Campeão mundial e do fair play, Gonçalves fez história com atitude no Dakar

Campeão do Mundial de Cross-Country e do Rali dos Sertões, Paulo Gonçalves morreu nesta manhã de domingo (12) enquanto realizava novamente o sonho de disputar o Dakar, o primeiro na Arábia Saudita. O luso de 40 anos deixa uma história vitoriosa e marcada também pelo cavalheirismo com uma história emocionante no maior rali do mundo

Há exatos 15 anos e um dia, o motociclismo mundial perdia um dos seus grandes nomes. Fabrizio Meoni, italiano de 47 anos e dono dos títulos do Dakar de 2001 e 2002, morria vítima de um grave acidente durante a 11ª etapa da prova em 2005, entre Atar e Kiffa, na Mauritânia. O piloto ocupava a segunda posição geral da prova, atrás de Cyril Despres. Quis o destino que, nesta manhã de domingo (12), outro grande campeão perdesse a vida no maior rali do mundo. O luso Paulo Gonçalves, de 40 anos, partiu deixando uma história vitoriosa e de cavalheirismo no esporte.

 
Em 2012, na época em que o Dakar era disputado na América do Sul, Gonçalves era um dos protagonistas da prova, ao lado de nomes como Despres e Marc Coma — hoje navegador de Fernando Alonso na disputa dos carros. Durante a oitava etapa da prova, entre Copiapó e Antofagasta, no coração do Atacama, no Chile, Despres ficou atolado no barro e teve dificuldades para se levantar e seguir na prova. Gonçalves passou perto, decidiu voltar atrás e ajudar o colega.
 
No entanto, o gesto fez com que o luso também ficasse atolado. Só que depois de se livrar da lama, Despres partiu para a sequência da prova, deixando aquele que o havia salvado atolado no meio do deserto.
Paulo Gonçalves marcou época no Dakar como piloto da Honda (Foto: Honda)
No ano seguinte, Gonçalves alcançou a glória na melhor fase da carreira ao conquistar o título do Mundial de Cross-Country promovido pela FIM (Federação Internacional de Motociclismo). Ainda em 2013, fez novamente história ao ser campeão do Rali dos Sertões, a principal prova do cross-country do Brasil e da América do Sul. Em 2015, Gonçalves alcançou sua melhor campanha no Dakar e terminou como vice-campeão.
 
Em 2016, Gonçalves fez novamente história pelo seu fair play. O piloto, que havia chegado a ocupar a liderança geral do Dakar mas, durante a etapa entre Uyuni, na Bolívia, e Salta, na Argentina, enquanto acelerava para tentar manter a dianteira da prova, viu um adversário caído da moto: Matthias Walkner, da KTM, um dos grandes adversários na luta pelo título.
 
 
Em situações assim, a organização do Dakar costuma devolver o tempo que o piloto gasta para socorrer outro adversário, e foi o que aconteceu com Gonçalves. "Fiz aquilo que me competia, ao contrário acredito que fizessem o mesmo por mim”, escreveu. “O Dakar é uma aventura de muito risco, de muito sacrifício, damos tudo por tudo ao longo de vários dias, milhares de quilômetros, e o risco está sempre à espreita”, apontou o piloto à época, em declaração veiculada em entrevista coletiva.
Paulo Gonçalves sai de cena como um grande esportista (Foto: Honda)
“Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros”, frisou. “A nossa vida vale mais que qualquer vitória, sem ela não vencemos!”, garantiu.
 
Em uma declaração divulgada pela assessoria de imprensa da Honda, Gonçalves classificou o socorro a Walkner como “uma situação normal”. “Hoje eu encontrei Walkner, que tinha caído, então eu parei. Foi uma situação normal de Dakar: você ajuda quando necessário”, minimizou. “Fiquei com ele até que pudessem vir resgatá-lo e aí continuei cuidadosamente”, completou.  Três dias depois, o luso sofreu uma forte queda e abandonou a prova depois de ter sofrido um traumatismo craniano. 
 
No último sábado, um dia antes de perder a vida, Gonçalves fez um balanço da sua primeira semana no Dakar. “Uma semana de altos e baixos. Comecei o rali de forma regular. Infelizmente, no terceiro dia, tive um problema mecânico que quase me colocou fora da corrida. Consegui resolver e continuei na corrida. A partir deste dia o objetivo foi alterado, obviamente”.
 
“Sem conseguir um bom resultado final, passei a tentar disputar cada dia como se fosse uma corrida nova. Consegui bons resultados até o momento. Consegui ser quarto numa etapa, oitavo e décimo”, completou o luso, que parte de vez para a história como um dos grandes nomes do rali pelo que fez nas trilhas e também pela sua atitude como grande esportista.

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