Prévia: Em meio à ‘treta’, MotoGP decide campeão na final mais apertada desde 1992

O caos se instaurou na MotoGP depois do GP da Malásia, mas nem por isso a decisão do título perdeu seu impacto. Valentino Rossi e Jorge Lorenzo fazem o último confronto em Valência, naquela que é a final mais apertada na classe rainha desde 1992

A MotoGP vive um momento contraditório. É, ao mesmo tempo, uma de suas piores e melhores fases.

Na pista, o campeonato tem tudo que os fãs gostam de ver. Disputas, espetáculo, bons pilotos, boas máquinas e a decisão do título na etapa final.

 
Fora da pista, a coisa não é bem assim. O conflito entre Valentino Rossi e Marc Márquez ganhou proporções inesperadas e passou de um ataque surpreendente do italiano na coletiva de imprensa malaia, para um toque, uma sanção e um recurso no Tribunal Arbitral do Esporte.
 
E a confusão também extrapolou os limites do esporte. Primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy manifestou apoio a Márquez pelo Twitter. Premiê da Itália, Matteo Renzi ligou para Rossi para expressar seu amparo. O Comitê Olímpico Italiano também se colocou ao lado do piloto da casa, assim como a Federação Motociclística Italiana.
 
No país da bota, foram muitos os que saíram em defesa do multicampeão. Durante uma partida entre Napoli e Palermo, válida pela décima rodada do Campeonato Italiano, a torcida exibiu uma faixa pedindo que Rossi corresse sem regras em Valência. Na noite de quarta-feira (4), foi a Inter de Milão, time de Valentino, quem se posicionou em favor do #46. 
A cobertura completa do GP da Comunidade Valenciana no GRANDE PRÊMIO
Em clima nada amistoso, Valentino Rossi e Jorge Lorenzo definem Mundial em Valência (Foto: Yamaha)
Antes, o zagueiro Marco Materazzi, aquele da infame cabeçada de Zinedine Zidane, já tinha se colocado ao lado de Rossi, assim como Sebastian Vettel
 
 Márquez, por sua vez, ganhou o apoio de Carlos Sainz Jr., mas viu a coisa esquentar com uma visita indesejada de repórteres de uma versão italiana do CQC. A ‘entrevista’ acabou em briga, com direito a polícia e tudo mais.
 
Enquanto isso, outros se reuniam para apaziguar os ânimos. Presidente da FIM (Federação Internacional de Motociclismo), Vito Ippolito escreveu uma carta aberta, de um tom amargo, é verdade, mas também levemente pacificador. Ángel Nieto, um dos grandes do esporte, pediu que Rossi e Márquez se acalmassem, dessem as mãos e tal. 
 
E a preocupação é justificada. Serão 110 mil pessoas no circuito Ricardo Tormo no domingo, com as tribunas de Rossi, Márquez e Jorge Lorenzo lado a lado.
 
Para tentar acalmar os ânimos, a MotoGP cancelou a coletiva de imprensa, que, provavelmente, seria uma caça às bruxas, e convocou todos os pilotos da classe rainha, junto com seus chefes de equipes, para uma reunião com Ippolito e Carmelo Ezpeleta, diretor-executivo da Dorna, promotora do Mundial de Motovelocidade.
 
Quando as crianças não se comportam, acaba mesmo todo mundo na diretoria.
 
Mas os esforços para trazer a paz caíram por terra mais uma vez, agora com a intervenção de Lorenzo. Como se o clima na Yamaha já não estivesse ruim o bastante, o espanhol apresentou, à revelia da casa de Iwata, um pedido para intervir no caso de Rossi no Tribunal Arbitral do Esporte. A solicitação foi rejeitada pela corte de Lausanne, mas a “obrigação moral” do #99 não desceu bem no time dos diapasões, que não escondeu o descontentamento.
 
E é nesse climão que os pilotos chegam ao circuito Ricardo Tormo para a decisão do Mundial. Pela 16ª vez desde 1949, o campeão será definido na etapa final, mas a diferença de sete pontos entre Rossi e Lorenzo é a menor desde que Mick Doohan e Wayne Rainey chegaram em Kyalami, na África do Sul, separados por apenas dois pontos.
Marc Márquez chega em Cheste querendo esquecer a última semana (Foto: Honda)
Naquela corrida, o australiano corria no esforço, já que ainda não tinha se recuperado das lesões severas sofridas na oitava etapa da temporada, em Assen, o que tinha permitido que o rival da Yamaha recortasse grande parte de seus 65 pontos de vantagem. Apesar da atuação heroica de Mick, que recebeu a bandeirada em sexto, Rainey ficou com o terceiro posto na corrida sul-africana e faturou o título das 500cc por quatro pontos de vantagem. 
 
 Desta vez, Rossi não tem mais uma incerteza no horizonte. O Tribunal Arbitral não deu a suspensão da pena que alguns advogados entendiam como uma possibilidade bastante razoável. Assim, Valentino vai largar em último no circuito Ricardo Tormo, mas isso não significa que o sonho do título acabou, especialmente se levarmos em conta o histórico da Honda em Valência. 
 
