Na Garagem: Krosnoff morre após acidente horrível no GP de Toronto da Indy

Jeff Krosnoff disputava uma temporada da Indy pela primeira vez, em 1996, quando morreu após um acidente dos mais feios da história da categoria, durante o GP de Toronto

O GP de Toronto, disputado em 14 de julho de 1996, foi um dos mais tristes da história da Indy e do automobilismo. A 11ª das 16 etapas da temporada da CART acabou marcada por um acidente de tenebrosas proporções, com duas mortes no circuito de rua canadense.

A corrida teve pole do brasileiro André Ribeiro, que seria um dos pilotos envolvidos indiretamente no acidente fatal da volta 92 das 95 previstas. Ribeiro, aliás, praticamente não esteve na ponta da prova, sendo rapidamente ultrapassado por Alex Zanardi.

Zanardi, por sua vez, foi protagonista nas primeiras colocações até o fim da corrida. O italiano puxou a fila em praticamente todas as primeiras 65 voltas da corrida, tendo sido só superado, em determinado momento, por Greg Moore.

Greg voltava à dianteira no 68º giro, ficando por lá até o 78º, quando Adrián Fernández fez a manobra que valeria a vitória. Isso tudo, porém, acabou ficando absolutamente esquecido em meio à tragédia que aconteceu na parte final do pelotão.

Jeff Krosnoff vinha no meio do pelotão em Toronto (Foto: Reprodução/Twitter)

Na briga que valia a 15ª colocação, logo atrás de Emerson Fittipaldi, o sueco Stefan Johansson colocou de lado para ultrapassar Gil de Ferran e, em efeito cascata, fechou a porta bruscamente para Jeff Krosnoff. Teve início, assim, uma das batidas mais horríveis de todos os tempos no automobilismo.

Krosnoff decolou, acertou em cheio a grade de proteção e só parar em uma árvore e, depois, em um poste, ambos em volta do traçado. O carro da Arciero-Wells se desintegrou no ar, se partindo em várias partes, as duas maiores bem longe uma da outra: Krosnoff ficou no meio da reta, enquanto o motor foi parar na curva seguinte.

Ribeiro, que estava logo adiante do acidente, foi parar na área de escape junto com Johansson e o motor de Krosnoff. O piloto de Oklahoma, de acordo com as informações da equipe de resgate de Toronto, morreu na hora, com múltiplas fraturas pelo corpo e lesões severas na cabeça.

Aquilo já seria suficiente, pelo impacto da cena e pela consequência, para ficar na história como um dos momentos mais tristes que a Indy já teve, mas ainda teve como piorar. O fiscal Gary Arvin foi atingido na cabeça, quando estava de costas, pela frente do carro de Krosnoff. E também não resistiu.

Jeff Krosnoff morreu aos 31 anos (Foto: Reprodução/Twitter)

O acidente encerrou a corrida três voltas antes do fim, com vitória de Fernández, que comemorou, de certa forma, timidamente. De todo modo, entrou para a história como um capítulo dos mais tristes, que o GRANDE PRÊMIO recorda com Christian Fittipaldi, então piloto da Newman/Haas, que terminou a prova em sétimo.

“Lembro de bastante coisa. Estava brigando com o [Jimmy] Vasser nas últimas voltas, a gente sabia do acidente, mas ninguém tinha visto nada, a gente não sabia nada. Eles pararam justo no começo da reta, o Jeff [Krosnoff] foi bater no final da reta, então não tínhamos ideia daquilo que tinha acontecido. Quando todo mundo começou a voltar para os boxes – isso eu sinceramente não lembro, se a gente ligou os carros guiando ou voltando a pé para os boxes, acho que foi a pé – e aí começamos a ver todas as cenas na televisão e foi realmente muito chocante. E daí acabou ficando mais na minha memória porque o Emerson [Fittipaldi] estava envolvido, mas a partir do momento que eu parei o carro, já sabia que ele estava bem porque tinham me avisado no rádio”, lembrou Christian em exclusiva ao GP.

Fittipaldi também falou do impacto que a morte de Krosnoff teve na carreira. O brasileiro lembrou que sentiu mais a perda de Moore, três anos mais tarde, em um acidente que viu bem mais de perto, ainda na pista e não pela televisão.

