GUIA 2019: Favorita, Honda carrega mistério da MotoGP: Márquez e Lorenzo vão se aguentar sem brigas?
A maior mudança da MotoGP para 2019 é conhecida desde junho do último ano: Jorge Lorenzo encerrou sua passagem conturbada pela Ducati para se juntar ao campeão Marc Márquez na Honda. Mas a questão que fica é: a dupla espanhola vai conseguir competir na pista sem discussões acaloradas fora dela?
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Há três anos, Jorge Lorenzo encerrava a passagem de nove anos pela Yamaha, com três títulos mundiais, seduzido pelo dinheiro e pela ideia de liderar a Ducati, que afirmou que ficaria "sem desculpas" para não brigar pelo título a partir daquele momento.
Errada ela não estava: em 2018, no primeiro ano do espanhol na equipe, a Ducati colocou um piloto na briga pelo título até a corrida final. Só que não Lorenzo, mas, sim, Andrea Dovizioso.
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A relação entre o italiano e o espanhol foi deteriorando ao longo das duas temporadas em que estiveram juntos. Lorenzo reclamou publicamente, não escondeu a insatisfação e, ainda com seis meses de contrato, no meio de 2018, acertou com a Honda para 2019. Terminou um ano em sétimo, outro em nono, e agora busca provar que não perdeu seu talento na equipe que venceu cinco dos últimos seis Mundiais de Pilotos.
A questão é: Lorenzo vai aguentar se não conseguir andar, tal como na Ducati, no mesmo ritmo de seu novo companheiro?

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Afinal, o piloto de Palma de Maiorca vai correr ao lado não de alguém como Dovi, que tem talento, mas ainda não chegou ao topo. Agora, o espanhol será companheiro de alguém que tem no currículo sete títulos mundiais, sendo cinco na categoria principal. Ou seja: a tendência é de andar atrás de Marc Márquez – já que todo mundo anda atrás do atual pentacampeão há muito tempo.
Lorenzo vai permanecer quieto, já que se transferiu para a Honda sabendo que essa era a probabilidade em destaque? Ou vai ficar insatisfeito se, durante a temporada, a equipe voltar o foco para o compatriota?
É necessário lembrar que a relação que, hoje, parece amistosa, já foi problemática. Primeiro, pela batalha em 2013, na pista: Márquez venceu a disputa que terminou com Lorenzo vice, em título conquistado na etapa final.
Em Valência, aliás, Lorenzo venceu a corrida decisiva, controlando o ritmo e esperando uma chance de forçar um erro de Márquez – que notoriamente é alguém que anda no limite, sempre no limiar entre equilíbrio e queda. Mas, naquele dia, o então jovem de 20 anos se controlou, usou a cabeça a terminou em terceiro para ser campeão com 334 pontos, só quatro a mais que o compatriota.

Alguns desses pontos que fizeram a diferença foram conquistados em Jerez de la Frontera: Márquez, na curva final, vinha em terceiro, logo atrás de Lorenzo. Só que este abriu demais, Márquez fechou o rival, evitou a queda após o forte toque, passou e mandou Lorenzo para a área de escape.
Mais 'reclamão', Jorge já chamou Márquez de "agressivo demais": na mesma Espanha, em 2017, acusou o então rival de quase forçar uma queda dupla tamanha a força com que tentou ultrapassagem.
No mais recente desentendimento, em 2018, acusou o atual campeão do mundo de "destruir minha corrida e meu pé" no GP de Aragão. Para o então piloto da Ducati, Márquez o forçou a passar pela parte suja da pista, novamente por causa de sua "agressividade", e ele acabou caindo. Lesionou o pé e virou dúvida para o GP da Tailândia – no qual, nos treinos, acabou lesionando o pulso e ficando, de fato, fora.

Enquanto Jorge deixa dúvidas que só serão respondidas durante o ano, Márquez tenta diminuir seu favoritismo após pré-temporada na qual a nova moto da equipe não brilhou. Ducati e Yamaha surgem com força, ao menos em teoria, mas é difícil imaginar que a adaptação de Márquez ao novo modelo não ocorra rapidamente (mesmo com Márquez tendo as férias prejudicadas por lesão no ombro esquerdo, que o obrigou a passar por cirurgia "pior do que o esperado").
O ponto é que o atual penta é especialista em dominar uma moto conhecida pela dificuldade que apresenta aos outros. Ou seja: se ele 'pegar o jeito' logo, pode até não dominar a abertura no Catar, mas voltar à frente do grid nas etapas seguintes – tendência, aliás, mostrada nos dois últimos anos, quando só foi vencer na terceira etapa e abrir grande pontuação do meio da temporada para o final.

Já Lorenzo, que chegou à pré-temporada voltando de lesão, ainda pede tempo para se adaptar à Honda. No começo do ano, ele caiu em treino e lesionou o punho, em acidente que chamou de "muito estúpido".
Por isso, já disse que o começo de temporada deve ser de dificuldades: “É completamente diferente da minha última moto. Preciso pilotar de maneira diferente. Tomara que seja melhor para o meu estilo de pilotagem. Veremos no futuro."
Mas qual será o futuro? De adaptação completa? Ou de reclamações? Será que, tal como Dovizioso, Márquez conseguirá aguentar o companheiro e andar na frente o tempo todo, deixando o sofrimento para Lorenzo?
A aposta da Honda é válida, afinal Lorenzo é multicampeão. O mistério é fora da pista. E, se der errado, Márquez é especialista em resolver dramas, como se sabe bem.

