Na Garagem: Ribeiro brilha e vence primeira corrida da Indy no oval de Jacarepaguá

André Ribeiro venceu a Rio 400 de 1996 com grande atuação e cheia de fatores emocionais, entre eles o primeiro triunfo brasileiro em casa desde a morte de Ayrton Senna

A temporada de 1996 da Indy foi marcada pela ruptura entre CART e IRL, fato que prejudicou e enfraqueceu muito a categoria na década seguinte até a fusão, em 2008. No entanto, foi também de uma histórica vitória brasileira: a de André Ribeiro, em casa, na Rio 400.

Com a modesta Tasman, o paulista fez história na primeira edição da corrida disputada em um circuito que mesclava oval e misto em Jacarepaguá, um conceito bastante diferente dos encontrados no restante do calendário da categoria. Em uma época em que a Indy borbulhava no Brasil e explodia com recorde de audiência no SBT, Ribeiro alcançou a grande glória da carreira em um 17 de março.

“Foi disparado o melhor momento da minha carreira. Lembro que três dias depois da corrida eu seguia sem dormir. Fui ao Programa do Jô, em vários outros programas da época e a excitação era tão grande que eu só consegui voltar a dormir quando fui para os Estados Unidos. A comemoração de todos, a repercussão que deu, eu imagino que nem com um americano vencendo as 500 Milhas de Indianápolis aconteça algo parecido com aquilo da Rio 400”, disse Ribeiro em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO.

André Ribeiro foi o primeiro brasileiro a vencer em casa após a morte de Ayrton Senna (Foto: Divulgação)

André havia sido vice-campeão da Indy Lights em 1994 e fez a estreia na Indy em 1995, com a própria Tasman, chegando a vencer em New Hampshire, mas nada que se compare ao tamanho do triunfo diante dos compatriotas.

A corrida em si não foi espetacular. Largando em terceiro, Ribeiro começou a prova atrás de Alex Zanardi e Greg Moore e teve de ter paciência. Logo na volta 11, Mark Blundell quebrou o pé em um acidente fortíssimo na curva 4, parando a prova com bandeira amarela até o 23º giro.

Gil de Ferran, que também vinha bem, ficou sem combustível e acabou saindo da luta pelas primeiras colocações já na segunda metade da corrida. Moore e Ribeiro foram, então, costurando um duelo pelo primeiro lugar, quando o canadense, na volta 115, abandonou após quebrar a suspensão.

Parecia que André teria um caminho mais tranquilo para triunfar, mas o fator tradicional Indy entrou em cena. Robby Gordon bateu, chamou uma amarela e fez o pelotão se reagrupar. Foi aí que veio a pitada de drama, com Al Unser Jr. na cola do brasileiro na relargada.

“Achei que já tinha uma liderança folgada para o Al Unser e então veio a batida. Depois, surgiu a dúvida se a corrida acabaria em amarela, mas limparam a pista correndo para voltarem com a bandeira verde no final. Aquilo me causou uma ansiedade absurda. Eu guardo até hoje na minha memória a imagem do Vectra na minha frente. O safety-car era um Vectra naquela corrida e ele estava absurdamente devagar, já que queriam limpar logo a pista e deixar mais voltas em bandeira verde para o fim. Atrás de mim estava o Al Unser Jr, um supercampeão que queria me pressionar, colocou o carro do meu lado várias vezes, então meu nervosismo ia crescendo, sabia que qualquer mole que eu desse ele iria me passar. Foi o momento mais tenso”, comentou.

André Ribeiro vibra com o triunfo em Jacarepaguá (Foto: Divulgação)

Apesar dos ataques de Unser, Ribeiro segurou bem a dianteira e triunfou com pouco mais de 2s de vantagem para o rival, fazendo a festa com uma torcida que vivia um caso de amor com a categoria norte-americana e, claro, com pilotos brasileiros em destaque.

“A importância da Rio 400 foi crescendo por um somatório de coisas: a morte do Ayrton [Senna] alguns anos antes, a F1 ter perdido um símbolo daquele tamanho para o Brasil e não ter outro competindo no mesmo nível, a Indy, que tinha um número de brasileiros enorme e muitos com chances de vitória, a categoria que vinha ao Brasil em um oval. Aquilo tudo somado ao fato de um brasileiro ter vencido gerou algo que eu não me lembro de ter visto com qualquer outro esporte. Nunca tinha visto tamanha repercussão”, explicou.

Aquela, definitivamente, não foi qualquer vitória. Em um grid repleto de grandes nomes e uma pista traiçoeira com mescla de oval e circuito misto, Ribeiro se tornou, exatamente 25 anos atrás, o primeiro piloto brasileiro a vencer uma grande corrida em casa desde a morte de Ayrton Senna, que havia triunfado no GP do Brasil de F1 de 1993.

O pódio da Rio 400 de 1996 (Foto: Divulgação)

“Sempre tive uma fé muito grande e a canalizei na imagem de Nossa Senhora. Em 1996, minha mãe pediu para que eu carregasse a imagem de Nossa Senhora comigo e a corrida no Rio foi a segunda de um ano cheio de coisas muito especiais para mim. Nas 500 Milhas de Michigan, durante uma das bandeiras amarelas, prometi que, se ninguém se machucasse naquela corrida cheia de acidentes fortes, encheria meu capacete de imagens da Nossa Senhora. E assim foi. Depois, levei esse capacete lá para Aparecida e essa energia de vê-lo lá é sempre muito boa para mim, isso é uma das coisas que eu guardo com muito carinho”, contou o piloto, que teve de fazer sua parte para pagar uma promessa da mãe, Maria Teresa após o triunfo: colocar um selo de Nossa Senhora Aparecida no carro.

A prova contou com a participação de oito brasileiros, e sete deles conseguiram pontuar: Christian Fittipaldi foi quinto; Raul Boesel, sétimo; Roberto Pupo Moreno, nono; De Ferran, décimo; Emerson Fittipaldi, 11º; e Marco Greco, 12º. Maurício Gugelmin abandonou após a quebra da suspensão.

A Indy correria em Jacarepaguá em mais quatro oportunidades, até 2000. Ribeiro foi o único brasileiro a vencê-la. Os demais pilotos que chegaram ao Victory Lane foram os canadenses Paul Tracy e Greg Moore, em 1997 e 1998, o colombiano Juan Pablo Montoya, em 1999, e o mexicano Adrián Fernández, em 2000.

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