Márquez faz Honda forte, Ducati deixa a desejar e Yamaha vive jejum: o 2018 da MotoGP

De olho no pentacampeonato, Marc Márquez deu ― como sempre ― seu toque pessoal para fazer da RC213V uma moto para lá de forte. Assim, o #93 fechou a primeira metade da temporada com 46 pontos de vantagem de Valentino Rossi, o segundo na tabela. Ao contrário do que indica a posição do #46, porém, a Yamaha não vive a melhor das fases, enquanto a Ducati deixou a desejar depois de se colocar entre as principais forças em 2017. Do lado da Suzuki, o momento é de crescimento

A primeira metade da temporada 2018 da MotoGP trouxe um Marc Márquez soberano. Dono de uma habilidade ímpar, o #93 se impôs nas nove primeiras provas do ano e, com cinco vitórias e outros dois pódios ― foi segundo no Catar e na Catalunha ―, entrou de férias com 165 pontos, 46 a mais do que Valentino Rossi, o segundo colocado na classificação.

 
Com 99 GPs na classe rainha do currículo, Márquez entrou na briga pelo pentacampeonato dando ― como sempre, aliás ― seu toque pessoal à RC213V. É fato notório que a Honda construiu um protótipo de qualidade, mas a máquina laranja só fica próxima da perfeição mesmo nas mãos do piloto de Cervera. 
 
A título de comparação, Dani Pedrosa e Cal Crutchlow são os outros dois felizes proprietários de RCVs do ano, mas têm uma performance bastante diferente do #93. O espanhol, por exemplo, vive uma profunda má fase e tem como melhor resultado no ano dois quintos lugares, um na França e outro na Catalunha. O titular da LCR, por sua vez, venceu na Argentina em seu único pódio na temporada.
O GP da Argentina foi o ponto negativo da temporada de Marc Márquez (Foto: Honda)
Perfeitamente confortável no protótipo que ostenta as cores da Repsol, Márquez torna a RC213V a moto mais forte do grid, muito mais por suas próprias capacidades do que somente pelo trabalho ― ainda que de muita qualidade ― dos engenheiros de Hamamatsu.
 
 
O clima tumultuou a etapa de Termas de Río Hondo, mas Márquez deu sua luxuosa contribuição para tornar a prova memorável. A bagunça começou com a escolha de pneus: por conta de uma chuva intermitente, Jack Miller foi o único a alinhar no grid com slicks, mas todos os demais optaram por entrar nos boxes após a volta de aquecimento para abandonar os compostos de chuva. O normal seria, então, que largassem do pit-lane, mas o volume de pilotos num mesmo espaço levantou uma preocupação de segurança, forçando a direção de prova a abortar a largada.
 
Para não anular o acerto de Miller, a MotoGP decidiu, então, dar algumas boas filas de vantagem para o australiano, mas, às vésperas da largada, Márquez viu a RCV apagar. Ao invés de seguir o previsto no regulamento, o piloto da Honda saltou da moto e passou a empurrá-la pelo grid, tentando religá-la no tranco. No meio da confusão, os comissários permitiram ― erroneamente ― que Marc voltasse à posição original e iniciasse a corrida junto aos demais, mas, pouco depois, puniu o piloto com um ride-through por ter andado na contramão. E isso só piorou as coisas.
 
Dono de um ritmo exuberante, Márquez passou a fazer uma corrida para lá de destrambelhada, distribuindo toques e ultrapassagens estabanadas. A mais gritante, porém, veio justamente com o ex-amigo/eterno inimigo Valentino Rossi. O irmão de Álex foi sancionado por derrubar o #46 e acabou alvo da ira do italiano, que acusou o adversário de destruir o esporte.
 
A relação entre os dois não voltou aos níveis aceitáveis de antes, mas Márquez tampouco voltou a tresloucar. Focado e contando com um trabalho próximo do impecável da equipe comandada por Santi Hernández, o #93 voltou a se valer de suas forças para ser decisivo ― e letal ― sempre que necessário.
Valentino Rossi tira da YZR-M1 mais do que ela tem para oferecer (Foto: Michelin)

Ao contrário de Márquez, porém, Rossi teve um caminho mais tortuoso na primeira metade da temporada. Ainda que ocupe o segundo posto na classificação, o italiano de Tavullia está longe de poder sonhar com o título, já que as dificuldades que abalaram a performance da YZR-M1 no ano passado seguem firmes e fortes dando o tom da atuação do protótipo azul.

 
Com um desempenho bastante instável, a Yamaha se comporta como uma caixinha de surpresa e ninguém nunca sabe o que esperar da M1. Mais experiente dos pilotos de Iwata, Rossi vem encontrando jeitinhos para se manter no pódio ― já são cinco em 2018: quatro terceiros e um segundo ―, o que explica a posição na tabela geral.
 
Muito embora o desempenho da M1 não seja lá essas coisas em 2018, Maverick Viñales vem deixando a desejar. Assim como fez muitas vezes no ano passado, o #25 pareceu completamente perdido ao longo da primeira fase do campeonato, lançando criticas publicas ao trabalho da equipe liderada por Ramón Forcada ― o mesmo engenheiro que trabalhou com Jorge Lorenzo nos últimos anos.
 
