Aleix Espargaró cita risco e pede regra para barrar estreantes direto em fim de semana de GP

Aleix Espargaró considerou que é arriscado ter um estreante guiando na MotoGP direto em um fim de semana de corrida. Catalão cobrou criação de regra que obrigue pilotos a testarem o protótipo de 1000cc antes de debutar na classe rainha do Mundial de Motovelocidade

Aleix Espargaró defendeu uma mudança no regulamento para impedir que pilotos inexperientes debutem na MotoGP direto em um fim de semana de corrida. O catalão avaliou que é importante ter um teste prévio, especialmente por conta das particularidades do equipamento.
 
O tema está em alta desde a opção da Avintia em promover a estreia de Christophe Ponsson em Misano na vaga do lesionado Tito Rabat. O francês de 22 anos ainda disputa o campeonato espanhol e sequer tinha participado de etapas das classes menores do Mundial de Motovelocidade.
 
O piloto da Aprilia defendeu a obrigatoriedade de um teste prévio e traçou um paralelo com a F1, reconhecendo que, apesar de sua já longa experiência em duas rodas, ele tampouco poderia atuar como piloto substituto na Ferrari, por exemplo.
Aleix Espargaró quer regra que barre estreantes direto em fins de semana em corrida (Foto: Michelin)
“Tem de existir um teste prévio e, obviamente, um piloto que está correndo no CEV não pode entrar na MotoGP”, disse Aleix. “Eu lamento, mas adoraria que a Ferrari me oferecesse para fazer a próxima corrida da F1, mas não dá! É a mesma coisa. Eu tenho meu próprio kart de 125cc e corro de kart, mas é impossível que eu corra [na F1]. Tem de ser o mesmo para a MotoGP”, ponderou.
 
Na F1, aliás, o piloto precisa de uma superlicença para poder entrar na pista. No fim do ano passado, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) endureceu os critérios para obtenção deste documento.
 
“A superlicença parece muito legal, mas algo nessa linha. Eu não sei, é trabalho [dos organizadores] encontrar um jeito para que o piloto que esteja chegando esteja em um bom nível”, frisou.
 
O regulamento da MotoGP, no entanto, determina apenas que um piloto precisa rodar dentro do limite de 107% do melhor tempo em ao menos um dos quatro treino livres para poder se classificar para o GP.
 
“Para participar do treino classificatório, um piloto deve atingir um tempo de volta a, pelo menos, 107% do tempo registrado pelo melhor piloto na mesma sessão, em qualquer uma das quatro sessões de treinos livres (TL1, TL2, TL3 e TL4)”, diz o regulamento.
 
Escalado pela Avintia para o GP de Misano, Ponsson ficou dentro da margem de 107% no TL2 e no TL4 e, assim, pôde participar da classificação, mesmo que tenha rodado 5s6 mais lento que Marc Márquez, o dono da pole em San Marino. Na corrida, Christophe ficou o tempo todo em último e terminou uma volta atrás de Andrea Dovizioso, o vencedor.
 
Para este fim de semana, porém, Ponsson foi substituído por Jordi Torres, que tampouco tem experiência na MotoGP, mas corre pela MV Agusta no Mundial de Superbike. 
 
O francês, no entanto, não engoliu a substituição e acusou Cal Crutchlow e Jack Miller de liderarem um movimento de pilotos para barrar sua participação nas provas seguintes. O que foi negado pelos dois, aliás.
 
Hoje piloto da Aprilia, Aleix também teve sua primeira chance na MotoGP, em 2009, como substituto na Pramac, mas, naquela época, já acumulava 67 GPs entre 125cc e 250cc. Ainda assim, o irmão de Pol acredita que o risco maior é enfrentado nos primeiros treinos, quando o piloto estreante ainda precisa conhecer a moto ― Ponsson, por exemplo, foi 7s4 mais lento que o líder no TL1.
 
“Eu me senti muito mal por ele quando o encontrei na pista durante o TL1, mas, na verdade, não era seguro. Essa é a realidade. Pois a diferença de velocidade no meio da curva… na primeira meia hora, ele foi 8s mais lento”, apontou. “Eu tentei ser legal, porque eu me senti mal por ele, pois não é realmente culpa dele. O problema é o regulamento. E, devo dizer, ele melhorou muito durante o fim de semana”, reconheceu.
 
