Ducati até aplaca seca, mas decepção é palavra-chave da temporada 2020 na MotoGP

A conquista do título do Mundial de Construtores é um feito importante, mas serve apenas como um pacote mais bonitinho para embalar o que foi uma temporada ruim da casa de Borgo Panigale

A Ducati até saiu com uma conquista da temporada 2020 da MotoGP, mas nem por isso o campeonato deixou de ser desastroso. Na ausência de Marc Márquez, que fraturou o braço direito ainda na etapa de abertura do Mundial, Andrea Dovizioso era o favorito direto, especialmente considerando a trinca de vices nos três anos anteriores, mas, mesmo que tenha liderado a classificação em determinado ponto da campanha, passou longe de corresponder às expectativas.

Nos últimos oito anos, depois do fracasso da parceria com Valentino Rossi, a casa de Borgo Panigale conseguiu colocar a Desmosedici nos trilhos e recuperou protagonismo na MotoGP. Ainda assim, a seca de títulos permanece: o último ― que foi também o primeiro ― data de 2007, ainda com Casey Stoner.

Ducati levou o Mundial de Construtores, mas está longe de ter feito uma boa temporada (Foto: Red Bull Content Pool)

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É necessário ressaltar, porém, que o mais velho dos Márquez tem sido um obstáculo particular. A força do conjunto ‘Marc + Honda’ é tamanha que é preciso não só ser rápido, mas também infalível. Não basta ter uma boa moto, é indispensável que ela seja constante e se adapte aos mais variados circuitos e condições.

E é justamente aí que mora o problema. Muito embora a Ducati tenha conquistado o título do Mundial de Construtores ― com só 17 pontos de vantagem para a vice-campeã Yamaha ―, a Desmosedici não pareceu a melhor moto do grid em momento nenhum. Pelo contrário, aliás. A YZR-M1, por exemplo, tinha lá suas fraquezas, mas venceu sete vezes em um total de 12 pódios no ano e conquistou nove poles ― e só não levou o título por causa do rolo com a legalidade do motor no início da temporada. A GSX-RR, ainda que também não tenha liderado o grid, fez 11 tops-3, sendo duas vitórias. Com GP20 e GP19 ― a moto de Johann Zarco ―, a Ducati fez uma pole, nove pódios e duas vitórias.

Ao longo do ano, os pilotos se queixaram muito sobre a interação entre o pneu traseiro da Michelin ― que passou a ter uma construção diferente neste ano ― e o protótipo 1000cc. O que, aliás, foi apontado como a principal dificuldade técnica ao longo de toda a temporada.

Mas não foi só isso que afetou o desempenho da Ducati no ano. Talvez, este sequer tenha sido o maior dos problemas. O fato é que o famoso ‘climão’ imperou na garagem do time de fábrica. E nessa não dá para aliviar a responsabilidade dos gestores da equipe, que, provavelmente, nunca figuraria naquelas listas de ótimos lugares para trabalhar.

Já ouviu aquela máxima de que gente feliz trabalha melhor? A Ducati, ao que parece, não. Antes mesmo do início do campeonato, os italianos comunicaram Danilo Petrucci de que ele não permaneceria na equipe. No caso, sorte do piloto, que teve tempo de acertar a transferência para a KTM/Tech3 antes de o mundo descobrir que a RC16 era moto e tanto ― com três vitórias em 2020.

Mas o caso de Dovizioso foi até pior. Considerando o papel chave do piloto de Forli, a expectativa é de que fosse a renovação mais fácil de todas. Só que a Ducati quis esperar.

Verdade seja dita: não foi exatamente uma surpresa ver o descontentamento da marca de Bolonha com Andrea. Em um documentário produzido pela Red Bull TV ao longo da temporada 2019 já ficava clara a expectativa dos gestores por um piloto mais passional e menos racional. O que sequer faz muito sentido, já que jeitinho pensante de Andrea foi vital para os resultados conquistados até então.

Mas o fato é que a Ducati minou a relação com Dovizioso. Tanto é assim que, em meados de agosto, Andrea optou pelo desemprego e deu por encerrada a negociação. O piloto de 34 anos não consegui vaga na MotoGP para 2021 e fala em ano sabático, já que sonha em voltar em 2022. O que, porém, parece pouco provável.

Bom ressaltar, porém, que no meio da loucura, a Ducati mexeu bem as peças do tabuleiro. Em 2021, o time de fábrica terá Jack Miller e Francesco Bagnaia. A Pramac, então, vai contar com Johann Zarco e o estreante Jorge Martín. A Avintia, por sua vez, terá Enea Bastianini e Luca Marini.

Com três jovens talentos, um no meio do caminho ― ainda que a temporada de Pecco não tenha sido exatamente linear ― e dois pilotos experientes, a Ducati conseguiu cobrir bem as bases para o futuro na MotoGP, mas a notícia ruim é que, por conta de medidas de contenção de gastos relacionadas à pandemia do novo coronavírus, a moto permanecerá como está.

Em abril passado, a Comissão de GP aprovou mudanças no regulamento técnico para 2020 e 2021, o Mundial decidiu congelar o desenvolvimento de motor e pacote aerodinâmico até o primeiro evento da próxima temporada, o que, na prática, mantém as motos como estão hoje até o fim de 2021.

Sendo assim, implicando com o novo pneu ou não, a Ducati terá de dar um jeito de contornar as dificuldades da GP20 se quiser ir além do título de Construtores na MotoGP. E, mais do que trabalhar na moto, é importante olhar também para os erros cometidos pelo trio formado por Gigi Dall’Igna, Paolo Ciabatti e Davide Tardozzi, sob a batuta de Claudio Domenicali. Se olharem com carinho, vão acabar descobrindo que a falta de paciência ― e até de tato ― no trato com os pilotos já prejudicou demais as pretensões esportivas da marca. Não custa buscar um outro jeitinho de se relacionar com as pessoas e valorizar os funcionários. Se não fizer bem, mal certamente não fará.

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