Antes desta curta pausa para as férias, a Yamaha parece ter encontrado algum alento com um pódio duplo em Sachsenring, mas a expectativa é de que as atualizações prometidas para a etapa tcheca ajudem a marca dos três diapasões a, enfim, deslanchar.
 
A Yamaha, porém, não foi a única a decepcionar. Depois de rivalizar com a Honda pelo título de 2017, a Ducati ficou bem aquém da expectativa, especialmente com Andrea Dovizioso, que chegou à abertura da temporada no Catar exibindo o rótulo de favorito. 
 
Com seis vitórias no ano passado, o piloto de Forlimpopoli era aguardado como o principal rival de Márquez, mas foi excessivamente irregular na primeira metade do ano. Andrea venceu no Catar, mas, depois disso, subiu ao pódio uma única vez ― com um segundo lugar na Itália ― e somou três abandonos. Assim, o próprio #4 já admite que Rossi é seu alvo na tabela e não mais Márquez.
 
Do outro lado dos boxes de Bolonha, Jorge Lorenzo também teve um início ano instável. As primeiras corridas ficaram bem abaixo da expectativa, com o #99 somando apenas 16 pontos nas cinco primeiras etapas de 2018.
 
A performance colocou o #99 sob pressão. Jorge desembarcou na Itália com o futuro especulado, mas conseguiu dar a volta por cima com um triunfo irretocável na casa da Ducati, algo que repetiu em Barcelona pouco depois. Parecia mesmo que o piloto tinha reencontrado a atuação dos tempos de Yamaha.
Andrea Dovizioso vem desapontando em 2018 (Foto: Michelin)

O clima ruim em Borgo Panigale, no entanto, acabou por selar o destino de Lorenzo. Numa manobra surpreendente, o piloto de Palma de Maiorca convenceu Alberto Puig de que era o cara certo para formar par com Márquez e, assim, vai tomar a vaga de Pedrosa na Honda a partir de 2019. O #26, aliás, anunciou que vai se despedir do Mundial no fim da temporada em Valência.

 
Quinto colocado no Mundial, Johann Zarco também pode ter o rótulo de instável para esta primeira parte do campeonato. Depois de dois pódios nas primeiras quatro corridas, o #5 viu a sorte virar após de um triste abandono na França, sua corrida de casa. Desde então, o piloto da Tech3 não voltou a encantar como outrora e, segundo o jornalista espanhol Manuel Pecino, tem sua atuação abalada por um problema de relacionamento com o empresário Laurent Fellon. 
 
A agradável surpresa ― se é que esta é a melhor palavra ― desta primeira fase do campeonato foi mesmo a Suzuki. Depois de um 2017 sofrível, marcado por uma escolha errada de motor, a marca nipônica aproveitou o direito de contar com concessões para recuperar a forma da GSX-RR. E, junto com a recuperação do protótipo, Andrea Iannone e Álex Rins também trataram de subir o nível.
 
O #29, é verdade, foi uma decepção em seu primeiro ano na Suzuki ― algo que, aliás, não conseguiu ser apagado e culminou com a transferência para a Aprilia em 2019 ―, mas se reencontrou neste ano. Até aqui, já são dois pódios e uma primeira fila. Claro, o desempenho podia ser melhor, mas Andrea já mostrou que também sabe ser pior. No fim, o balanço é até que positivo.
 
Em seu segundo ano na MotoGP, Rins parece mais adaptado e confortável no protótipo 1000cc. O espanhol já subiu duas vezes no pódio, mas tem o balanço geral comprometido por cinco abandonos. 
 
Ainda na linha dos times de fábrica, a Aprilia pouco avançou em relação ao ano passado. Se é que o fez, aliás. Mais uma vez, Aleix Espargaró ofusca o companheiro de equipe ― sendo Scott Redding o parceiro da vez ―, mas o catalão teve muitos problemas de confiabilidade no ano. A casa de Noale já podia ter feito melhor uso das concessões a que tem direito.
 
Caçulinha entre os construtores, a KTM segue sua luta para avançar e se prepara para povoar mais o grid em 2019, quando terá a Tech3 como equipe satélite. Uma das gigantes da indústria, a marca da Mattighofen mantém sua linha de evolução e, antes das férias, chegou a liderar uma sessão pela primeira vez, com Pol Espargaró no comando do warm-up na Alemanha.
 
Entre os debutantes, Franco Morbidelli e Hafizh Syahrin fazem boas estreias e travam um bom duelo pelo título de melhor estreante ― o malaio tirou proveito da ausência do #21 em duas etapas, aliás. Takaaki Nakagami também faz um bom primeiro ano, ao contrário de Tom Lüthi e Xavier Siméon, que sequer pontuaram.
 
A expectativa em cima do suíço, claro, era maior, afinal, o #12 tinha uma longa e até vitoriosa carreira na Moto2, mas, ao menos até aqui, Tom não correspondeu. Siméon, por sua vez, não surpreende, já que sua performance nas classes anteriores não oferecia a melhor das credenciais para a divisão rainha.
 
Com outras dez etapas no horizonte, tudo ainda pode acontecer, mas Márquez tem o pentacampeonato para lá de encaminhado. Resta saber se alguém poderá surpreender ainda em 2018.
 
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