Retrospectiva 2024: Thermal, Charters, Híbridos e Fox: os anúncios que agitaram a Indy

Ano de 2024 foi repleto de anúncios com impacto para o futuro da Indy, o que fez temporada ser uma espécie de laboratório para próximos campeonatos da categoria

É bem verdade que a temporada 2024 da Indy viveu uma batalha maior pelo título e de disputas mais acirradas em pista. Depois de 2023 ter sido amplamente dominado por Álex Palou, o espanhol ainda foi campeão novamente, mas precisou suar mais, especialmente em um ano com tantos vencedores diferentes. Apesar de um ótimo produto em pista, o ano também foi um grande balão de ensaio para o futuro, que enfileirou anúncios que revelaram uma pré-disposição da Indy em voltar a crescer. Embora nem tudo tenha saído como a série de Roger Penske queria — diversas decisões foram controversas e altamente criticadas —, o campeonato teve lá suas bombas, seus acertos e mudanças que não devem demorar a surtir efeito.

Dentro desse cenário, uma das novidades de 2024 foi o Desafio do US$ 1 Milhão, no Thermal Club. A prova com alta premiação e que não valia pontos para a temporada foi uma iniciativa para cobrir o hiato de praticamente um mês que se formou entre as etapas de St. Pete, que abriu o campeonato, e a corrida no Texas. No entanto, os planos tiveram de mudar, porque a Indy acabou por perder a prova no oval do Texas para a Nascar, que foi lá e comprou a data antes pré-agendada para a competição de monopostos.

Para piorar, esportivamente, o evento no Thermal Club foi um fracasso — exceto pelos cofres cheios pelos poucos endinheirados que acompanharam uma pré-temporada praticamente de luxo, com treinos livres extensos, com mais de 2h de duração e um formato maluco de prova para definir o vencedor — Palou, levou a bolada de US$ 500 mil [mais de R$ 3 milhões na cotação atual] para casa. Por outro lado, o evento ganhou a desaprovação do público.

O Thermal Club: um fracasso (Foto: Indycar)

Mas a enfadonha jornada na Califórnia não desanimou a chefia da Indy. Para 2025, a categoria anunciou que o Thermal Club segue no calendário, mas será uma etapa regular, sem invenção.

Ainda falando sobre as mudanças, os motores híbridos se tornaram realidade em 2024 — fruto de uma promessa antiga. O ingresso não foi ideal e também coberto por polêmica. Antes de começar o campeonato, a categoria anunciou que os componentes elétricos passariam a integrar a disputa ainda em andamento. Às vésperas das 500 Milhas de Indianápolis, foi confirmado que o GP de Mid-Ohio havia sido escolhido para a estreia.

O conceito é similar ao que tem no automobilismo em geral: uma bateria para armazenar energia e potência despejada no motor ao acionar o sistema. O que muda um pouco é que o deposito é preenchido rapidamente, assim como a energia extra é gasta na mesma proporção. De imediato, um golpe duro: uma falha no sistema fez Scott Dixon abandonar ainda na primeira volta de aquecimento em Mid-Ohio. As cornetas soaram, inclusive por Chip Ganassi.

Foi o prenúncio do que vinha a seguir. A classificação da rodada dupla de Iowa enfileirou carros com problemas.. Não houve como acionar o sistema durante as voltas rápidas. Palou sofreu com isso no último giro das corridas em Milwaukee.

Scott Dixon teve problemas com motor híbrido em Mid-Ohio (Foto: Indycar)

As críticas se espalharam entre alguns chefes de equipe. Ed Carpenter foi o maior crítico. Disse que o dispositivo deixou tudo mais caro e piorou o nível das corridas. Ricardo Juncos, ao GRANDE PRÊMIO, explicou que não é somente o preço da peça, mas o aumento do peso fez os danos crescerem consideravelmente após uma batida. Ainda assim, a Indy vai continuar com a tecnologia para o futuro e a expectativa é que o desenvolvimento permita maior eficiência energética e um aumento na potência extra nos próximos anos.

Além dos motores, houve um outro assunto que também povou as manchetes e demorou a chegar a um entendimento. É que a Indy também anunciou neste ano uma novidade para 2025, que é o sistema de charters. Basicamente, vai funcionar da seguinte forma: todos os carros contemplados terão lugar no grid das etapas da categoria, exceto a Indy 500, que seguirá classificando os 33 melhores, independentemente de charters ou não. Serão somente estes carros que poderão participar da premiação ao final do ano. 

