Opinião GP: avassalador Márquez tira veteranos da zona de conforto na MotoGP e divide Honda

Marc Márquez mudou o mundo na MotoGP. O desempenho sempre no limite, a agressividade e o fato de não ter nada a perder em seu ano de estreia serviram para colocar fogo nas disputas de pista novamente

NÃO HÁ MUROS NA HONDA. Mas já há certa divisão na mais poderosa equipe da MotoGP. Tudo isso por causa de um tal de Marc Márquez. O jovem espanhol chegou, chegando, como dizem. E comprovou tudo aquilo que se previa antes de o campeonato começar. Agressivo, veloz, avassalador. Difícil de conter. Um devorador de recordes, alguém que certamente vai entrar para a história do Mundial. Meio mágico, meio herói, meio vilão. Como todo grande piloto é. Mas a verdade é que Márquez tirou a todos da zona de conforto.

Jorge Lorenzo também passou por isso. Igualmente agressivo, rápido e talentosíssimo, o piloto de Palma de Mallorca estreou em condições bem diferentes da do compatriota. Quando alinhou a Yamaha ainda #48 na pole do grid do Catar em 2008, Lorenzo tinha como companheiro um Valentino Rossi no auge da performance, da sagacidade e, principalmente, da popularidade. E não foi fácil vencê-lo sob o mesmo teto, com a mesma moto. Talvez por isso Jorge tenha encontrado certa serenidade que hoje o faz o piloto mais completo do grid.

Jorge Lorenzo e Marc Márquez conversam no cercadinho (Foto: Repsol)

Mas mesmo ele, com dois títulos no bolso, toda a experiência de anos difíceis e combativos e ainda com uma equipe inteira a seu dispor, precisou se reencontrar para bater esse espevitado Márquez. O confronto no início do ano, em Jerez de la Frontera, quando os dois se tocaram na curva final, que ironicamente leva o nome do piloto da Yamaha, acabou servindo como o primeiro alerta. Lorenzo reclamou muito. Mas, no fim, compreendeu que precisa fazer mais que isso para encarar o menino de Cervera.

Lutador nato, exigente ao extremo, único no que faz dentro da pista, Jorge encontrou esse caminho. E foi doloroso. A queda em Assen aconteceu em um momento que o espanhol havia mudado seu estilo de trabalho. Vindo de duas vitórias importantes – Mugello e Barcelona –, Lorenzo queria provar que era ele o cara do campeonato, o cara a ser batido. O drama que se seguiu mudou totalmente o andamento da disputa do título, e Jorge sabe e já reconheceu que, se hoje está em uma situação pouco confortável na tabela de pontos, a culpa é sua, embora tenha consciência que não dispõe do mesmo equipamento afinado, veloz e estável da Honda.

Passada as férias, Lorenzo entendeu que a queda custou muito mais do que o imaginado. E tratou de se adaptar rapidamente ao novo cenário. A vitória em Silverstone, na espetacular briga com Márquez na volta final, foi a prova de agora sabe o que tem de fazer para bater o jovem dono da moto #93, que não é imbatível, mas que exige um algo a mais dos rivais.

Até mesmo Rossi se viu em apuros com Márquez. O arrojo do piloto de 20 anos foi testado mais uma vez em Laguna Seca, onde anos antes Valentino deu uma aula em Casey Stoner no famoso Saca-rolha. Desta vez, foi Marc quem levou o veterano multicampeão ao limite na difícil e excêntrica curva.

Marc Márquez superou Valentino Rossi em Laguna Seca (Foto: Repsol)

O mesmo, entretanto, não acontece com o cara que divide os boxes com Márquez. Pela primeira vez na carreira, Dani Pedrosa tem alguém do outro lado da garagem que realmente o incomoda. E na pista. Também veloz, experiente e profundo conhecedor da moto, Pedrosa ainda peca pela extrema cautela. E talvez seja esse o maior empecilho na luta contra o ímpeto e a agressividade do companheiro de equipe. Ao contrário de Lorenzo, Dani parece não entender ainda que precisa tirar um pouco mais, arriscar mesmo para superar o novato. Houve um lampejo, é verdade, em Misano, mas ainda insuficiente para também exigir algo extra de Marc.

O catalão de Sabadell tem um histórico de quedas feias, muitas vezes causadas por adversários, mas que sempre o colocavam no hospital. Por muitos anos, o espanhol se viu fora das disputas, longe dos holofotes por conta das inúmeras fraturas. Portanto, é até compreensível o maior valor pela precaução. Mas isso tem seu preço. E o preço é alto, especialmente no combate com alguém que não tem nada a perder.

Dani Pedrosa sofreu um acidente em Aragão depois de uma disputa com Márquez (Foto: Repsol)

2013 era o ano de Pedrosa. Depois de um fim de temporada vitorioso no campeonato passado, a previsão, ainda mais com a grande evolução da Honda, era de que se valeria da experiência e do noviciado do colega de time para, enfim, se sagrar campeão. Porém, dificilmente será neste ano. Mais uma vez, a cautela extrema de Dani o colocou em uma situação de risco, curiosamente. Muito mais rápido que Lorenzo em Aragão ― no último domingo ―, Pedrosa chegou rapidamente no adversário, mas, na demora em escolher um bom ponto de ultrapassagem, acabou virando uma presa fácil para o companheiro de equipe, que pouco espera na hora de superar um rival.

Em que pese o toque e certo desespero para recuperar a vice-liderança da prova, Marc certamente não agiu de propósito. Pode-se dizer, no máximo, que foi excesso de arrojo, algo absolutamente inerente ao líder do campeonato.

Pedrosa reclamou tal como Lorenzo em Jerez. Exigiu uma atitude da direção de prova contra a postura de Marc, já que a culpa pelo acidente foi colocada nas costas de Marc, até mesmo pela equipe. Criticou a agressividade absurda do adversário. A conversa ainda vai longe. E a Honda pode começar a viver uma guerra daqui para frente, mas isso também vai depender mais de como Dani vai reagir (e se vai) a tudo isso. E se vai de fato, de uma vez por todas, entender que, assim como Jorge fizera, precisa de algo a mais para vencer esse impetuoso compatriota.

O campeonato ainda tem mais quatro provas. A diferença entre Márquez, vencedor no domingo, e Lorenzo é de 39 pontos. Pedrosa tem ingratos 59 a menos. Tudo pode acontecer, é claro. Como o GP de Aragão mostrou, mas a tendência é que Márquez volte do Oriente campeão, provocando novamente um terremoto na MotoGP. E aí 2014 promete, especialmente diante de um cenário em que a concorrência já sabe o que precisa e o que tem de fazer para alcançar a moto laranja #93.

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