Opinião GP: vitória na Indy 500 era estrela que faltava na carreira de Kanaan e consolida reação da KV

Tony Kanaan já era campeão da Indy, mas não era completamente feliz com isso: ele queria vencer em Indianápolis. Conseguiu, de maneira incrível, neste domingo, se firmou entre os grandes do automobilismo norte-americano e mostrou o valor que tem para uma equipe como a KV

HÁ TRÊS SEMANAS, após a São Paulo Indy 300, o GRANDE PRÊMIO trouxe, em seu especial semanal, uma matéria sobre a nova KV que surgiu na temporada 2013 da Indy. Reorganizada e mesclando a experiência de Tony Kanaan com a juventude de Simona de Silvestro, a equipe de Jimmy Vasser e Kevin Kalkhoven tentava reencontrar o caminho das vitórias. Passou perto aqui no Brasil, mas cometeu um erro bobo que custou a possível vitória de Kanaan. Porém, recuperou-se do deslize primário da melhor maneira possível.

No último domingo (26), Kanaan e a KV encantaram o mundo do automobilismo com a histórica conquista da Indy 500. A relação do brasileiro com Indianápolis sempre foi de um garoto que tenta conquistar uma garota, arranca alguns sorrisos, só que, na hora de pegar de jeito, algo aparece para atrapalhar. Ele liderou a prova nas sete primeiras vezes que a disputou, terminou corridas em quinto, quarto, terceiro, segundo, bateu enquanto liderava… aconteceu de tudo. Mas Kanaan sempre ressaltou o quão obcecado é pela vitória na Indy 500.

Kanaan também sempre se mostrou determinado em levar a KV ao topo. O time conquistou algumas vitórias nos tempos da Champ Car, sendo que ganhou, com Will Power, a última prova da finada categoria, em Long Beach, em 2008 — já no ano da fusão com a IRL. A parceria entre o experiente piloto e a equipe, que precisava de um líder, começou em 2011. Num primeiro momento, não rendeu vitórias, mas o top-5 no campeonato foi um indício muito bom.
O momento histórico: Kanaan cruza linha de chegada e triunfa na maior corrida do automobilismo mundial (Foto: Carsten Horst)

Aí veio 2012 e o ano perdido. Rubens Barrichello e Ernesto Viso fecharam acordos de última hora para correrem pelo time, que precisou correr atrás de mecânicos e engenheiros semanas antes da primeira corrida. A preparação e a adaptação aos novos carros ficou comprometida e nem mesmo Kanaan conseguiu repetir os bons resultados do campeonato anterior. Desde que passou a competir em tempo integral na Indy, em 2003, o nono lugar do ano passado foi sua pior classificação.

Sabendo que não poderia repetir os erros, a KV se reforçou com a suíça Simona de Silvestro e fechou o pacote com o qual disputa o atual campeonato seis meses antes da abertura, em São Petersburgo. A melhora foi imediata e visível. Erros continuaram acontecendo, como o já mencionado equívoco do Anhembi, entretanto, em Indianápolis, não há uma vírgula sequer a ser alterada. No primeiro oval do ano, onde Kanaan e a KV conquistaram seus melhores resultados desde 2011, o time achou o caminho das vitórias para coroar um trabalho que pode ser definido com uma palavra: perfeição.

Também ficou evidente não só a competência de Kanaan, mas o reconhecimento do público norte-americano perante sua história na categoria. Goste ou não dos Estados Unidos, do povo e das crenças sócio-político-econômicas de lá, você, caro leitor, precisa admitir que cultura esportiva eles possuem. Aplaudiram e comemoraram demais a vitória do brasileiro, tanto quanto nós, os compatriotas. Ao longo dessa carreira de mais de 260 corridas, sendo 201 consecutivas, Tony atraiu uma legião de seguidores na terra do Tio Sam, que torce demais por ele. Chefe da KV, Jimmy Vasser destacou a animação dos espectadores, que continuaram nas arquibancadas para acompanhar toda a festa até bem depois do fim da prova.

“O cara esperou 12 anos por isso, a vida toda da carreira pensando nisso, abrindo mão de títulos se fosse possível só por isso. E parecia, sim, que seria aqueles casos de perseguição a algo que nunca lhe seria tangível, como se a sina de fazer parte do currículo”, falou Victor Martins, editor-executivo do GRANDE PRÊMIO.

“Menino batalhador, que merece”, afirmou Flavio Gomes, diretor-geral da AGÊNCIA WARM UP e do GRANDE PRÊMIO. “Junta-se a Emerson, Gil e Helinho no time dos brasileiros que já ganharam as 500. E por equipe pequena, a KV, o que faz da vitória algo que esbarra no milagre. Palmas para ele, que ele merece”, elogiou o jornalista.
Vitória de Kanaan também é consagração da batalhadora KV (Foto: Carsten Horst)

Martins ainda completou falando de como Kanaan, ao longo da prova, foi crescendo e passando a ficar mais bem cotado nas apostas. “Bastaram as primeiras voltas para notar que o carro estava no chão, andando na mesma toada das grandes, e pilotando fino”, comentou. “Ninguém merecia mais no mundo que Kanaan ganhar as 500 Milhas de Indianápolis, e sua ‘cara feia’ vai ser estampada no troféu. O mundo todo venceu, sorri e chora junto”, adicionou.