“É óbvio que de maneira alguma você quer ver a perda de um companheiro, mas não foi a prova mais difícil para mim porque não aconteceu dos pilotos verem o acidente ao vivo, coisa bem diferente do Greg Moore, que estava praticamente do meu lado e começou rodando no meu espelho direito em Fontana, rodou para o lado de dentro e a próxima cena que lembro é ele no meu espelho esquerdo, e na hora que vi ele passando de um lado para o outro, sabia que iam dar uma bandeira amarela, mas óbvio que nunca ninguém imaginou que fosse acabar naquilo que deu”, disse.

Christian Fittipaldi estava na pista em 1996 (Foto: Peter Burke/Speedweek)

“Tirei o pé na reta, e a hora que tirei, pude acompanhar toda a batida, e realmente foi algo fora do comum porque eu já estava mais devagar e pude acompanhar olhando pelo espelho do lado esquerdo. Eu quis fazer esta comparação porque, com o Jeff, ninguém viu nada. Eu estava na frente deles, a única coisa que soube foi o que falaram para mim no rádio, que houve um acidente muito grave, que iam parar a corrida”.

Christian evita procurar culpados pelo acidente fatal de Krosnoff e não acha também que a corrida e a categoria aconteciam sem segurança. Para o piloto, a questão é simples: a segurança está em constante evolução na Indy e no automobilismo e são acidentes que mostram o que ainda há de frágil e que precisa ser aprimorado.

“Coloco na categoria de fatalidades. Não acho que teve nenhum culpado. Foi um acontecimento onde tinham carros brigando por uma posição na pista, olhando para trás, mas isso é muito fácil na vida de todo mundo. É óbvio que se tivessem feito uma cerca mais alta, para que o carro dele não batesse no poste, ou teriam tirado aquele poste na hora de montar o circuito na rua, mas isso é muito fácil a gente chegar nesta conclusão porque o acidente aconteceu. Fica óbvio você analisar todos os fatos e começar a apontar o dedo. Acho que estávamos no nosso limite de conhecimento de segurança, do mesmo jeito que daqui 20 anos, vão olhar para trás e falar: ‘Os pilotos da Indy eram doidos, correndo há 20 anos só com aquele para-brisazinho’”, explicou.

Jeff Krosnoff e o fiscal Gary Arvin foram homenageados na reta em Toronto (Foto: IndyCar)

“De repente, o lance daqui 20 anos será uma cápsula inteira em cima da cabeça, o carro praticamente fechado, só com um buraquinho para o piloto sair. Então, é muito delicada essa pergunta, eu não estou tentando dar uma resposta política, mas isso já foi assunto de vários jantares, especialmente com meu pai, que a gente discutiu a época que ele corria, que os carros eram de alumínio, não existia fibra de carbono, tanque de combustível do lado. Enfim, era outra realidade, eu já peguei um automobilismo bem mais seguro, hoje em dia está mais seguro ainda e tenho certeza que daqui 20 anos estará bem mais seguro. Segurança no automobilismo é uma evolução constante, que justamente deixa a gente salvar vários pilotos. Se não tivesse essa evolução constante, pode ter certeza que teríamos perdido muito mais pilotos do que já perdemos até hoje”, completou.

Krosnoff tinha 31 anos, fazia a primeira temporada na Indy e era psicólogo de formação e baterista nas horas vagas. A morte de Jeff aconteceu dois meses depois da de Scott Brayton, durante treinos livres da Indy 500 na IRL. Foram três anos até que, em 1999, Moore e o uruguaio Gonzalo Rodríguez também perdessem a vida.

As fatalidades, no entanto, diminuíram consideravelmente no século 21. Em 21 anos, quatro pilotos morreram: Tony Renna, em teste de pneus no IMS, em 2003, Paul Dana, em treino em Homestead, em 2006, Dan Wheldon, na decisão da temporada 2011, em Las Vegas, e Justin Wilson, nas 500 Milhas de Pocono, em 2015.

Os carros da Indy e a pista em Toronto passaram por diversas mudanças depois do acidente fatal de Krosnoff. Toronto segue no calendário até hoje, perdendo apenas 2008 – pela fusão CART e IRL – e 2020 e 2021, por conta da pandemia de Covid-19.

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