Muito mais maduro, Lorenzo alcança bicampeonato em temporada que mesclou agressividade e inteligência

Jorge Lorenzo chegou ao bicampeonato da MotoGP na Austrália, neste domingo (28), depois de terminar a prova em Phillip Island na segunda colocação, logo atrás de Casey Stoner. O espanhol viu o único rival pelo título, Dani Pedrosa, cair ainda na segunda volta, o que abriu caminho para a conquista, que veio em ano de grande maturidade, consistência e inteligência

Pode-se afirmar com toda a tranquilidade que o segundo título mundial de Jorge Lorenzo, conquistado neste domingo (28) em Phillip Island, foi fruto da maturidade alcançada pelo espanhol na MotoGP. E por uma mudança significativa no modo de ver e entender seu papel na principal categoria do motociclismo mundial. Talvez pelo grave acidente que sofreu na mesma Phillip Island em 2011, em que perdeu parte do dedo anelar esquerdo, talvez abalado pela morte precoce e trágica de Marco Simoncelli, com quem chegou a discutir severamente, o fato é o que o jovem piloto da Yamaha, outrora grande pedra no sapato de Valentino Rossi, se mostrou ao longo do ano uma pessoa mais amável, com identidade e brilho próprios. 

Lorenzo conquistou neste domingo (28) seu segundo título mundial na MotoGP (Foto: Yamaha)

Mais uma vez liderando a Yamaha, Lorenzo se valeu em 2012 de uma consistência impar para se manter sempre entre os ponteiros e comandar a tabela de pontos praticamente desde o início do campeonato, mesmo quando não tinha equipamento para brigar com os rivais da Honda. 

Foram raros os erros do piloto de 25 anos. Tentando tirar o máximo de potencial da moto azul de número 99, Jorge até o momento – a temporada ainda tem mais uma etapa, em Valência, no início de novembro – abandonou apenas uma corrida, em Assen, quando foi derrubado por Álvaro Bautista ainda na primeira volta. A queda na Holanda, aliás, foi a fase mais crítica da campanha do espanhol, que perdeu um motor no acidente e se viu em uma condição de grande desvantagem em relação à concorrência. E também a fase mais polêmica do ano. Jorge não gostou da largada atrapalhada do compatriota, reclamou muito e viu a direção da MotoGP punir o representante da Gresini. Mais tarde e mais calmo, Jorge reconheceu que exagerou nas críticas e pediu desculpas a Álvaro. E seguiu seu caminho.

Nas outras 16 provas do calendário, Lorenzo ou venceu ou chegou na segunda colocação. Tamanha consistência o colocou em uma posição privilegiada, especialmente na segunda parte do Mundial, em que, sem o mesmo equipamento da primeira metade do ano, precisou administrar a vantagem construída antes e lidar com a grande performance que Dani Pedrosa passou a ter. Coincidência ou não, Pedrosa ressurgiu forte e determinado no Mundial principalmente depois do acidente sofrido por Storner em Indianápolis, que tirou o australiano de três provas do calendário devido a um pé quebrado. E batalha entre os dois, embora na pista mesmo tenha acontecido somente nas últimas voltas da corrida em Brno, foi um exercício de paciência para Lorenzo. 

É bem verdade que o piloto de Palma de Mallorca não teve o mesmo desempenho dominante que o consagrou em 2010, mas é igualmente correto dizer que o segundo título veio de forma a premiar uma performance pautada pela inteligência. Quando se viu em condição de atacar, Lorenzo saiu vencedor dos duelos contra Stoner e Pedrosa, mas quando não teve moto, tratava de assegurar a segunda colocação, irritando os adversários. Na prática, o campeonato da MotoGP em 2012 teve apenas os três nas disputas por vitórias. Tanto que Lorenzo e Pedrosa estão empatados com seis triunfos cada, enquanto Stoner aparece com cinco.  Mas a paciência de Jorge foi premiada no fim. 

Lorenzo viu Pedrosa cair ainda na segunda volta do GP da Austrália (Foto: Yamaha)

Sem conseguir fazer frente a Dani em ritmo de corridas das últimas seis provas do Mundial, Lorenzo chegou a Phillip Island sabendo que, além de Pedrosa, teria em Stoner outro rival de peso. Portanto, o jeito era potencializar o resultado, mas queda de Dani logo na segunda volta facilitou o caminho do piloto da Yamaha, que cruzou a linha de chegada em segundo pela décima vez. Mas o segundo degrau do pódio teve sabor de vitória e alívio. 

Restando ainda uma etapa para o fim, Lorenzo soma agora 350 pontos e não pode ser mais alcançado por ninguém. A festa mesmo de acontecer diante da torcida espanhola, no dia 11 de novembro, no tradicional circuito Ricardo Tormo, em Valência

A carreira

Jorge Lorenzo estreou no Mundial de Motovelocidade em 2002, um dia após ter completado 15 anos, a idade mínima para competir na então 125cc . A primeira corrida aconteceu em Jerez de la Frontera. No ano seguinte, o espanhol conseguiu a primeira vitória, no GP do Brasil, em Jacarepaguá, e terminou o campeonato apenas em 12°, com 79 pontos. Jorge correu ainda mais um ano menor categoria do Mundial antes de se transferir para as 250cc, em 2005. 

O primeiro título na série intermediária veio em 2006. Defendendo a Aprilia, Lorenzo conquistou naquela temporada oito vitórias e 289 pontos. No campeonato seguinte, Jorge repetiu a dose e ganhou o bi, com mais nove triunfos. O desempenho avassalador nas 250cc o credenciou para a MotoGP

Jorge Lorenzo celebra seu primeiro título com a Yamaha em 2012 (Foto: Facebook)

O contrato com a Yamaha foi bastante badalado na época, principalmente porque o espanhol entrava para dividir a equipe com a grande estrela do Mundial, Valentino Rossi. A convivência dos dois foi explosiva. Apesar dos graves acidentes, Lorenzo se mostrou competitivo desde o início, cravando, inclusive, a pole em seu primeiro GP na classe rainha, no Catar. 

Dono de uma personalidade difícil, Jorge também não facilitou a vida de Rossi. Mas também não teve a vida facilitada pelo italiano, que chegou a pedir um muro nos boxes da Yamaha, para evitar a transferência de informações. Os dois, entretanto, protagonizaram disputas emblemáticas na pista, como o famoso duelo das últimas voltas na pista de Barcelona, em 2009, onde Valentino venceu Lorenzo. 

2010 seria o ano de consagração de Jorge. O espanhol já vinha mostrando desempenho forte e regular na disputa com Rossi, mas o acidente em Mugello, onde o multicampeão quebrou a perna, acabou por impedir um embate maior entre ambos.  Sem Rossi, Jorge levou o primeiro título por antecipação, na prova da Malásia, com o terceiro lugar.

A temporada passada não foi das mais fáceis para o espanhol. Apesar da saída de Valentino da Yamaha, a equipe japonesa encontrou sérias dificuldades com a M1, que nunca foi competitiva o bastante para lutar contra afinadíssima moto da Honda de Stoner. Ainda assim, o espanhol terminou o ano com três vitórias e o vice-campeonato. A redenção veio em 2012. 

 

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