Mas é uma pena que, toda a festa já mencionada anteriormente, tão celebrada pelos norte-americanos, não pôde ser vista pelos brasileiros que assistiam à corrida pela TV Bandeirantes. A corrida acabou minutos antes das 16h e Ponte Preta e São Paulo estavam posicionados no gramado para a primeira rodada do Campeonato Brasileiro. Um jogo de pouca importância diante do significado do que estava acontecendo no estado de Indiana.

“Para a TV e sua audiência, um tanto quanto excelente que Kanaan tenha vencido a corrida”, analisou Martins. “E já que o brasileiro era, de fato, o centro do mundo, como é que uma emissora toma a decisão de cortar a transmissão na comemoração de um cara que lutou por essa vitória, que é parceiro da emissora para o que der e vier, para passar um jogo absolutamente sem nenhuma validade?”, questionou.

“Quer dizer, a Bandeirantes incita que todo mundo torça, e quando a torcida está lá, pronta para comemorar junto com seu pária, alguém simplesmente decide que as imagens não valem — para a qual deslocou um montão de gentes a trabalho —, as de Campinas são melhores. É uma incongruência tamanha que não se mede. Falta de senso, de esperteza e de inteligência de um grupo de comunicação que um dia se gabou de ser o canal do esporte”, completou.
Quem assistiu a Indy 500 pela TV aberta quase não viu a comemoração de Kanaan. Bola fora da TV Bandeirantes (Foto: Carsten Horst)

Semana que vem, acontece a rodada dupla de Detroit e, na seguinte, começa uma sequência de ovais, passando por Texas, Milwaukee e Iowa. Kanaan e a KV terão de manter os pés no chão e, por ora, não esperem por um conjunto que vai lutar por títulos. Mas, sim, dá para pensar em novas vitórias, especialmente nos ovais.

Finalmente, vale lembrar que o carro de #11 ainda não tem patrocinadores para toda a temporada. A Hydroxycut, marca de suplementos, fechou para patrocinar a KV em nove corridas, e a Itaipava apoiou o conjunto na etapa brasileira. Só que o campeonato tem 19 corridas. Se for o caso, Kevin Kalkhoven, um empresário que está em ótima condição financeira, continuará bancando a operação, mas é claro que a vitória em Indianápolis deve mudar um pouco a situação econômica do time.

Brilho prateado, desastre vermelho e a nova polêmica da F1

Diante da épica vitória de Kanaan em Indianápolis ontem à tarde, o GP de Mônaco de F1 acabou sendo um fato secundário. Uma corrida interessante, típica de Mônaco, com uma primeira metade modorrenta e a segunda, bem mais agitada, graças sobretudo aos acidentes que mudaram a dinâmica do jogo. Quem não mudou foi o líder. Dominante do início ao fim de semana, Nico Rosberg deixou o Principado invicto: comandou todos os treinos livres, garantiu a pole-position e venceu em Monte Carlo sem jamais ter sido ameaçado por Sebastian Vettel, o segundo colocado, jogando para escanteio o questionável ritmo de corrida do belo Mercedes W04 e o consumo dos pneus, que desta vez não influenciou tanto quanto em outras etapas do Mundial.

Felipe Massa teve uma jornada inglória em sua segunda corrida em casa. Estranhamente, bateu no sábado e domingo da mesma forma. Ontem, a Ferrari veio a público e disse que o acidente no GP de Mônaco foi causado por um problema na F138. Felipe escapou ileso, mas teve um fim de semana para ser esquecido. ‘Carreras son carreras’, diria Juan Manuel Fangio, e o brasileiro terá no Canadá sua chance para reagir, assim como o companheiro Fernando Alonso, outro que, depois de ter brilhado em Barcelona, decepcionou em Monte Carlo.
Em Mônaco com Rosberg, finalmente a Mercedes comemorou uma vitória em 2013 (Foto: Getty Images)

Com essa onda de azares, a Red Bull e Sebastian Vettel, mesmo com toda a choradeira em torno dos pneus Pirelli, são mais líderes do que nunca. O que parece é que neste ano a sorte de campeão está ao lado de Seb, que mesmo quando não tem condições de vencer, vai somando pontos importantes para igualar a marca do ‘Professor’ Alain Prost e virar tetra da F1. Vettel vem sendo cerebral, uma das grandes marcas do francês.

E por falar em Pirelli, a grande polêmica do fim de semana — talvez, de todo o ano — na F1 foi a descoberta do teste secreto feito pela Mercedes em parceria com a Pirelli após o GP da Espanha. Gomes é preciso ao levantar um ponto curioso. “O que soa engraçado nessa história é falar em teste secreto. Como se faz um teste secreto com um carro de F1? Ninguém vê? Ninguém escuta? O circuito de Montmeló fica à beira de uma estrada. Alguém realmente acha que seria possível ninguém perceber um carro de F1 rodando por três dias num autódromo à beira de uma autoestrada?”, indagou.

“Ainda mais com a imprensa espanhola, que tem jornais esportivos na Catalunha, com sede em Barcelona… Não, nada dessa história me surpreende tanto quanto o fato de que ninguém notou que havia um carro de F1 rodando em Barcelona. O resto, pelo que entendi, está dentro dos conformes”, opinou. Fato é que este é um assunto que dará muito pano para manga nos próximos dias, já que a Mercedes poderá ter de se explicar perante o Tribunal da FIA.



Opinião GP é o editorial semanal do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.

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