Em meio a debates sobre corte de custos, F1 adota padrão ‘fast food’ para lançamentos dos carros

Na luta pela redução de custos e por um esporte financeiramente sustentável, a F1 sente a crise e muda até mesmo o formato de apresentação dos seus carros para se adaptar aos novos tempos. Outrora eventos pomposos e nababescos, hoje os lançamentos duram, no máximo, 15 minutos, e são apresentados via internet para todos os cantos do mundo

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Os últimos dias de janeiro e o início de fevereiro foram marcados pela apresentação dos carros de dez das 11 equipes do Mundial de F1 para a temporada 2013. Com exceção da Williams, que só lançou seu FW35 nesta terça-feira (19), em Barcelona, as outras escuderias mostraram ao mundo o que vão colocar na pista no 64º mundial do mais importante certame do esporte a motor mundial.

Certame que vive em meio a discussões sobre crise econômica e pilotos pagantes. Ainda baseada na Europa, a F1 vive às voltas com debates acalorados sobre maneiras para viabilizar corte de custos e a presença, considerada nociva por muitos, de tantos pay-drivers no grid. A categoria acendeu o sinal de alerta quando, no fim do ano passado, a HRT faliu e praticamente saiu pela porta dos fundos, sem ao mesmo fazer nenhum pronunciamento oficial a respeito, deixando o grid com 11 equipes e 22 carros.

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Na visão de Cyril Abiteboul, chefe de equipe da Caterham, “a situação econômica da F1 nunca foi tão ruim”. O que é um contrassenso. Afinal, jamais a categoria esteve tão pouco presente no seu continente-base, a Europa, e cada vez mais vai ao Oriente em busca de dinheiro para se sustentar, enchendo os bolsos de Bernie Ecclestone, dirigente máximo da F1 e responsável pelos direitos comerciais do esporte.

Em crise, F1 busca se manter com os petrodólares do Oriente Médio, mas situação segue difícil para equipes (Foto: Force India)

Em 2013 serão oito os GPs na Ásia — Malásia, China, Bahrein, Cingapura, Coreia do Sul, Japão, Índia e Abu Dhabi —, contra apenas sete no Velho Mundo.

Bernie, pelo menos publicamente, se recusa a colocar a F1 como um esporte em crise, preferindo destacar a capacidade de expansão da categoria, que corre em quatro dos cinco continentes. Mas a crise está aí, visível, é impossível que ela seja ignorada. As próprias equipes entenderam a atual conjuntura que o mundo atravessa. E um desses exemplos mais latentes está na apresentação dos carros para a temporada.

De eventos caros, concorridíssimos e com a participação de jornalistas de todo o mundo, hoje os lançamentos viraram algo meramente protocolar. As grandes equipes do grid, como McLaren, Benetton — depois Renault — e Williams, quando tinha parceria com a BMW, não poupavam dinheiro e realizavam festas nababescas e luxuosas. Até mesmo times intermediários, como Jaguar e a Sauber, que sempre foi tão austera quando o assunto é dinheiro, gastavam e convidava profissionais de imprensa de todo mundo para estarem em suas sedes para eventos faraônicos.

Desde o início da década, no entanto, a realidade é outra, bem diferente. Saíram de cena as festas suntuosas, e agora os lançamentos se tornaram muito mais práticos e sucintos, indo direto ao ponto que importa. Os eventos, que duravam até dias, hoje se resumem a parcos minutos e se destinam unicamente à exibição dos carros e declarações de pilotos e dirigentes, dizendo que ‘esperam um ano melhor’, que ‘finalmente têm um carro vencedor, uma evolução do ano passado’, essas falas óbvias que já se tornaram triviais e viraram tudo um pouco mais do mesmo.

Em tempos de crise, o Wrooom é o único grande evento midiático da pré-temporada da F1 (Foto: Ferrari/ Studio Colombo)

O único evento que pode ser considerado uma exceção à regra nos dias de hoje é o Wrooom, realizado sempre em janeiro pela Phillip Morris, dona da Marlboro, patrocinadora da Ferrari e da Ducati — ainda que de maneira oculta e subliminar —, na estação italiana de esqui em Madonna di Campiglio.

O que não é mais do mesmo é a maneira como boa parte das equipes faz o lançamento dos seus carros atualmente. Com um custo relativamente baixo, os principais times do grid usaram a internet para exibir ao mundo os bólidos com os quais vão disputar o Mundial de 2013. Lotus, McLaren, Force India, Ferrari, Sauber, Red Bull e Mercedes exibiram imagens ao vivo das suas respectivas apresentações. Toro Rosso, Caterham, Marussia foram mais discretas e ficaram restritas a fotografias e declarações pasteurizadas.

Diante de uma nova era digital, entra em cena a praticidade e a velocidade da informação. Larga na pole-position quem consegue divulgar seus carros de uma maneira fácil e em uma plataforma agradável, tanto para jornalistas como para fãs da F1. E aí algumas equipes conseguiram captar a melhor maneira de usar a internet e as redes sociais para divulgar seu material.

Neste quesito, Lotus, McLaren, Sauber e Ferrari saíram na frente. As três primeiras fizeram uso dos seus respectivos canais no YouTube e mostraram, em cerimônias bem simples e com duração de menos de 15 minutos, seus carros para 2013. Nova rainha do marketing na F1, a Lotus inovou com seu #ImSexyAndIKnowIt para lançar o belo aurinegro E21. Já a Ferrari fez uso de um servidor próprio para divulgar as imagens da apresentação da F138 em Maranello e, salvo breves problemas de conexão, teve êxito em sua missão.

