Apoiada por CBA e Comissão, Fasp entra com petição no Ministério Público para evitar privatização de Interlagos

Líder da comissão Interlagos Hoje, Sergio Berti explicou ao GRANDE PRÊMIO que "a ficha caiu" e que está atuando junto com as entidades do automobilismo para que o prefeito João Doria Jr. prove como o espaço privatizado manteria suas atividades originais. Para Berti, se acontecer a desestatização, "o autódromo acaba"

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O futuro de Interlagos passa frontalmente pelo Projeto de Lei 01-00705/2017, que na prática significa o processo de privatização do complexo esportivo, do qual faz parte o Autódromo José Carlos Pace e o Kartódromo Ayrton Senna. O tema, tratado como prioritário pelo prefeito de São Paulo, João Doria, antes mesmo do início do seu mandato, não garante, porém, a manutenção das atividades esportivas em caso de venda do complexo. Diante de tal fato, a comissão Interlagos Hoje, liderada por Sergio Berti, em conjunto com a Fasp (Federação de Automobilismo de São Paulo), entrou com uma petição junto ao Ministério Público Estadual para questionar o processo de privatização de Interlagos. Durante o fim de semana do GP do Brasil, marcado por muitos problemas de segurança nas cercanias, o alcaide garantiu que a venda do complexo é irreversível.

 
Em comunicado emitido pela Fasp à imprensa, Berti afirma que “nós entendemos que as propostas apresentadas pelo prefeito João Doria Júnior carecem de fundamento básico: sua promessa de privatizar Interlagos e garantir a continuidade do uso para o qual o circuito foi construído não encontra respaldo legal. Uma vez tornado propriedade particular, não há lei que garanta isso”.
 
A petição entregue ao MPE destaca o Complexo de Interlagos como um espaço que vai muito além do autódromo e do kartódromo, mas sim um espaço que é importante área de lazer para a Zona Sul de São Paulo, capaz de oferecer condições para a prática de esportes e atividades variadas, além de ser um importante polo de gerador de empregos. O documento também ressalta que até pouco tempo mais de 3 mil alunos receberam formação técnica de alto nível na escola de mecânica localizada em Interlagos e, por agora, desativada.
 
O documento também é respaldado pela CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), entidade da qual Berti atua como diretor de corridas, e pela CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo). Sergio falou com exclusividade ao GRANDE PRÊMIO sobre os trabalhos da Comissão Interlagos Hoje e contestou a superficialidade do Projeto de Lei apresentado pela gestão do prefeito.
Sergio Berti é o líder da comissão Interlagos Hoje, que discute o futuro do complexo (Foto: Claudio Larangeira)
“Eu acho que a privatização não vai acontecer. Por alguns motivos: primeiro, porque o autódromo não vale o que o Doria diz que vale hoje, não é a realidade do terreno. Ele começou falando em R$ 3,2 bilhões; agora baixou para R$ 2 bilhões. E mesmo que o terreno valesse isso, ele está querendo vender com a condição de o comprador adquirir 1 milhão de m² e usar apenas 300 mil. Ele está garantindo que o esporte a motor vai permanecer lá, mas, obviamente, não existe um empresário bem-sucedido e inteligente que vai investir desta forma – essa é minha percepção", ponderou.

"Agora, pelo lado político, [a privatização] é possível porque existe uma Câmara Municipal com alguns vereadores com o maior interesse que ali haja uma maior expansão e exploração imobiliária. A maioria dos vereadores não tem ideia do que é Interlagos. Meia dúzia sabe que Interlagos tem outras atividades fora da F1, mas a maioria não tem a menor ideia. Então é uma ideia populista do Doria, porque a maioria acha que Interlagos é só a F1. Alguns dos vereadores têm interesse nessa ação populista”, declarou Sergio.

“A nossa ação é muito clara. Desde que o Doria venceu as eleições, ou mesmo antes de ele assumir, nós tivemos uma reunião na Câmara a convite do ‘Zuzinha’ (Mário Covas Neto) sobre isso. Nessa reunião, nós achávamos que o Zuzinha traria uma proposta efetiva do Doria, na linha: ‘Vou vender, mas vou manter desta forma’. Mas a partir daquela reunião, percebemos que, do nosso lado, os automobilistas de São Paulo não estavam coerentes com a reinvindicação. Teve gente que queria voltar com o circuito antigo, teve gente que queria voltar com a curva 3. E na verdade, num primeiro momento a intenção primeira é preservar o esporte a motor [em Interlagos], agregando também moto e kart", continuou.

