Petecof explica saída da Academia da Ferrari após 3 anos: “Não trazia benefício continuar”

Em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO, Gianluca Petecof contou por que decidiu recusar a oferta da Ferrari para seguir vinculado à Academia e sair de Maranello em 2021. O piloto de 18 anos também revelou o período de tensão nos bastidores da Prema durante a temporada da Fórmula Regional no ano passado e o favorecimento a Arthur Leclerc: “Sempre tem política”

A saída da Academia de Pilotos da Ferrari representa uma nova porta aberta para a sequência da carreira de Gianluca Petecof nas pistas. O piloto brasileiro, hoje com 18 anos, passou a fazer parte do programa de desenvolvimento de jovens talentos de Maranello desde o fim de 2017 e, impulsionado pelo patrocínio da Shell, disputou duas temporadas com a equipe Prema na F4 — correndo nas divisões Italiana e Alemã — e ficou com o título da Fórmula Regional Europeia no ano passado, sagrando-se campeão com quatro vitórias e 14 pódios. Em 1º de fevereiro, Petecof anunciou o fim do seu ciclo na Academia de Pilotos da Ferrari.

Mas como se deu o desfecho desta história? Gianluca falou com exclusividade ao GRANDE PRÊMIO e revelou ter recebido uma proposta para permanecer no projeto, mas que, nos moldes do que a Ferrari gostaria para 2021, não fazia sentido continuar, afirmou o piloto, que não vê o término da relação com a Scuderia relacionado ao fim da sua aliança duradoura com a Shell, que vigorou entre 2015 e 2020.

“Tinha uma negociação ocorrendo desde o fim do campeonato. Acho que não teve muito a ver com a Shell. Quando entrei na Academia, na verdade tive um convite para participar do processo de seleção em Maranello. Venci essa seleção e entrei na Academia, até mesmo como outros casos que vieram desse processo de seleção nos últimos anos”, explicou.

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Gianluca Petecof conquistou o título da Fórmula Regional Europeia em 2020 (Foto: Prema Powerteam)

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“Depois do fim do campeonato, do meu título, obviamente tinha o interesse das duas partes em continuar a parceria. Porém, foi feita uma oferta, da Ferrari para nós. Analisamos e, vindo de um título europeu num carro de F3, num nível que estou na minha carreira, a gente achou que a oportunidade que eles tinham oferecido não era a ideal. Fizemos uma contraoferta, e a mesma não foi aceita por eles. Então, a gente decidiu que não trazia benefício em nenhum momento continuar, e foi encerrada a parceria”, revelou Petecof.

O que fica, na esteira de três anos em que teve a chance de se desenvolver enquanto piloto e pessoa dentro da estrutura de Maranello, no entanto, é o sentimento de dever cumprido.

“Poder ter sido parte da história da Ferrari, fazer parte da Academia de Pilotos da equipe mais tradicional da história do esporte, ganhando tanto conhecimento e experiência, como disse, crescendo muito como piloto e como pessoa… Tendo vencido um título para eles na pista, no ano passado, devo muito a eles”, disse o piloto, de olho nos novos horizontes que estão por vir.

“Sou grato a eles por muita coisa. É um novo ciclo que se inicia. Foram três grandes temporadas, mas agora está na hora do futuro, colocar toda a minha energia no futuro e no que está vindo aí”, destacou.

“Sempre tem política”

A temporada 2020 colocou Gianluca Petecof diante de muitas facetas que fazem parte do universo do automobilismo. O piloto fez a transição da Fórmula 4 para a Fórmula Regional Europeia, teve de lidar com a paralisação inesperada em razão da pandemia, ganhou corridas, perdeu um patrocínio que o acompanhava há anos e lidou com a perspectiva até de não conseguir concluir o campeonato. Foi salvo por dois patrocinadores — Matrix Energia e AméricaNet —, conseguiu não apenas dar sequência à sua jornada na Fórmula Regional como também conquistou o título.

Mas além de tudo o que teve de lidar, o brasileiro conviveu de perto com o aspecto político do automobilismo ao enxergar em determinada fase do campeonato, da parte da Prema e da Ferrari, uma preferência a Arthur Leclerc, irmão de Charles Leclerc, um dos seus companheiros de equipe na Prema e adversário direito de Petecof na disputa pelo título, que ficou com o paulista.