Andretti, GanassiRLLMcLaren e Penske terão três franquias, enquanto FoytDale CoyneCarpenterJuncos e Meyer Shank terão duas, em contrato válido até 2031.

Fora esses 25 carros, outros dois poderão alinhar nas corridas. Essas duas vagas serão disputadas pelos demais inscritos, que, hoje, é a Prema, que confirmou participação na temporada completa de 2025. Não há nada que impeça outras equipes coloquem um carro extra para competir por esses lugares, mas as premiações também estarão restritas aos participantes dos charters.

A medida foi vista com desconfiança, afinal, a Indy vai limitar o grid em no máximo 27 — afastará possíveis interessados em ingressar na categoria também —, mas criou um valor agregado à vaga na categoria. Quem quiser entrar, terá de comprar um lugar. Por esse viés, os chefes de equipes aprovaram a iniciativa. Até esse momento, nenhum dos charters atribuídos foram negociados, apenas a Carpenter aproveitou para trazer um novo sócio ao negócio.

Indy formalizou sistema de charters neste ano (Foto: IndyCar)

Mais nem tudo é polêmica com a administração da Penske Entertainment. A notícia de que a Fox assumiu os direitos de transmissão para os Estados Unidos — que é a responsável por enviar o sinal para todos os demais países — agradou até mesmo Zak Brown, CEO da McLaren e um dos críticos da gestão de Mark Miles, comandante da categoria.

Evidentemente, mais dinheiro vai entrar nos cofres da categoria sediada em Indianápolis, mas o acordo prevê muito mais coisas do que a NBC, antiga detentora, fazia. “Existem alguns elementos-chave da nossa estratégia que estão progredindo. Acho que ter a Fox e o alcance dela nos Estados Unidos são fundamentais para nossa novos planos. Soube agora de alguns processos. Eles estão pensando sobre mercado e promoção da categoria. Ideias fora de série, coisas além do alcance natural. Será uma extensão daquilo que uma emissora aberta é capaz, que vai a tantos lares. As ambições são de ajudar a desenvolver a Indy, coisas fenomenais. Isso é fundamental”, declarou Miles, CEO da Indy, em entrevista coletiva no último mês de novembro.

Na ocasião, o executivo falou em “deixar o antigo molde” e citou “nova estratégia”. Ao que parece, a direção tem mudado o rumo. Depois de encerrar o campeonato de 2024, a Indy ainda apresentou duas grandes conquistas. A primeira delas foi o GP de Arlington, que não só marca o retorno do campeonato ao importante mercado texano, como é uma parceria com duas das maiores franquias do esporte norte-americano: Dallas Cowboys, time de futebol americano da NFL, e o Texas Rangers, equipe de beisebol da MLB.

segunda foi a aquisição do GP de Long Beach por parte da Penske Entertainment, o que garante a presença da Indy no sul da Califórnia, onde está Los Angeles. Não somente isso, mas afasta a Nascar, que tentou comprar o espólio de Kevin Kalkhoven, morto em 2022, e que era sócio de Gerald Forsythe como dono do evento. Roger Penske, agora, arrematou as duas partes. De acordo com Jenna Fryer, da Associated Press, o movimento também freou possíveis tentativas da Fórmula 1 de tomar aquele que é o principal evento da Indy, sem contar as 500 Milhas de Indianápolis.

GP de Arlington é novidade da Indy (Foto: Indycar)

E deve vir mais por aí. Na coletiva em que explicou a compra do GP de Long Beach, que completa 50 edições em 2025, Miles revelou que um outro evento nesses molde, com projeção para ser bombástico, virá no futuro. A promessa é que também haja investimentos “oportunistas” para dar maior visibilidade às corridas do atual calendário.

Por fim, a Indy não fez um anúncio de fato, mas admitiu que trabalha em um novo carro. Nesse ponto, a polêmica se avizinha. A categoria pretende onerar o menos possível as equipes, com um chassi que represente a continuidade do atual, que está em vigência desde 2012. Com isso, muitas peças atuais poderiam ser reaproveitadas. No entanto, boa parte desses chefes querem ares futuristas, algo que sirva para atrair um público novo e jovem — e a Indy não está sozinha nisso.

Agora, a categoria americana testa as novidades e tenta retormar o protagonismo.

Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
LEIA TAMBÉM: Retrospectiva 2024: Palou mantém grande momento e confirma tri na Indy

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Indy direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.