Coluna Wild Card, por Juliana Tesser: Cabra-macho, yes, señores

Pilotos de moto são de uma espécie diferente do resto dos seres normais: além de burlarem muitas das leis da física, também desconhecem o limite da dor

Apesar de originária do nordeste, uma região que não conta com nenhum representante do Mundial de Motovelocidade, a expressão cabra-macho é a que melhor define os pilotos que por lá estão. E o GP da Itália foi mais uma demonstração disso.
 
Durante o fim de semana em Mugello, dois pilotos ultrapassaram os limites da dor e encararam a prova da Toscana apesar do impacto dos tombos que sofreram: Bradley Smith e Marc Márquez.
Para completar a tortura, a faixa que prende o capacete ainda atingia o queixo de Márquez (Foto: Repsol)
No caso do britânico da Tech3, o acidente que sofreu ainda nos treinos livres resultou em uma pequena cirurgia no dedo mindinho esquerdo para a colocação de um fio no lugar do tendão extensor. Depois da corrida, o companheiro de Cal Crutchlow postou uma foto do dedo no Twitter e é de dar dó. 
 
Apesar das dores que certamente sentiu, Smith fez uma boa corrida, completando o GP da Itália na nona colocação, 40s243 atrás de Jorge Lorenzo, o vencedor da prova de domingo. 
 
O outro cabra-macho é Márquez. No caso do piloto da Honda, foram quatro tombos em três dias, o pior deles acontecendo na sexta-feira, durante o segundo treino livre. 
 
O novato espanhol perdeu o controle da RC213V na reta de Mugello a 337,9 km/h. Sem conseguir salvar a queda, Marc pensou rápido e se jogou no chão para evitar o choque com o muro. Segundo as informações divulgadas pela Alpinestars, fabricante do macacão usado por ele, 4s250 se passaram desde o momento em que Marc perdeu o controle da moto até parar na brita da San Donato. 
 
O air-bag do traje do piloto levou 0s050 para ser acionado, mas Márquez recebeu um impacto de ao menos 25g (o máximo medido pelos sensores instalados no macacão). Para se ter uma ideia, um piloto de F1 enfrenta uma aceleração de até 5g ao fazer uma curva em alta velocidade, o que representa a ação de uma força cinco vezes maior que o peso do competidor.
 
No total, foram oito impactos no ombro esquerdo e outros 12 no direito. Apesar da violência da queda, Marc sofreu apenas uma pequena fissura no úmero direito, além de ter machucado o queixo. Ainda assim, o espanhol foi para a pista no dia seguinte, sofreu um novo acidente, mas voltou no domingo para rodar no terceiro posto durante a maior parte da disputa. O espanhol chegou a passar Dani Pedrosa e assumir o segundo lugar, mas acabou caindo mais uma vez e abandonando a prova.
 
Além de desafiar as leis da física cada vez que entram na pista, os pilotos do Mundial também mostram que desconhecem os limites da dor. E não apenas Márquez ou Smith. 
 
Na rotina do Mundial não é difícil ver pilotos indo para a pista apesar das dores. Cal Crutchlow, por exemplo, fez isso em Le Mans. Quem não se lembra de Casey Stoner disputando o GP de Indianápolis com o pé lesionado depois um incrível high-side nos treinos, ou de Valentino Rossi voltando a correr depois de uma fratura exposta ainda usando muletas? 
 
Em seu primeiro ano na MotoGP, Jorge Lorenzo pagou um preço alto por seu arrojo, sofrendo todo tipo de acidente e chegando a correr com os dois tornozelos fraturados. 
 
É claro que os acidentes chamam a atenção para a segurança. E duas coisas se destacam aqui. No caso de Smith, ele é o terceiro piloto a se lesionar após cair e a mão ficar presa embaixo da moto. Os dois anteriores – Lorenzo e Maverick Viñales – acabaram perdendo parte de um dedo. 
 
Pelo lado de Márquez, além de ficar óbvio que o anjo da guarda do espanhol trabalha em tempo integral, também é importante ressaltar o nível de segurança dos macacões usados na classe rainha do Mundial. Se o traje não fosse tão tecnológico, o piloto poderia ter sofrido lesões muito maiores.
 
Infelizmente, risco zero nunca vai existir. Mas é bom ver um piloto sair relativamente inteiro depois de um acidente tão assustador como o de Marc.
 
Smith e Márquez merecem o Troféu Cabra-Macho com direito a champanhe, cava espanhola, fogos de artifício e todos os cumprimentos do mundo. 
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