Nova rainha do marketing na F1, Lotus inova com seu "sou sexy e sei disso" no belo E21 (Foto: Lotus F1/Facebook)

Já a Force India não teve a habilidade das suas adversárias e fracassou ao exibir com rapidez as imagens do novo VJM06 na internet. Outrora dama do marketing na F1, a Red Bull também mostrou o lançamento do RB9 via YouTube, mas enfrentou atrasos na transmissão do seu evento, e pior: para evitar a propagação de imagens do seu novo modelo, agora com detalhes em roxo, proibiu que jornalistas tirassem fotos do evento. Algo inimaginável nos dias de hoje, ainda mais levando em conta o patamar que atingiu a Red Bull, atual tricampeã do mundo.

Mas nenhum lançamento chamou mais a atenção que o da Mercedes. Não pelo design do novo W04 ou pela chegada de Lewis Hamilton à equipe. No dia 2 de fevereiro, dois dias antes da apresentação da Flecha de Prata para 2013, a escuderia alemã inovou ao conclamar seus seguidores no Twitter e fãs da F1 em geral ao tuitar a hashtag #F1W04Reveal. Quanto mais tuitadas, mais a porta da garagem virtual se abriria, tendo como desfecho a revelação do novo modelo.

Contudo, talvez por não terem a dimensão do poder das redes sociais, os comandados de Ross Brawn e Toto Wolff tiveram a campanha interrompida por uma falha no servidor, frustrando milhões de fãs. No fim das contas, o lançamento acabou ficando mesmo para segunda-feira, mas sem mistério, já que o W04 foi à pista antes mesmo da apresentação oficial, com Nico Rosberg completando algumas voltas em Jerez, sendo devidamente filmado por Hamilton e seu BlackBerry, que agora é parceiro oficial do time de Stuttgart.

Vergne e Ricciardo revelam as linhas do STR8, o carro de 2013 (Foto: Toro Rosso/Getty Images)

As nanicas, além da Toro Rosso, preferiram a discrição e uma apresentação mais simples, feita no paddock de Jerez de la Frontera, sem pompa ou gastos desnecessários. A mesma postura foi adotada pela Williams nesta terça-feira. Última a mostrar seu carro para 2013, a mítica e campeoníssima equipe de Grove já não vive seus dias de glória e precisa dos petrodólares da PDVSA para continuar na F1. Com o orçamento apertado, Frank Williams, conhecido por ser um pão duro contumaz, não ia gastar rios de dinheiro para mostrar o novo FW35 de Pastor Maldonado e Valtteri Bottas.

Ferrari mostra evolução com F138 em semana com poucas surpresas em Jerez

Curioso é que o ‘desempenho’ apresentado pelas equipes na apresentação dos seus carros foi mais ou menos similar ao que esses novos bólidos fizeram na pista durante a primeira bateria da pré-temporada. A ‘sexy’ Lotus andou muito bem nos quatro dias de testes e se manteve entre as primeiras tanto com Romain Grosjean quanto com Kimi Räikkönen. O mesmo se pode dizer da McLaren de Jenson Button — que fez um tempo espetacular usando pneus duros — e do novo contratado Sergio Pérez. A Ferrari indicou ter um bom carro e exibiu grande performance com Felipe Massa, dono do melhor tempo em Jerez, mas desafinou com o azarado Pedro de la Rosa no último dia de teste, quando o câmbio da nova e bela F138 deu zica e deixou o veterano pelo caminho.

Já a Mercedes foi a equipe mais zicada do começo da pré-temporada e não conseguiu andar mais do que 26 voltas em dois dias de treinos, deixando frustrado Lewis Hamilton, contratado a peso de ouro pelo time de Brackley, e Nico Rosberg. Mas depois da tempestade, as Flechas de Prata finalmente conseguiram evidenciar alguma constância, e seus dois pilotos completaram altas quilometragens nos dias finais no circuito andaluz. A Red Bull, que decepcionou na apresentação do RB9, só manteve as bases do projeto vencedor de 2012 e, mesmo sem ter impressionado com bons tempos de volta, indicou ter um carro sólido e capaz de lutar por um épico tetracampeonato mundial de F1.

Agora com Hamilton, a Mercedes começou mal em Jerez, mas depois se recuperou (Foto: Getty Images)

Dentre as equipes do meio do grid, tudo parece bastante equilibrado. A Toro Rosso, que tem o competente engenheiro James Key como capitão do projeto do novo STR7, parece ter um carro bem-nascido, assim como a Sauber, que manteve as bases do ótimo C31 na construção do seu sucessor. A Force India teve um desempenho bastante razoável, mas ainda vive sob a sombra da indefinição por ainda não ter anunciado seu segundo piloto, e isso pode cobrar um alto preço no futuro. E quanto à Williams, impossível saber o potencial do FW35, uma vez que o modelo só vai à pista pela primeira vez nesta terça-feira pelas mãos de Maldonado.

Sobre Caterham e Marussia, não dá para esperar muita coisa diferente dos últimos anos. A julgar pelos tempos de volta obtidos pelas equipes de orçamento mais limitado da F1, não há ainda a menor possibilidade de lugar por um lugar no pelotão intermediário. Assim, fica a expectativa pelos duelos internos dentro das equipes, que terão pilotos com pouca — ou nenhuma — experiência em corrida na F1: Charles Pic, com um ano de bagagem, correrá ao lado de Giedo van der Garde na equipe anglo-malaia, enquanto Max Chilton disputará com o brasileiro Luiz Razia a primazia dentro da Marussia. E, com um pouco de sorte, o time tricolor de Bunbury poderá desbancar os rivais na luta para não ficar na sempre incômoda última posição.

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