 
Berti explica que, ao longo de 2017 teve audiências com vários vereadores e também com secretários como Wilson Poit, da Desestatização e Parcerias, e Milton Flávio, Secretário Especial de Ações Sociais. As reuniões, contudo, cessaram quando a regulamentação das atividades esportivas no complexo de Interlagos, em caso de privatização, seriam o tema da pauta. 
 
“Afinamos o discurso, encabeçamos a comissão Interlagos Hoje e começamos a participar das reuniões na Câmara com os vereadores e também com o secretariado. Tivemos uma reunião saudável com o (Wilson) Poit [Secretário de Desestatização e Parcerias da Prefeitura de São Paulo] e o Milton Flávio, à época Secretário de Gestão do Doria, e eles se comprometeram com a gente, numa mesa aberta, muito clara, de alto nível de discussão, a que, quando houvesse uma discussão sobre a privatização, nós participaríamos. Até que aconteceu, no fim de novembro, a primeira votação do projeto de lei que autoriza o Doria a vender o autódromo. Só que esse projeto de lei está muito simples. Alguns vereadores com quem temos contato nos ligaram e falaram sobre essa primeira votação. Mas precisávamos discutir como o esporte seria preservado por meio de datas, pelo menos o mesmo número de datas que tivemos anteriormente, e também que o aluguel não fosse tão caro, para não viabilizar o esporte. Estávamos esperando as audiências públicas para fazer essa regulamentação”, explicou.
 
“Me passaram que o Doria, querendo acelerar o processo, pediu ao presidente da Câmara, Milton Leite, fazer a segunda votação já no começo de dezembro. Foi aí que nós, da Interlagos Hoje, nos mobilizamos e fomos à Câmara. E aí tiraram da pauta. Vários vereadores, que viram nossa concentração lá, nos deram apoio, passando que pudéssemos ficar muito tranquilos, que jamais seria aceita uma segunda votação sem as audiências públicas. E aí pensei: como tenho acesso muito saudável ao Poit, ao secretário Milton Flávio, e tivemos aquela conversa sobre a regulamentação, entrei em contato com eles e falei o seguinte: nem precisamos ter as audiências públicas. Vamos regulamentar isso agora. A partir daquele momento, ninguém mais nos atendeu”, complementou o diretor de corridas.
 

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Daí em diante, Berti percebeu que a Interlagos Hoje teria de agir de forma diferente para buscar barrar a privatização. “Aí caiu a ficha da gente. E se eles não estão nos atendendo para fazer um processo simples, que é de regulamentar, é porque, ou eles não podem fazer o que prometeram, ou não querem. E aí começamos a estudar para entrar com uma petição junto ao Ministério Público. Falamos junto aos nossos advogados, e alguns deles foram muito claros nesse sentido: ‘Olha, Sergio, essa falácia do Doria de que vai manter o esporte a motor depois da venda de Interlagos é muito frágil. Não existe lei no mundo que obrigue o cara que comprou, o privado, a atender o público. E mesmo que ele faça uma lei municipal obrigando o comprador, este a derruba, porque o bem passa a ser privado e ele faz o que bem quiser. Ele só tem de respeitar a lei ambiental, mas o resto…”.

 
"Então pedimos à FASP – que é uma entidade, uma vez que não somos uma comissão constituída, apenas de usuários –, que acatou e entrou com uma petição junto ao Ministério Público pedindo, basicamente, que o Doria tem de provar de alguma forma que isso é possível, mas também que o autódromo volte às suas origens, que é atender à comunidade com as quadras, os campos, as salas de ginástica, a escola de mecânica. Ou seja, que é possível a venda, mas que o autódromo atenda à comunidade como um todo, além de atender aos automobilistas dentro do circuito”, comentou o líder da comissão Interlagos Hoje.
Petição questiona privatização de Interlagos junto ao Ministério Público Estadual (Divulgação: Interlagos Hoje)
 
Futuro sombrio
 
Berti entende que, caso a privatização vá adiante, Interlagos morre. “Se acontecer, a leitura que nós fazemos é que o autódromo acaba. De um jeito ou de outro, ele vai acabar. Penso que nós estamos garantidos enquanto houver o contrato com a F1, que vai até 2020”, aponta Berti, que questiona o principal argumento de Doria para vender Interlagos.
 
