitória, o momento do clímax, em que tudo se decidiu.
Tudo porque segundos depois, Franchitti, outro figurante em Indianápolis, acertou de frente o muro e deixou detritos de sua Ganassi espalhados por toda a pista entre as curvas 1 e 2. Bandeira amarela. Fim de prova.
O dia de Kanaan, enfim, chegou (Foto: Jonathan Ferrey/Getty Images)
Kanaan acelerou sua KV e sumiu na frente dos demais carros, que já vinham em ritmo mais lento por conta da entrada do Pace Car. Queria assegurar a vitória. Mas já não era mais necessário. As três voltas finais foram cumpridas apenas por protocolo, e o brasileiro desfilou lentamente para receber a merecida ovação da torcida que lotou as arquibancadas do autódromo.
Foi a 16ª vitória do brasileiro na Indy. Sem dúvida, a mais brilhante e emocionante de todas. O triunfo de Indianápolis, que teimava em escapar, finalmente chegou. Enfim, Tony colocou seu nome na história da prova.