“Acho que, bom… Posso falar com segurança que, dentro da pista, as situações e o jeito de lidar com os pilotos sempre foram muito semelhantes. Claro que, no fim do ano, acabei percebendo uma certa mudança muito drástica na performance. Vinha de uma sequência muito forte de corridas para iniciar o ano. E aí, de repente, tem uma etapa na chuva, que foi em Mugello, em que não só eu, mas todos os outros pilotos começam a ficar com diferenças absurdas para ele, 4s, 5s de diferença dele, uma diferença que não existe nas corridas, independente da condição”, explicou.

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Gianluca Petecof levou a melhor em disputa com Arthur Leclerc na Fórmula Regional Europeia em 2020 (Foto: Prema Powerteam)

Nesta rodada tripla, realizada entre 3 e 4 de outubro, Leclerc venceu as três corridas. Na primeira, com 10s214 de vantagem para Jüri Vips, o segundo colocado — Petecof foi o quarto, 24s atrás. Na segunda prova, o monegasco triunfou com margem ainda maior para o P2: 15s157 para Pierre-Louis Chovet, enquanto Petecof foi o terceiro, com 20s de atraso. Só na terceira e derradeira prova daquele fim de semana foi que Arthur teve uma vantagem mais apertada para o segundo colocado, fechando na frente com 1s237 para o brasileiro.

“Você vê em muitas categorias onde pilotos que estão disputando título e os pilotos do fundo do grid, em condições bem difíceis, diferenças que não passam de 2s, no máximo 2s5. Então, foi quando comecei a procurar entender um pouco mais o que estava acontecendo, e isso seguiu até o fim do ano”, comentou Gianluca.

“Teve uma etapa em Ímola em que não consegui classificar nem perto da frente do grid, muitas vezes até em Ímola, no começo do ano, em testes de pré-temporada, nas primeiras corridas do ano fiz cinco poles consecutivas. Isso sim, toda essa repetição de frustração, claro que fez uma diferença ali, mas consegui manter a cabeça no lugar e passar por cima de tudo isso para vencer o título”, declarou. No fim das contas, Petecof confirmou a conquista da taça com 359 pontos, contra 343 de Leclerc e do dinamarquês Oliver Rasmussen, também da Prema.

Mesmo com o título, Petecof viu Arthur Leclerc ser promovido pela equipe italiana da Fórmula Regional para a FIA Fórmula 3. Gianluca deixou a Prema e, pouco depois, a Academia da Ferrari.

Em tom de desabafo, Gianluca lembrou que os embates no automobilismo vão muito além dos confrontos na pista. “Sempre tem política, sempre tem muita coisa envolvida nos bastidores que às vezes as pessoas, do lado da frente, não conseguem enxergar”.

O piloto aproveitou para esclarecer uma polêmica que tomou conta das redes sociais. Afinal, o campeão da Fórmula Regional Europeia teria vaga garantida pela Prema para a temporada 2021?

“O que houve foi uma intenção de promover o campeão da Fórmula Regional para a F3, mas, claro, mediante a algumas condições. Tinha de ter o apoio financeiro devido e, claro, tudo tinha de ter sido feito com mais tempo. Nosso campeonato acabou muito tarde [em dezembro], enquanto o da F3 acabou muito cedo [em setembro]. Por isso que as negociações da F3 ocorreram mais rápido, e quando chegou na hora, a gente estava numa situação difícil financeiramente, e não consegui assinar contrato”, explicou.

“Claro que procuro lidar com o que aparece, situações diferentes, situações difíceis, e lidando com alguém relacionado a talvez uma das pessoas mais influentes na Ferrari agora, o Charles… Vejo tudo isso como energia, motivação para provar meu talento ali”, complementou.

Ao olhar para o que passou e como enfrentou e venceu 2020, Petecof se sente muito mais forte e maduro para lidar com o próximo desafio que está por vir na sua carreira.

“Vai ser um dos maiores benefícios, um dos maiores presentes, para o futuro da minha carreira foi ter tido a temporada 2020 desse jeito. Passei por tudo: dificuldade financeira com patrocinador, passei algumas situações um pouco mais de política dentro da Ferrari e dentro da equipe, enfim, em diferentes ambientes; passei por tudo o que aconteceu dentro da pista… Então, toda essa bagagem que adquiri estou trazendo muito desse ano para o futuro. E claro que o amadurecimento vem também. Tive um ano de 2019 bem difícil também, onde aprendi muito, mas o tanto que pude amadurecer e aprender em 2020 foi de muito valor”, finalizou Gianluca Petecof.

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