“O autódromo não dá prejuízo, como o Doria tem divulgado por aí. É o contrário. O que acontece é que tem de se dividir o autódromo em duas contas. Com a F1, essa conta não pode ser considerada um investimento no autódromo. Porque essa conta traz um retorno para a cidade de São Paulo. É o segundo maior evento da cidade, só perde para a Parada LGBT. É um investimento que não é feito no autódromo, porque não tem como retornar para o autódromo. Então, se separarmos do balancete do autódromo a F1, e considerarmos que o autódromo tem apenas nove meses no ano, dá lucro. A conta é muito simples: R$ 8 milhões de receita e R$ 6 milhões de despesas”, detalhou Sergio.

“Então imagine você que o particular, sem a F1, vai querer fazer outra coisa naquele espaço. E a Câmara Municipal também tem interesse de colocar obras lá dentro, junto com as empreiteiras, que mandam em São Paulo… então estamos aguardando o Ministério Público acatar ou não” , complementou.

Presidente da CBM diz: “Privatização de Interlagos seria perda irreparável”
 
O GRANDE PRÊMIO também ouviu o presidente da CBM (Confederação Brasileira de Motociclismo. Firmino Henrique Alves ressaltou a importância fundamental de Interlagos para a modalidade e deixou claro a sua posição e da entidade: totalmente contrária à privatização do complexo esportivo.
 
“Privatizar Interlagos significa perder a única praça esportiva para as pessoas que usam Interlagos para a prática do esporte. O prefeito tem de ter consciência de que da mesma forma que um atleta da natação precisa da piscina, o atleta do futebol precisa do campo de futebol, o atleta que pratica o esporte em circuito de autódromo ou motódromo, seja de carro, seja de moto, ele não precisa só do circuito para disputar competições. Ele precisa do circuito, do espaço, para praticar os treinos ou ele nunca vai conseguir ser um atleta de alto rendimento”, comentou o dirigente.
 
“Privatizando Interlagos, eu duvido que quem comprar vai praticar ― se não desmanchar a pista ― que vai praticar preços complacentes para que um atleta possa treinar, seja de carro, seja de moto. Ele tem de ter consciência disso. Aquilo é para fomentar o esporte. Foi feito para isso. Essa é a ideologia da fundação do autódromo de Interlagos”, acrescentou.
O presidente da CBM concorda com Berti e prevê a morte de Interlagos em caso de privatização (Foto: Johanes Duarte/Divulgação)
O presidente da CBM tem opinião semelhante a de Sergio Berti se Interlagos for vendido à iniciativa privada. “O impacto é só um: completamente negativo. É uma perda irreparável para o desporto sobre quatro e sobre duas rodas que utiliza de autódromo. Isso daí é muito ruim, é um retrocesso desportivo absurdo”, disparou Alves, que ressaltou a importância do complexo para desenvolvimento de competidores desde a sua base.
 
“Esporte a motor não significa só competições de alto nível como F1, Stock Car, Brasileiro de Motovelocidade. No esporte a motor, se você quer ter grandes campeões, se a gente quer ter um Alexandre Barros, você tem de começar a trabalhar na base. E a base são crianças. E uma criança você não faz num passe de mágica virar um Ayrton Senna, seja do carro, seja da moto. Ele requer muitos treinos e muitos anos de competições de base”, salientou.
 
“Você começa a treinar, a capacitar um atleta, com quatro, cinco, seis, oito anos, não importa, para lá com seus 20, 20 e poucos anos, você colher resultado a nível mundial. Então você subtrair, sem necessidade alguma, a praça de Interlagos desses atletas, você subtrai a possibilidade de todos esses atletas. De a gente não conseguir formar atletas para uma possibilidade de um ou dois ou dez ou cem deles terem a possibilidade ou chance, mesmo que mínima, de ser um campeão mundial ou até de ter uma expressão mundial”, encerrou Firmino.
 
Diante da petição impetrada pela Fasp, os próximos caminhos são a definição, por parte do Ministério Público Estadual, do promotor ou promotora, com competência apropriada para analisar a demanda e a provável consulta a órgãos públicos, que pode incluir a Câmara Municipal. Não está descartada a consulta a profissionais com conhecimento em urbanismo e esportes a motor. Segundo a Interlagos Hoje, não há prazo para que o promotor julgue procedente a petição. Em caso de deferimento, o Ministério Público Estadual vai instaurar ação judicial cabível para interditar a privatização do Complexo de Interlagos.
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