Coluna Power Stage: Merci, Loeb!

De ginasta, passando a eletricista e, depois, nove vezes campeão mundial de rali. Antes de deixar o WRC, Sébastien Loeb fez história mais uma vez e se colocou ao lado de grandes mitos do automobilismo em todos os tempos

Eneacampeão. Palavrinha que soa estranha, até porque raramente é dita ou escrita por aí. São pouquíssimos os atletas capazes de ostentar tal alcunha. Mas seu significado é gigante. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove. Nove campeonatos conquistados. Imagino que, em qualquer tipo de competição, até mesmo de caráter local, seja extremamente difícil um atleta chegar a tal marca. Quando se trata de um campeonato mundial, o feito é para poucos. Para heróis. Lembro apenas de um atleta que chegou (e superou, até) tal feito: Kelly Slater, que pode chegar, neste ano, a 12 títulos mundiais na primeira divisão do surfe — o WCT.

Mas somente Sébastien Loeb, no Mundial de Rali, o WRC, alcançou nove campeonatos de maneira consecutiva, entre 2004 e 2012. Rei, mestre, melhor de todos os tempos, lenda viva, mito… Seb carrega consigo vários adjetivos; todos, com imensa justiça.

É provável que em sua infância, quando foi ginasta — seu pai foi treinador da seleção francesa de ginástica artística —, e, anos mais tarde, quando exerceu a função de eletricista, jamais tenha sonhado que um dia estaria no rol dos maiores nomes da história do esporte a motor, ao lado de outros tantos multicampeões. Gente do calibre de Michael Schumacher e Juan Manuel Fangio na F1, Valentino Rossi na MotoGP, Stéphane Peterhansel no Dakar, Jimmie Johnson na Nascar… verdadeiros fenômenos que entraram para a posteridade como os melhores de suas épocas, talvez os melhores de todas as épocas.

Loeb inicia seu adeus ao WRC saindo por cima, como o maior de todos os tempos (Foto: Citroën/Facebook)

A conquista do seu nono título mundial aconteceu em casa, na França, na semana passada. A forma como se deu essa conquista é que surpreende um pouco, ou não. Perto do fim da carreira, Loeb exibiu o máximo de competitividade e motivação. Mesmo sendo muito superior a todos os seus adversários, Seb seguiu com ‘sangue nos olhos’ e disposto a ganhar sempre, com aquela disposição do faminto atrás de um prato de comida. Com motivação e muito talento e incrivelmente no auge da forma, Loeb é insuperável, intransponível, praticamente imbatível.

Privilégio de quem pôde vê-lo competindo, seja ao vivo, seja na TV, seja nos vídeos no YouTube. Embora haja certa tendência à nostalgia — pela maneira de achar que tudo antigamente era melhor —, fato é que esta época talvez seja uma das melhores da história para o esporte a motor. Privilégio é poder assistir Michael Schumacher, Sébastien Loeb, Valentino Rossi, Stéphane Peterhansel e poder contar para os filhos ou netos que estivemos diante dos maiores de todos os tempos.

Loeb avisou que sai de cena, não de maneira definitiva, mas aos poucos, em 2013. Presença certa no Rali de Monte Carlo, prova que abre a temporada do WRC, em janeiro, faltando ainda definir as três ou quatro etapas que Seb vai competir ao longo do próximo ano. Certamente, sem o maior de todos os tempos competindo contra os ‘mortais’, haverá um equilíbrio muito grande. Impossível prever quem será o favorito na próxima temporada: tem a Volkswagen, com Sébastien Ogier e um projeto sério, a Ford, que deseja se tornar novamente vencedora, e claro, a Citroën, com Mikko Hirvonen e, muito provavelmente, Dani Sordo.

Seu destino está diretamente ligado aos carros de turismo e, indiretamente, à crise econômica que assombra a Europa. A Citroën, marca que apostou em seu talento e acertou na mosca, planeja entrar no WTCC, o Mundial de Carros de Turismo. Loeb, no entanto, já tem uma equipe no Endurance, e seria muito legal se ele decidisse correr novamente nas 24 Horas de Le Mans. Sinceramente, acho o WTCC pequeno demais para a grandeza de Loeb.

Pela nona vez, Loeb faturou o título mundial de rali. Seb é uma das lendas do esporte (Foto: Citroën/Facebook)

Mas seria ainda mais legal se Loeb seguisse os passos de outro campeão mundial, Carlos Sainz, e disputasse o Dakar em um futuro próximo, emparelhando com seu compatriota Peterhansel. Não tenho dúvidas que, após alguns anos de adaptação e muito treinamento, Loeb, assim como Sainz, lutaria sempre por títulos naquele que é o maior e mais importante rali cross-country do planeta. Mas seu futuro, contudo, ainda é um enorme ponto de interrogação.

Alguns poderão dizer que a saída de Loeb será, no fim das contas, boa para o WRC, principalmente para o equilíbrio da categoria. Discordo. Nada melhor para um esporte do que ter o melhor do mundo competindo, quebrando recordes e sendo a grande referência para os demais. A F1 não ficou mais chata por causa dos ‘anos de ouro’ de Schumacher e da Ferrari, tampouco a MotoGP, quando Rossi era dominante. Loeb, claro, fará muita falta. Muita, mesmo.

Eu, como amante do automobilismo e do rali, apenas digo o que muitos, ao redor do mundo, gostariam de dizer: obrigado, Loeb!


