Coluna Superpole, por Victor Martins: O futuro de Montoya
Nenhuma operação com a grana que movimenta, por mais que admire seu funcionário, aguenta sobreviver se a eficiência e as metas não forem alcançadas. Montoya jamais terminou um campeonato da Nascar melhor que 17º. Diria o outro que assim não pode, assim não dá. Juan Pablo tem 37 anos e uma decisão a tomar, considerando que não deve passar por sua cabeça a hipótese de terminar a carreira: insistir na Nascar ou ver outro rumo. Que é o endurance
Por outro lado, a internacionalização da Indy – no sentido de atrair cada vez mais pilotos de várias procedências – começou a popularizar a categoria. No caso brasileiro, a evidente abertura de porta de Emerson Fittipaldi e de suas conquistas, somada às transmissões ao vivo, davam ao público uma opção. Se Emmo não fez um discípulo rápido, nem mesmo Christian, ao menos o povo passava a saber de onde estava vindo Michael Andretti e para onde fora Nigel Mansell. E naquelas tais temporadas, quem era o filho de Gilles Villeneuve. Jacques fez a América sendo rookie e depois campeão, com direito a vitória na Indy 500, com o belo e chamativo carro azul da Forsythe.
A F1, sobretudo a Williams, precisava de um novo alguém para brigar com aquele Schumacher que decidira ir para a Ferrari. E a Indy, então muito bem estabelecida, sofreu a rasteira de Tony George e se viu partir em duas. Villeneuve se preparou para a mudança como nunca se vira antes, e lá na cisão, a Ganassi se pôs como grande força no lado menos fraco, a Cart. A IRL, coitada, não era nada.
Schumacher e Villeneuve não foram propriamente rivais em 1996 porque Damon Hill aproveitou-se, enfim, do penúltimo trabalho bem feito do time de Frank. Foi em 1997 que o bicho pegou, com o inglês indo parar na Arrows, naquela memorável decisão em Jerez em que o alemão deu mais lenha aos seus detratores quando tentou acabar com a corrida de Jacques ao se ver superado no fim da corrida. O título do canadense também atestava que a Indy – no caso a Cart – era um bom celeiro de talentos, uma Catho On-board.
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Em 1998, na F1, Schumacher passou a ter a McLaren com seu principal problema com a mudança técnica nos carros. A Williams se perdeu por completo, também com a saída da Rothmans. Villeneuve desapareceu, tanto que foi se juntar novamente a Craig Pollock, seu empresário dos tempos de Indy, para fundar a BAR bancada pela tabagista BAT no ano seguinte. A abertura da vaga na Williams só podia caber a ele mesmo, Zanardi. E para o lugar deste, Ganassi ousou e foi buscar um jovem ali na categoria de base da F1, o então campeão da F-3000, Juan Pablo Montoya.
Os caminhos de Zanardi e Montoya foram absolutamente distintos em 1999. Zanardi foi um fiasco absurdo. É bem verdade que o carro da Williams seguiu sendo uma draga, mas não pontuar na temporada enquanto Ralf Schumacher tinha 35 na tabela só podia dar ao italiano o cartão vermelho. Juan Pablo foi esperto: viu que a F1 estava sem nenhuma vaga decente e foi fazer da Indy pedestal seguindo os exemplos de Villeneuve e Zanardi. Levou de cara o título. Em 2000, a Ganassi trocou os motores Honda pelos Toyota. A mudança fez mal para a equipe, que esteve longe de brigar com a Penske de Gil de Ferran. Mas Chip, outro espertão, deu o grande bote do ano: alinhou seus dois pilotos para disputar as 500 Milhas de Indianápolis na IRL no primeiro momento de laço entre as séries. Montoya venceu de braçada. Com isso, pela terceira vez, a Williams importava alguém da América, oferecendo um pacote atraente: a parceria com a BMW.
Montoya caiu na F1 justamente quando Schumacher dava início ao seu reinado. Louco de pedra, a disputa com o alemão em Interlagos em que quase o mandou às favas no S do Senna aproximou o colombiano do povo que queria ver o destronamento de Michael. Quando dava, Montoya beliscava suas vitórias, poles e voltas mais rápidas – 4, 11 e 8, respectivamente, em quatro temporadas. Mas a Williams não tinha condições de brigar com aquela Ferrari armada durante aquela era, e Montoya, farto, foi tentar a sorte na McLaren.
