Na Garagem: Moore bate violentamente e morre na decisão da CART em Fontana

Greg Moore era um dos nomes mais promissores do grid da CART. Exatos 20 anos atrás, o canadense morreu após um acidente horrível nas 500 Milhas de Fontana

O dia 31 de outubro de 1999 é um dos mais tristes da história do automobilismo. O que era para ter sido marcado por uma das disputas mais espetaculares de todos os tempos da Indy acabou virando um dia de luto em um dos acidentes mais feios já vistos.
 
O contexto era o seguinte: Dario Franchitti e Juan Pablo Montoya lutavam pelo título da temporada de 1999 da CART em um campeonato de reviravoltas. Montoya havia liderado quase que o ano todo, mas chegou em desvantagem na final porque abandonou em Houston e Surfers Paradise, enquanto o escocês havia feito segundo lugar na prova texana e vencido a corrida de rua australiana.
 
Restava apenas uma corrida, as 500 Milhas de Fontana, tradicionalmente uma das mais animadas do calendário. A corrida não foi das piores em termos de emoção, com o pole Scott Pruett quebrando motor logo cedo, Max Papis liderando quase metade da corrida e ainda perdendo para Adrian Fernández e o brasileiro Christian Fittipaldi fechando o pódio.
Scott Pruett e Max Papis largavam nas duas primeiras posições (Foto: Reprodução/Pinterest)

 
No campeonato, Montoya conseguiu reverter a desvantagem de 9 pontos para Franchitti no limite, igualando em 212 pontos e levando no critério de desempate com seu quarto lugar no oval californiano, enquanto o escocês foi apenas décimo, mas, definitivamente, o merecido título do promissor colombiano ficou em segundo plano. E a festa foi bastante amarga.
 
Isso tudo porque a prova foi marcada por um acidente fatal de outro nome extremamente promissor do grid. Aos 24 anos, Greg Moore perdeu a vida numa batida horrorosa logo na nona volta da corrida.
 
O final de semana todo de Moore não foi fácil. Tudo começou com um acidente dentro do paddock, andando de moto, quando foi acertado por um veículo, caiu feio e quebrou a mão. Ali, já parecia improvável sua participação na prova, tanto que a equipe Forsythe acionou o brasileiro veterano Roberto Pupo Moreno, que estava em Fontana com a Patrick, que seria sua equipe em 2000.
 
“Estava lá acompanhando a corrida, já que iria correr na Patrick no ano seguinte, então estava lá gerenciando negociações, seguindo um processo de aprendizado com a equipe. Aí, quando ele se machucou e souberam que eu estava lá, o [Gerald] Forsythe me procurou, acho que na noite de sexta, perguntando se eu poderia substituir o Greg Moore de última hora”, disse ao GRANDE PRÊMIO.
 
“É um circuito que precisa se ter respeito, precisa treinar, ter muitos cuidados, era também um carro que você andava muito no limite e que ele precisava estar muito bem acertado, não era que nem um carro da IRL, você precisava de tempo para entender o carro. Só que meus desafios sempre foram assim. Então, eu virei para o Gerald [Forsythe] e falei: ‘Eu aceito, desde que você não me cobre resultados’. Ele respondeu: ‘De jeito nenhum, Roberto, sei das dificuldades que vou te colocar, tudo que quero é que você traga o carro até o final da corrida para eu ter participado’. Aí, eu aceitei correr”, seguiu.
Acidente de Greg Moore (Foto: San Bernardino Sun)
Acontece que Moore não quis dar a chance para Moreno e, mesmo já com contrato acertado com ninguém menos que a Penske para 2000, resolveu correr com praticamente uma mão apenas fazendo as funções no volante. O brasileiro, que fez teste de banco e se virou para arrumar seu equipamento, ficou mesmo de espectador.
 
“Apareci na pista no dia seguinte, peguei um macacão do Patrick Carpentier, se eu não me engano, um capacete e uma sapatilha de alguém que não me lembro, eu nunca levo meus equipamentos quando não vou correr, peguei tudo de última hora. Aí, quando o Moore viu que estavam fazendo um banco para mim, me deixando confortável no carro, ele foi até o hospital da categoria, fez os médicos darem umas anestesias na mão dele, já que tinha quebrado só a mão, aí deu um jeito da mão dele ficar presa no volante e chegou dizendo que quem iria correr seria ele. Aí fiquei só olhando”, falou.
 
O brasileiro falou ao GP que Moore, apesar das limitações, parecia mesmo em condições de correr e que, até o momento do acidente, parecia rápido e com todos os movimentos certos no carro. No entanto, para Moreno, aquilo tudo era um sinal para que o canadense não corresse.
 
“Ele estava com uma mão que não podia usar, mas estava bem. Teve aquele acidente nos boxes, mas era mesmo a mão que estava doendo. Como ele tomou a anestesia na mão, tirou a dor, resolveu correr. Mas eu acho que o acidente fatal não teve nada a ver com a mão doendo. Estava dormente, mas ele estava andando bem mesmo assim”, explicou.
 
“Sou um cara que acredita em coisas que acontecem por alguma razão mesmo sem nós sabermos qual é. Na minha vida, muitas coisas aconteceram de forma que eu não imaginava e que só fui ver que eram positivas lá na frente. Eu acredito muito nisso, acho que ele quebrou a mão e já não era para ter corrido, acho que aquilo era um aviso”, comentou.
Fontana, 1999 (Foto: Reprodução/Youtube)
Largando de último por não ter classificado, Moore tentou uma corrida de recuperação e forçou bastante o ritmo no início. Na volta 9, o acidente fatal: perdeu o controle na saída da curva 2, e saiu rodando pelo gramado da parte interna, até encontrar um dos caminhões de apoio. O carro da Forsythe começou a capotar até encontrar o muro de proteção e o impacto brutal aconteceu com o topo do carro — a cabeça de Moore — indo direto na proteção.
 
Minutos depois, Greg morreu, já fora da pista, sendo levado ao hospital. A corrida ainda estava em andamento e seguiu até o final, mas a melancolia tomou conta. Bandeiras a meio pau e comemorações extremamente tímidas de Fernández, o vitorioso, e Montoya, o campeão.
 
Aquilo marcou bastante Moreno, que, dois anos mais tarde, tratou de homenagear Greg. Por mais que não o conhecesse tão bem, era quem estava pronto para substitui-lo na corrida fatal. Em 2001, quando venceu o GP de Vancouver, em terras canadenses, deu o macacão para o leilão organizado pelo pai de Moore.
 
“Conhecia bem pouco ele, era bem mais jovem do que eu, de uma outra turma. Mas era um excelente piloto, um piloto de oval que sempre andava no limite do carro. Quando eu ganhei minha corrida em Vancouver (2001), ofereci o macacão da vitória para o pai dele, doei para o leilão que estava fazendo. Aí, o Jimmy Vasser, que era meu companheiro na época, comprou o macacão no leilão e me deu de volta”, contou Pupo, que ainda fez as temporadas de 2000, 2001 e 2003 na CART com vitórias em Vancouver e Cleveland.
Greg Moore (Foto: LAT)

Na Penske, a vaga que seria de Moore foi ocupada por outro brasileiro, Helio Castroneves, que virou lenda ao vencer três vezes as 500 Milhas de Indianápolis, ainda corre pela equipe na Indy 500 até os dias de hoje e é membro do programa da Penske no IMSA SportsCar.
 

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