A marca da asa dourada é a mais bem sucedida no circuito Ricardo Tormo na era da MotoGP. Desde 2002, a Honda conquistou oito vitórias no circuito, contra três da Yamaha e duas da Ducati.
 
Em termos de piloto, Dani Pedrosa é quem tem mais vitórias em Cheste. O espanhol, que chega para esta última etapa da temporada em grande fase, soma três triunfos na MotoGP, dois nas 250cc e um nas 125cc. Além do #26, o único piloto que subiu ao topo do pódio de Valência em mais de duas oportunidades é Casey Stoner, que venceu uma vez nas 125cc e duas na MotoGP.
 
Líder do Mundial, Rossi tem dois triunfos em Valência, ambos na classe rainha. Maverick Viñales também venceu por lá um par de vezes (125cc e Moto3), assim como Mika Kallio (125cc e 250cc), Lorenzo (duas vezes na MotoGP), Márquez (MotoGP e Moto2) e Héctor Barberá (125cc e 250cc).
 
No meio dessa bagunça toda, você pode se questionar: mas será que Pedrosa e Márquez vão sumir na ponta e ficar fora da confusão do título? Bom, essa é a ordem que veio de cima. Shuhei Nakamoto, vice-presidente executivo da HRC, disse que a meta para Valência é conseguir uma dobradinha para não se envolver na briga da Yamaha.
Dani Pedrosa é o piloto com mais vitórias em Valência (Foto: Honda)
Se esse for mesmo o caso, melhor para Rossi. Com Lorenzo em terceiro, o italiano pode receber a bandeirada até em sexto para ficar com o título. Mas, se as Honda não derem conta do recado, a coisa fica mais complicada para o italiano de Tavullia.
 
Com Lorenzo no topo do pódio, Valentino só fica com o título se for segundo. Se o espanhol ficar com a posição intermediária do top-3, Rossi precisa fechar o pódio para chegar ao décimo Mundial.
 
E se Rossi precisa de um incentivo extra, as estatísticas do Mundial guardam uma notícia interessante para ele. Em toda a história do campeonato, só dois pilotos conseguiram recuperar um déficit de pontos na corrida final da classe rainha: Wayne Rainey, em 1992, e — e essa é a notícia não tão boa — Nicky Hayden, em 2006.
 
O hoje piloto da Aspar chegou a Valência em 2006 com oito pontos de atraso para Rossi, mas viu sua sorte mudar ainda nas primeiras voltas com um tombo do italiano. Apesar de ter seguido na corrida, Valentino não conseguiu tirar nenhum coelho da cartola e teve de se contentar com o vice.
 
A virada era tão inesperada, que Hayden teve que celebrar sua conquista com fumaça amarela, já que Valência tinha ‘se vestido’ para uma conquista de Rossi.
 
Moto2
 
 Com tanta confusão na MotoGP, todo mundo esqueceu das demais categorias, especialmente da Moto2, que já tem seu campeão definido.
 
Para este fim de semana, a novidade é a volta de Tito Rabat, recuperado de uma fratura no braço. Ano que vem, o espanhol sobe para a MotoGP para defender as cores da mesma Marc VDS.
Johann Zarco pode chegar a novo recorde em Valência (Foto: Ajo)
Além disso, Johann Zarco tem a chance de anotar um novo recorde. Se completar o GP da Comunidade Valenciana dentro do top-12, o francês vai atingir a maior pontuação da Moto2 em uma única temporada. A marca hoje pertence a Rabat, que somou 346 pontos ano passado. O piloto da Ajo tem 343 até aqui.
 
E, por incrível que pareça, a Kalex, fabricante da maioria das motos do grid atual, terá mais uma chance de conquistar sua primeira vitória em Valência, o único circuito do atual calendário onde ainda não venceu.
 
Moto3
 
Assim como na MotoGP, a Moto3 também terá seu campeão definido neste fim de semana, mas a atmosfera por lá é muito mais tranquila. Exceto nos boxes da Kiefer.
 
Depois de uma primeira metade de temporada impecável, Danny Kent não conseguiu manter o mesmo nível e perdeu três chances de conquistar o título com antecedência — Japão, Austrália e Malásia.
Danny Kent tem 24 pontos de vantagem para Miguel Oliveira (Foto: Kiefer)
Enquanto o britânico ia perdendo o passo, Miguel Oliveira encontrou seu caminho e recuperou impressionantes 96 pontos para o líder do Mundial em um intervalo de cinco provas.
 
Assim, o britânico e o português chegam em Valência separados por 24 pontos. É uma diferença bastante grande, mas a boa fase do piloto da Red Bull KTM Ajo e o nervosismo do #52 frente a possibilidade de título deixam tudo em aberto.
 
Para aumentar as chances de Miguel, todas as corridas da Moto3 disputadas em Valência foram vencidas pela KTM. O último triunfo da Honda no circuito Ricardo Tormo na categoria menor foi conquistado em 2002, ainda nas 125cc, por Dani Pedrosa.
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