Coluna Power Stage: a ascensão do Brasil no Mundial de Rali Cross Country
O triunfo de Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin na primeira etapa do Mundial, na Itália, fez história e marcou época no automobilismo brasileiro. A conquista deve impulsionar a presença de mais pilotos e navegadores neste importante certame da FIA
O rali cross-country brasileiro vive um momento bastante interessante. O país, que tem no Rali dos Sertões sua principal competição na modalidade — uma das principais do mundo, inclusive —, finalmente começa a colher, lá fora, os frutos de um forte trabalho feito por aqui ao longo de décadas. Em termos de resultados, a grande prova está nas boas performances de duplas brasileiras, como Guilherme Spinelli e Youssef Haddad, Marcos Moraes e Du Sachs e Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin.
Varela e Gugelmin fizeram e continuam fazendo história. O duo conquistou o título do Mundial de Cross Country na classe T2 [voltada para carros de produção] no ano passado. E na abertura da temporada 2013, em 14 de março, o conjunto conquistou um resultado igualmente histórico. Reinaldo e Gustavo foram os primeiros brasileiros a conquistarem uma etapa do Mundial na principal classe, a T1, destinada a protótipos, no Italian Baja. Para coroar a grande fase do Brasil naquele fim de semana no norte da bela Itália, Moraes e Sachs, correndo na T2, também conquistaram a vitória na etapa.
O triunfo de Varela e Gugelmin foi maiúsculo em vários sentidos. Primeiro, pela própria vitória em si. Acredito que eles foram os primeiros brasileiros a conquistarem uma vitória em uma etapa de Mundial chancelado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) neste ano.
Na esteira desse sucesso brasileiro, Spinelli e Haddad, que há tempos formam a melhor dupla nacional no Dakar, vão deixar ainda mais forte a esquadra tupiniquim. Neste fim de semana, os competidores da Mitsubishi embarcam rumo a Abu Dhabi para disputar a prova a partir do próximo dia 4. O Abu Dhabi Desert Challenge é uma das principais provas de cross country do mundo e compreende, como o nome diz, um desafio pelo deserto.
A passagem por várias dunas foi, sem dúvida, a principal razão para Spinelli e Haddad viajarem ao Oriente Médio, já que a prova é parte inicial de uma preparação visando o Rali dos Sertões e também o Dakar de 2014. A dupla vai competir com o ASX, que já passou por testes no começo do mês em Le Creusot, lá na França, acompanhado pelo experientíssimo engenheiro Thierry Viardot.
A inscrição de Spinelli e Haddad no rol dos competidores do Mundial de Cross Country apenas sublinha a importância cada vez maior que esta competição tem por aqui. Trata-se de um calendário bem completo e que compreende provas no deserto, como em Abu Dhabi, Catar e o tradicional Rali dos Faraós, no Egito, como provas com terreno um pouco mais familiar aos brasileiros, como o Baja Espanha, Baja Polonia e o Portalegre [em Portugal, ora pois], além do próprio Italian Baja, que abriu a temporada.
Além disso, esse momento novo do automobilismo brasileiro no cross country evidencia que há um trabalho muito sério por aqui neste sentido. É só olhar, por exemplo, o altíssimo nível do grid do Brasileiro de Rali Cross Country e do Sertões, por exemplo, isso analisando várias classes que compreendem a prova. Para ficar apenas nos carros, é possível apontar, pelo menos, uns dez grandes pilotos capazes de fazer bonito não só aqui, mas lá fora também.
Mas para que pilotos e navegadores cheguem ao Rali dos Sertões e, talvez, ao Mundial de Cross Country e o Dakar, existe um longo trabalho de base e de preparação. E boa parte desse trabalho é realizado pelos competidores na Mitsubishi Cup, apontada por quase todos eles como o principal certame de preparação para provas maiores. Para citar alguns exemplos, Varela e Gugelmin já correram na Cup, assim como Marcos Baumgart e Kleber Cincea, que fizeram suas respectivas estreias no Dakar deste ano.
Não sei se é possível traçar um paralelo com o que acontece no Brasil hoje em relação aos monopostos. A F3 dá sinais de que finalmente vai vingar neste ano, mas é fato também que a ascensão de novos valores é um grande problema, é só ver que são poucos os brasileiros em categorias de base como F-Renault, GP2 e World Series. Indy Lights e GP3, por exemplo, não tem nenhum piloto nacional. Tudo fruto de uma base capenga, deficiente.
No rali as coisas são diferentes porque o perfil dos pilotos e navegadores é diferente; são raríssimos os que vivem disso, é uma outra realidade. Mas também é preciso ter uma base para aperfeiçoar a pilotagem e também a navegação antes de sair desbravando o mundo em busca de vitórias e títulos. E nessa base, feita toda aqui no Brasil, é que a modalidade se sustenta e se renova constantemente.
O rali cross-country, que cresce a passos largos, acaba dando um exemplo para o automobilismo brasileiro como um todo. Para vencer, é preciso se reinventar, se renovar. E renovar é sempre preciso.
Falta pouco
O RN 1500 terá sua 16ª edição disputada neste ano. A prova, marcada para os dias 13 e 14 de abril, será disputada entre Natal, Currais Novos, Mossoró e São Miguel do Gostoso e será válida pela segunda etapa do Brasileiro de Cross Country. A disputa será realizada nos carros, caminhões, motos, quadriciclos e UTVs.
Robert Kubica impressionou em sua estreia como piloto da Citroën no Europeu de Rali, na etapa das Ilhas Canárias. Não fosse pelo acidente (grave) no segundo dia de prova, o polonês poderia mesmo ter chegado à vitória, até com certa facilidade. Cometeu um erro, o que é normal para um novato. Mas Kubica no rali promete demais.
Jan Kopecky aproveitou o abandono de Kubica e venceu bem a etapa das Ilhas Canárias. Assim, o tcheco da Skoda agora soma 76 pontos na liderança do campeonato. Daniel Oliveira, único brasileiro presente no Rali das Ilhas Canárias, abandonou a prova, mas se mostrou otimista para o futuro na temporada. A próxima etapa será disputada nos Açores, em Portugal, entre 25 e 27 de abril.
No último 22 de março, morreu o navegador Alessandro Fabricio. Administrador de empresas e desbravador de fronteiras, o paulista, que disputou várias vezes o Sertões e a Mitsubishi Cup, era bastante querido por todos os que acompanham o rali brasileiro.
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