Aleix, no entanto, acredita que não seria um problema ter Ponsson no grid de Aragão, uma vez que agora o piloto de 22 anos já tem experiência com os freios de carbono, os pneus Michelin e o protótipo de 1000cc.
 
“O problema não era Ponsson correr aqui em Aragão. O problema é que ele não tinha de correr em Misano”, afirmou. “Na verdade, foi muito mais perigoso que ele estivesse em Misano do que se estivesse aqui agora, porque agora ele estaria muito mais preparado”, ponderou.
 
“Mas muitos pilotos pressionaram bastante [pela substituição de Ponsson na Comissão de Segurança]. Também consigo entender esses pilotos. Mas o problema é o regulamento. É culpa da Dorna e da IRTA [a Associação Internacional das Equipes de Corrida], não de Ponsson”, frisou.
 
Ainda, Aleix reconheceu que ele próprio não estava pronto para correr na MotoGP quando fez sua estreia em 2009.
 
“Eu me lembro, eu testei a moto da MotoGP pela primeira vez em um fim de semana de corrida em Indianápolis”, recordou. “Eu tinha 17 ou 18 anos. Eu não estava pronto. Eu estava em casa, não correndo, e me lembro de chegar em Indianápolis e de quase voar para a arquibancada na primeira vez que toquei o freio, porque os freios de carbono são diferentes, tudo é diferente”, contou.
 
“Aí eu fiz uma boa corrida, fiquei muito perto do top-10 [13º], mas acho que foi um erro que pudesse correr lá, contra os melhores pilotos do mundo, nas melhores motos do mundo”, comentou. “Deveria ser impossível que alguém pudesse testar uma moto da MotoGP pela primeira vez em um fim de semana de corrida. Essa regra não existe hoje. Acho que também Jordi Torres nunca guiou uma MotoGP. Então também será a primeira vez dele e eu não concordo com isso também”, insistiu.
 
Aleix lembrou da escalação de Michael van der Mark para substituir Jonas Folger na reta final da temporada passada, mas lembrou que o holandês já tem uma vasta experiência. Mesmo assim, Espargaró acredita que o piloto da Yamaha no Mundial de Superbike também deveria ter tido um teste prévio.
 
“O nível de [Michael] van der Mark é outra história. Ele é um piloto muito mais forte, mas, de qualquer forma, acho que ele também deveria ter testado a moto antes.Tem de existir uma regra como esta e não acho que seja tão difícil fazer um teste de uma hora em uma quarta-feira em qualquer pista da Europa com uma moto da MotoGP”, opinou. “Mas não é possível que alguém chegue aqui sem ter testado os freios de carbono antes, nunca ter testado uma MotoGP. Eles estão tão atrás na primeira sessão, no primeiro dia, que é muito perigoso… Eles [Dorna e IRTA] perceberam que é um erro e estão trabalhando nisso”, garantiu.
 
Na visão de Aleix, o problema da presença de novatos ficou mais importante agora que os pilotos da MotoGP rodam em um ritmo bastante próximo.
 
“[Álvaro] Bautista disse uma coisa muito inteligente, que foi que, há oito ou dez anos, quem estava em 15º estava a 3s5 da pole-position. Agora, o piloto em 15º é oito décimos mais lento que a pole”, comparou. “Então quando alguém novo chega, sete segundos por volta é impossível. Os tempos mudaram muito e, por isso, temos de mudar as regras em muitas áreas diferentes agora”, sublinhou.
 
“Pois, se você fosse 7s mais lento, talvez o piloto na sua frente no grid fosse só 1s5 mais rápido. Então os tempos mudaram e as regras devem mudar também”, insistiu. 
 
Por fim, Aleix considerou que a regra de 107% não é mais suficiente para lidar com o tema dos novatos.
 
“Nós também estamos trabalhando para reduzir isso um pouco. Temos de ver como vão fazer em caso de condições complicadas ou o que quer que seja, mas está no plano também reduzir o 107%”, concluiu.
 
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