Opinião GP: velho e com toda torcida a favor, heptacampeão Rossi gera duplo maniqueísmo em sua ‘volta’

O pódio eletrizante do Catar serviu para provar que Valentino Rossi ainda é um monstro da Motovelocidade. Acima do bem e do mal, o italiano foi reverenciado em Losail no retorno a sua tão adorada Yamaha

OS TEMPOS DE AGRURA foram muitos nos dois últimos anos, mas até foram de alguma serventia para um piloto que vai deixar o mundo da velocidade certamente com a pecha de maior de todos os tempos. Ao acertar rapidamente sua volta à Yamaha depois de não fazer da Ducati um time vencedor, Valentino Rossi tinha claramente uma meta pessoal: provar a si que não é um ex-piloto em atividade que pode pôr a prova e até arranhar tudo que conquistara belamente.
 
Dentro desta meta, havia algumas submetas, por assim dizer. A principal delas encontrava-se em desfazer tudo aquilo que havia (des)construído quando fora companheiro de Jorge Lorenzo há duas temporadas. O muro literal que havia posto para dividir os lados foi destruído com o tempo, mas algumas ruínas ainda deveriam restar internamente.
Valentino Rossi e Jorge Lorenzo celebram pódio em Losail (Foto: Yamaha)

As imagens do GP do Catar de Moto3, Moto2 e MotoGP
Lorenzo despacha rivais e vence no Catar. Rossi é 2°

Mais maduros e humildes, Rossi e Lorenzo mostraram em alguns meses que a Yamaha com cara de Berlim voltava a ser algo uno. E que o maniqueísmo que foi criado, ou um ou outro, começava a deixar de existir na prática. Os elogios vieram a rodo. De um lado, Lorenzo falando em honra e motivação extra por ter Valentino debaixo do mesmo teto. Do lado de lá, Rossi nunca deixou de reconhecer a mão estendida por Jorge, que jamais teve palavras de deboche ou crítica nos anos de desespero em Borgo Panigale. Fez-se a paz.

Só que Rossi mostrou neste fim de semana no Catar que ainda é capaz de gerar outros maniqueísmos em sua rica história no motociclismo. Enquanto o heptacampeão Michael Schumacher dividiu o mundo na escala entre o bem e o mal em seu retorno à F1, o Doutor dos mesmos títulos na MotoGP conseguiu em sua ‘volta’ uma unanimidade absurda visível nas arquibancadas da pista de Losail – sobretudo quando o italiano era mostrado pela TV – e também nas redes sociais, em que a torcida por sua recuperação era acompanhada de predicados como "genial", "incrível" e "supremo". Foi uma overdose. E até mesmo os críticos se curvaram.

É bem verdade que Valentino não conseguiu repetir a épica vitória de 2004 – quando estreava pela Yamaha e protagonizou um dos duelos mais eletrizantes com o eterno rival Max Biaggi –, mas foi capaz de provar para si, para os membros de seu grupo e, principalmente, para os fanáticos torcedores que não havia perdido a mão, ainda que a posição de largada – apenas o sétimo lugar – e um errinho ainda nas primeiras voltas tenham provocado alguma indagação.

E foi sob as fortes e cintilantes luzes artificiais do Catar que o monstro brilhou intensamente. A recuperação veio rápida e voraz, quase como nos velhos tempos. Um a um, os adversários foram ficando pra trás até que Rossi encontrou alguém que parece mais um reflexo de si próprio anos atrás.

Lá estava Marc Márquez. O novato, o estreante, o badalado e o muito, mas muito rápido piloto espanhol. O catalão também havia largado mal, teve de se recuperar até alcançar o companheiro de Honda e experiente Dani Pedrosa. Ali, no terceiro lugar, ficou apenas por algumas voltas olhando os movimentos do rival, estudando-os, em uma tática das mais utilizadas por Rossi. Mas o atrevimento e a ousadia de seus maus completados 20 anos não permitiram que ficasse por ali tanto tempo. Em um só golpe, Márquez superou o adversário da casa e ficou esperando pelo rival, que não demorou a alcançá-lo.

Foi o encontro do novo e do velho nas pistas – outro maniqueísmo. Gerações distintas, mas que são feitas do mesmo DNA, sem bem nem mal, apenas dois pilotos se divertindo em uma noite já especial. A parte final da prova em Losail testemunhou um novo embate na MotoGP, e certamente deu uma razão para acompanhar a categoria-rainha prova a prova.

Valentino Rossi e Marc Márquez duelaram pelo segundo lugar  (Foto: Yamaha)

Em segundo, Márquez não facilitou, mudou suas trajetórias, deitou mais a moto em algumas passagens, tentou tudo que sabia para impedir a ultrapassagem. Não deu. Rossi é Rossi e não perdoa, mesmo um novato pelo qual já simpatiza. O espanhol ainda tentou, na força do poderoso motor da Honda, bater o italiano, mas a experiência e a velocidade do heptacampeão falaram bem mais alto. Rossi cruzou a linha de chegada em segundo, a quase seis segundos o companheiro Lorenzo, que não viu ninguém a sua frente e comandou como quis a corrida. Valentino, mais uma vez, foi reverenciado. Pelas paixões que desperta e pelos rivais.

O mais curioso desse início de novo capítulo na vida desse italiano é que não conseguiu trazer sua tão preciosa M1 para o parque fechado. Ficou a pé. Mas recebeu a carona do compatriota Andrea Iannone. E em cima de uma Ducati…

O Opinião GP é o editorial semanal do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.

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