Se na casa anterior colocava o irmão de Schumacher no bolso rechonchudo, Juan Pablo tinha noção de que teria certa dificuldade com aquele Kimi Räikkönen que já dava o que falar. O resultado final no campeonato resumiu o vareio que levou: 112 a 60, sete vitórias do finlandês contra três suas. Em meio a isso, já se ouvia que a relação com Ron Dennis não era das melhores – estávamos sem manchetes. Bom latino que é, Juan Pablo também nunca foi de baixar a cabeça. E como o mundo da F1, suas regras e perfeições – principalmente corporais – já haviam dado no saco, Montoya largou tudo no meio de 2006 e voltou à América para comer hambúrguer adoidado e para o colo acolhedor de Ganassi. JP não tinha o que fazer na Indy, então se viu na óbvia opção de tentar a Nascar.
Só que a Nascar, meu jovem, não era aquela Indy popularizada e aberta a qualquer não americano. A Nascar ainda era território fechado, dominado por zilhões de patrocinadores que agradavam àquele público local, que não sabiam – ou, se sabiam, haviam esquecido – 1) quem diabos era Montoya e 2) o que era a tal da F1 de onde ele havia vindo e se era de comer. Montoya começou humilde, na escala: andou na ARCA, de caminhão na então Busch Series e chegou até a fazer uma prova pela Nascar naquele ano. Daí foi jogado às feras por Chip.
De lá para cá foram seis temporadas. Chip passou a ter sócios na equipe, mas seu modo de conduzir a operação, perfeito e fantástico, não mudou. Montoya, sim. Montoya ganhou um peso descomunal para um atleta que depende de seu físico para andar quase três horas todo santo fim de semana, e isso foi melhor acompanhado com o advento das redes sociais, às quais se debruçava não para falar com seus fãs, mas às idas ao McDonald’s da vida, ao churrasco com aquele T-bone e aquela chuleta especial ou a porcolhices similares. É claro que o excesso de peso não é seu maior problema, mas se juntam aos resultados que nunca vieram: duas vitórias em um certame de 36 corridas/ano é irrisório para um piloto de seu calibre, e ambas em mistos – o que significa dizer que Juan Pablo jamais venceu em circuito oval. OK, esteve muito perto, mas estar perto não é vencer. Ponto. Nenhuma operação com a grana que movimenta, por mais que admire seu funcionário, aguenta sobreviver se a eficiência e as metas não forem alcançadas. Montoya jamais terminou um campeonato da Nascar melhor que oitavo. Diria o outro que assim não pode, assim não dá. E Félix Sabates, um dos comandantes da operação, e o próprio Ganassi, sabem que não dá mais. Não houve o anúncio oficial, mas a ‘AP’ já cravou, o boato se espalhou, ninguém se preocupou em negar, e é por aí mesmo.
Montoya tem 37 anos e uma decisão a tomar, considerando que não deve passar por sua cabeça a hipótese de terminar a carreira: insistir na Nascar ou ver outro rumo.
Aos que ainda sonham com um retorno a alguma das fases anteriores, dois pontos: Montoya não quer saber da F1. E não que simplesmente dá de ombros: ele tem raiva e asco da F1. Juan Pablo não é das pessoas mais fáceis, afáveis e simpáticas do mundo, mas é interessante que sempre tenha se recusado a falar do seu ano e meio de McLaren, por exemplo. Jornalistas e amigos próximos sabem e avisam de antemão a quem tenta tirar dele alguma declaração bombástica de que não adianta. E sobre a Indy: Montoya mal cabe no carro.
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Q1: Não é de hoje que a presidente Neusa Batista Félix ambiciona ampliar as fronteiras da F-Truck e realizar provas nos EUA e no México. Mas diante do cenário do automobilismo brasileiro, a empresária estuda dar um salto ousado: transferir sua categoria para fora.
As etapas da F-Truck são as que mais recebem (os únicos, na realidade) público no Brasil e superlotam as arquibancadas. A questão é que apenas em Interlagos é possível fazer o evento completo — os demais autódromos não comportam. Levar a sede do campeonato dos caminhões de Santos para a América seria a saída.
Q2: É válido que a Stock Car traga pilotos internacionais ou renomados para algumas etapas, como Helio Castroneves, mas para isso é preciso um pouco mais do que boa vontade. Estrutura, por exemplo. Ou, ainda, responsabilidade: uma vistoria bem feita (foi feita mesmo?) já traria mais segurança aos pilotos.
Q3: Vettel – Alonso, Vettel – Räikkönen ou Alonso – Räikkönen, que dupla a F1 há de ver em 2014? O palpite segue na segunda, mas a excessiva preocupação da Ferrari em desmentir começa a apontar muito para a terceira…