Nas trilhas do mundo

– Não é só Sébastien Loeb que vai deixar (aos poucos) o WRC. Bronze olímpico no tiro skeet em Londres, Nasser Al-Attiyah deixará a Citroën, que, a partir de 2013, será patrocinado pelo governo de Abu Dhabi e terá Khalid Al-Qassimi como terceiro piloto;

– O foco de Nasser estará na disputa do Dakar 2013 — deverá correr com um buggy de equipe própria — e também no Mundial de Cross-Country, privilegiando as etapas disputadas no Oriente Médio;

– Outro que também pode deixar o WRC no fim do ano é Paulo Nobre, o Palmeirinha. Isso porque a Mini decidiu se retirar do Mundial de Rali como equipe oficial no fim desta temporada. Entretanto, Palmeirinha já disse que deve dar um tempo nas competições se for eleito presidente do Palmeiras, seu amado clube;

Após o quarto lugar na T2 no Egito, Reinado Varela e Gustavo Gugelmin lutam pelo título em Portugal (Foto: Beepress/GIU)

– Da velocidade para o cross-country. O Egito recebeu o tradicional Rali dos Faraós, penúltima etapa do Mundial de Cross-Country. Uma competição duríssima, realizada durante seis dias pelas areias do deserto, e com participação do duo brasileiro Reinaldo Varela-Gustavo Gugelmin;

– Varela e Gugelmin, que lutam pelo título mundial da classe T2, terminaram o Rali dos Faraós em quarto na categoria com um Mitsubishi Pajero. A vitória ficou com o japonês Jun Mitsuhashi que, em parceria com o francês Alain Guehennec, triunfou com um Toyota VD J200. Na classificação geral da prova, vitória da Mini X-Raid, com Khalifa Al-Mutaiwei e Andreas Schulz;

– Varela e Gugelmin estão em segundo no Mundial, com 121 pontos, atrás dos árabes Yahya Al-Helei e Khalid Alkendi, que somam 146. A decisão do título será em Portugal, o Baja Portalegre, entre os dias 1º e 2 de novembro;

– Também no continente africano, mas no Marrocos, vai começar na segunda-feira (15) a principal prévia do Dakar. O Rali do Marrocos terá a participação de grandes nomes do rali cross-country mundial. Nas motos, Marc Coma, Cyril Després, Paulo Gonçalves estão entre os inscritos. A prova marca a estreia da Honda como equipe oficial, que terá pilotos como Hélder Rodrigues e o brasileiro Felipe Zanol;

– Haverá presença brasileira também nos carros. Guilherme Spinelli e Youssef Haddad embarcam para a África para disputar a prova com o Mitsubishi Lancer de numeral 309. Será a primeira competição da dupla depois do segundo lugar no Rali dos Sertões;

– Stéphane Peterhansel não corre desta vez, e o principal nome da X-Raid no Marrocos será Krzysztof Holowczyc, que competirá ao lado do luso Filipe Palmeiro;

– Recuperado de uma fratura na costela, lesão que o tirou do Rali dos Sertões quando lutava pela vitória com Zanol, Jean Azevedo, ainda com dores, se mandou para Copiapó, no coração do Deserto do Atacama, no Chile, para iniciar sua preparação para o Dakar com a KTM 450 Rally.

Nas trilhas do Brasil

– Entre 29 e 30 de setembro foi disputado o Rali de Atibaia, dividido em duas etapas — quinta e sexta —, válidas pelo Campeonato Brasileiro de Rali de Velocidade — e também pelo Campeonato Paulista. A prova, bastante elogiada, principalmente por sua organização e também pela escolha do percurso, teve a mesma dupla vencedora nos dois dias de prova: Maurício Neves e KZ Morales, com Peugeot XRC, carro que vai se afirmando como a grande força do rali de velocidade no Brasil;

Neves e Morales mostram a força do XRC no Rali de Atibaia (Foto: Junior Almeida)

– O chicote também vai estralar em Taubaté, interior de São Paulo, com a disputa do Rali dos Bandeirantes, etapa válida pelo Brasileiro de Rali Cross-Country neste sábado, 13 de outubro. Estarão em jogo as competições de carros e caminhões. A prova terá a participação de muitos pilotos e navegadores que estiveram no Rali dos Sertões, em agosto;

– Londrina recebeu, em 22 de setembro, a sexta etapa da Mitsubishi Cup. Etapa que garantiu por antecipação o título de Marcelo Mendes na L200 Triton ER Master. Na Pajero TR4 ER, caneco para Rafael Cassol e seu navegador, Lelio Vieira. E na Pajero TR4 R, o grito de campeão é de Dimitris Rusezyk Junior e Giulian Telma;

– Na categoria principal, a L200 Triton RS, Marcos Cassol e Luiz Felipe Eckel venceram em Londrina. Mas a disputa pelo título vai para a última etapa, em Poços de Caldas, e será um duelo em família. Lembrando o Super Prime do Rali dos Sertões, Marcos Baumgart e seu irmão, Cristian, estão separados por apenas um ponto (204 a 203) e vão definir o título no próximo dia 27;

– O Grande Prêmio fará a cobertura ‘in loco’ da última e decisiva etapa da Mitsubishi Cup em 2012.

Rally Food

Hoje o protagonista do Rally Food não poderia ser outro: Sébastien Loeb, com uma foto para a posteridade.

Antes do nono título mundial, Loeb capricha no rango na França (Foto: Citroën/Facebook)

 

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